Gissele Niza
Repórter
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Equipes da polícia civil de Montes Claros estouraram na manhã de ontem, quarta-feira, uma casa localizada na Rua Pedro Geraldo, 333, Alto São João, que funcionaria como uma clínica clandestina de abortos. Foram presas duas mulheres acusadas de serem responsáveis pela morte da universitária Maria Gislaine de Souza, 21 anos, no dia 05 de março deste ano.
Maria e Sabrina, mãe e filha, mantiveram cliente presa após aborto que resultou em morte
(foto: Wilson Medeiros)
Maria de Melo Santana, 49 anos, e sua filha Sabrina Melo Silva, 24, que já estão no cadeião à disposição da justiça, foram presas em casa por equipes das delegacias de repressão aos crimes contra a pessoa e de repressão aos crimes contra mulheres, durante operação especial para cumprimento de mandados de prisão preventiva e busca e apreensão, expedidos pelo juiz Marcos Antônio Ferreira, no dia 13 do mês passado.
APRENSSÕES
Na casa onde funcionaria a clínica clandestina foram apreendidos: quatro potes de alumínio com ervas secas; um ferro encapado, que seria utilizado na prática de abortos; três pomadas vaginais e cinco aplicadores; duas ataduras; um saco plástico sujo de sangue; um pequeno vidro com substância preta que, segundo a polícia, pode ser chumbinho, veneno que mata uma pessoa em menos de 40 minutos e tem comercialização proibida; uma bolsa térmica de cor marrom; um pedaço de madeira; dois cadernos com anotações e uma agenda, que pode conter informações das vítimas que praticaram abortos; e um pedaço de cabelo para aplique.
O delegado Giovani Siervi diz a O Norte que o material apreendido na casa das mulheres aponta que realmente funcionava ali uma clínica de abortos, mas que as suspeitas só poderão ser confirmadas após perícia técnica, e a conclusão do inquérito.
MORTE
As investigações que levaram à prisão das mulheres acusadas de prática de aborto e homicídio apontam que:
- Maria Gislaine de Souza, universitária do curso Normal Superior da Unipac, natural de Grão Mogol, que estava em Montes Claros trabalhando como doméstica para estudar, teria procurado a casa de Maria de Melo Santana no dia 25 de fevereiro deste ano, para fazer um aborto;
A prática do crime teria tido complicações, motivo que levou Maria de Melo a manter Gislaine em sua casa por oito dias, até as 10 horas do dia 04 de março, quando percebeu o estado grave de saúde da universitária;
Gislaine foi levada à Santa Casa por Sabrina de Melo, que foi até a casa onde a vítima trabalhava, se apresentou como sua amiga e pediu os documentos necessários para apresentar ao hospital, e assinou a ficha da paciente, que foi internada por volta do meio dia, por problemas na gravidez;
No dia seguinte, 05, às 7h50, Gislane faleceu.
A causa da morte relatada no atestado de óbito é septsemia generalizada, originária de gravidez interrompida e infecção.
DESESPERO
Ainda de acordo com as investigações, quando ficou grávida, Gislaine teria ficado desesperada e, com medo da reação da família, teria pago R$ 400 pelo aborto, sendo que R$ 300 era o salário do mês que ganhava como doméstica e R$ 100 teria conseguido com a venda dos próprios cabelos, em um salão especializado da cidade.
CRIME DE AÇÃO PÚBLICA
O Norte procurou os advogados que entraram com a representação, a pedido da família de Gislaine, contra as mulheres acusadas da prática do crime de ação pública, aborto, que levou à morte da universitária, Cantídio Dias de Freitas e João Racine de Freitas.
De acordo com os advogados, logo depois do óbito de Gislaine, seus pais e familiares fizeram levantamento prévio de todos os passos da universitária antes de falecer e chegaram as acusadas Maria de Melo e sua filha Sabrina.
Ainda segundo os advogados, a família chegou aos nomes das acusadas porque Gislaine teria anotado em um caderno o nome, endereço e telefone das pessoas que teria que procurar para praticar o aborto.
As informações apuradas pela família mostram que Gislaine foi forçada a ficar na casa de Maria de Melo, após a prática do crime, e somente foi retirada quando as acusadas perceberam que a universitária corria risco de morte.
DEPOIMENTOS
Maria de Melo e sua filha Sabrina negaram no depoimento ao delegado Giovani Siervi a prática do crime e a responsabilidade sobre a morte da universitária.
De acordo com o delegado Giovani Sierve, que ouvirá nos próximos dias os parentes da universitária e testemunhas, se confirmada a responsabilidade de Maria de Melo Santana e sua filha na prática de abortos, as acusadas poderão responder processo por homicídio doloso, com intenção de matar e pena prevista de 6 a 32 anos de reclusão, e por aborto, com pena prevista de 1 a 4 anos.
EXTRA-OFICIAIS
Informações extra-oficiais que chegaram à redação dão conta de que a casa de Maria de Melo é conhecida pela vizinhança do Bairro Alto São João como uma clínica de abortos e é freqüentada por muitas mulheres.