
Um levantamento feito pelo Sebrae Minas em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), divulgado ontem, mostra que seis a cada dez empreendedores do Estado não faturam o suficiente para pagar as contas de casa.
E o impacto da crise econômica desencadeada pela pandemia do novo coronavírus, no segmento dos micro e pequenos, não para por aí: segundo os dados, 74% dos donos de negócios em Minas têm a atividade empresarial como principal fonte de renda, mas 78% do total de entrevistados ainda registram queda no faturamento mensal em relação ao período pré-pandemia.
A pesquisa ouviu 627 microempreendedores individuais (MEI) e proprietários de micro e pequenas empresas entre 27 de maio e 1º de junho. De acordo com o estudo, com as vendas menores, o número de empreendedores endividados também subiu, saltando de 31% para 35% entre fevereiro e maio.
Segundo o superintendente do Sebrae Minas, Afonso Maria Rocha, é preciso ampliar o acesso ao crédito aos pequenos empreendedores até que o volume de vendas volte à normalidade, o que é esperado que ocorra com a elevação dos atuais índices de vacinação.
“Os pequenos negócios ainda não conseguiram recuperar o faturamento anterior à pandemia, mesmo com a reabertura gradual das atividades em todo o Estado e o avanço do segmento na adoção de estratégias das vendas-online. É preciso garantir ao empreendedor o suporte gerencial necessário para que o empréstimo seja, de fato, uma solução para suas necessidades, e não um novo problema”, afirma Rocha.
SEM DINHEIRO
A forte crise econômica tem feito com que os sonhos de muitos pequenos empreendedores naufraguem em meio a incertezas. A maquiadora Ana Paula Nunes, de 45 anos, que, desde 2019, tem em um ateliê de maquiagem a principal fonte de renda, está no grupo dos que praticamente não dão mais conta de tocar a vida só com o próprio negócio.
Com a chegada da pandemia, ela conta que viu as clientes – noivas e formandas, em sua maioria – simplesmente desaparecerem.
“O faturamento caiu 70% com a fuga da clientela e hoje o que entra aqui não dá para pagar sequer as despesas do meu ateliê”, lamenta a maquiadora.
Caixas da casa e da empresa separados
Em meio à maior crise econômica do século, a receita de separar as contas da empresa das despesas pessoais e familiares tem sido uma tarefa cada vez mais difícil para quem está à frente do próprio negócio.
Com faturamentos menores e boletos acumulados, empreendedores acabam comprometendo a saúde financeira do ganha-pão para honrar dívidas domésticas.
Para a analista do Sebrae-Minas Gabriela Martinez, é necessário ter muito critério e disciplina para fazer as retiradas da empresa. “Sabemos que nesse contexto de pandemia fica mais complicado não fazer retiradas maiores, porque existem as necessidades de casa que precisam ser supridas”, diz ela.
“Mas é preciso anotar tudo muito certinho, ter o máximo de controle possível para não gerar dificuldades no fluxo de caixa da empresa e provocar um problema que pode ser fatal para a fonte de renda da pessoa”, explica.
O empresário Marcos Vinícius Chiari, de 39 anos, dono de uma padaria no Centro de BH havia cinco anos, perdeu 75% do faturamento após o início da pandemia e isso, na opinião dele, foi o grande motivo do naufrágio do sonho da família. Sem ter como pagar os funcionários e ainda as contas em casa, fechou as portas do empreendimento.
“Tentamos resistir porque achamos que isso não iria passar de outubro de 2020, mas não deu. Perdemos carros e hoje tenho que morar com a minha mãe, cheio de dívidas e contando com o apoio da família para me reerguer”, lamenta o empresário.