Sertão entristecido

Violas e violeiros choram a morte do tocador e compositor Téo Azevedo

Adriana Queiroz
Publicado em 13/05/2024 às 19:00.
Em noite da Academia Montes-Clarense de Letras, a médica e escritora Mara Narciso, o escritor e historiador Wanderlino Arruda, Teo Azevedo e a jornalista Adriana Queiroz (MARA NARCISO/ARQUIVO PESSOAL)

Em noite da Academia Montes-Clarense de Letras, a médica e escritora Mara Narciso, o escritor e historiador Wanderlino Arruda, Teo Azevedo e a jornalista Adriana Queiroz (MARA NARCISO/ARQUIVO PESSOAL)

Na madrugada do último sábado (11), a cultura norte-mineira lamentou a perda de Teófilo Azevedo Filho, conhecido como Téo Azevedo, aos 80 anos. Téo era pesquisador, historiador, tocador e compositor, sendo um dos filhos mais ilustres da região. Ele detinha o título de autor brasileiro vivo com o maior número de músicas gravadas e também foi vencedor do Grammy Latino. Seu corpo foi velado em Montes Claros, reunindo amigos, autoridades e familiares no domingo (12), antes de ser levado para sua terra natal, Alto Belo, distrito de Bocaiuva, onde uma missa foi celebrada na igreja de São José. Uma multidão compareceu para prestar suas homenagens por meio de canções, cordéis e orações.

Em 2023, Téo Azevedo recebeu o título de Doutor Honoris Causa concedido pela Unimontes, pelo seu valioso trabalho em prol da valorização e difusão da cultura, da arte e do conhecimento, especialmente, das nossas tradições, como a Folia de Reis. Era membro efetivo da Academia Montes-Clarense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros.

Para o escritor, poeta, artista plástico, Wanderlino Arruda, a cultura brasileira está de luto. “Téo Azevedo, considerado uma das maiores expressões da cultura popular do país. São mais de 2,5 mil músicas gravadas, cerca de três mil trabalhos e mil histórias de cordel escritas, além de doze livros lançados. Téo também se notabilizou pela luta em defesa da “música de raiz” e da natureza, tendo levantado a voz pela preservação do pequizeiro, o fruto símbolo do Cerrado”, diz.

Segundo a escritora, Mara Narciso, a morte é fonte inspiradora da humildade, mas, para Téo Azevedo, todos os motivos eram fonte de inspiração, um compositor com uma imensidão de criações. “Um tema, um verso, era acompanhado por uma fieira de complementos, gerando, com aparente facilidade, poemas habilmente musicados por ele e cantarolados Brasil afora. Nasceu para a música e para ser cantador. Foi descobridor de talentos e não hesitava em fazer parcerias com gente de todo o país. Dava a impressão de ter uma caixinha em algum local do cérebro com tudo prontinho para sair. Ele próprio, nos últimos tempos, vinha produzindo textos em que destacava sua trajetória musical”, comentou. 

Mara Narciso conta que, já doente, mas com uma capacidade de trabalho tenaz, Téo Azevedo pedia a sua esposa Lola Chaves que omitisse seus males, até mesmo dos amigos, assim, há algum tempo passava dias no hospital, e poucos ficavam sabendo. 

“Bastava melhorar que já comparecia às reuniões da Academia Montes-Clarense de Letras, agremiação na qual entramos juntos no dia 13 de setembro de 2018. Em sua posse, enquanto os acadêmicos fazem discurso sobre seu patrono, Téo Azevedo falou a biografia de Hermenegildo Chaves em versos”, disse.

ESTRELA CATRUMANA
O escritor Itaumary Teles lamentou a morte do amigo e confrade da Academia Montes-Clarense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros — “Tive a honra de apadrinhá-lo e dar posse a ele nas duas entidades, quando ocupei as presidências. Téo Azevedo, este Menestrel Sertanejo, é daqueles gênios notáveis que raramente surgem, mas deixam sua marca indelével por onde passam. Por isso mesmo, suas centenas de composições musicais e dezenas de publicações literárias o deixam imortalizado nos corações e mentes daqueles que aprenderam a admirar sua arte”. 

Raquel Muniz, médica e reitora do Centro Universitário Funorte, disse que perdeu um grande amigo. “Para nós, Téo Azevedo não era só o artista norte-mineiro de fama nacional e internacional, o Rei de Alto Belo, o ganhador do Grammy Latino de Música e tantos outros atributos que fizeram dele uma referência na cultura do Brasil que ultrapassou fronteiras. Téo era um amigo que sempre ligava, tinha histórias para contar e repentes para cantar. Quando fui presidente da Cultura na Câmara Federal, eu o levei para se apresentar no Congresso. Um momento inesquecível. Téo encantou a todos com seu talento. Vira e mexe me enviava ‘repentes’ sobre minha vida, escritos com a alma. Sinto a dor de mais um amigo que ‘ficou encantando’. Perde a cultura sertaneja, a mineira e a do Brasil”, relata.
 
LEGADO
Entre os cantores que gravaram as suas criações estão Sérgio Reis, Milionário & José Rico, Zé Ramalho, Genival Lacerda, Zeca Pagodinho, Jair Rodrigues, Pena Branca & Xavantinho, Tonico & Tinoco, Caju & Castanha e dupla Cristian & Ralf. Conviveu e firmou parcerias com Sérgio Reis, Zé Ramalho e Luiz Gonzaga, entre outros. Em 2013, ganhou o cobiçado prêmio Grammy Latino com “Salve Gonzagão — 100 anos”, na categoria melhor álbum de raiz.

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