VARIEDADES

Sítios arqueológicos: a pré-história na Cordilheira do Espinhaço

Manoel Freitas
Publicado em 27/10/2023 às 21:48.
Pinturas rupestres da Lapa do Bugre: arte ancestral nas rochas da Cordilheira do Espinhaço (Manoel Freitas)

Pinturas rupestres da Lapa do Bugre: arte ancestral nas rochas da Cordilheira do Espinhaço (Manoel Freitas)

Nesse sábado (29), O NORTE veicula a quarta edição da série especial sobre o circuito Cordilheira do Espinhaço, uma das novas apostas do turismo nacional. Iniciativa apoiada pelo Sebrae, composta pelos municípios de Botumirim, Cristália, Itacambira, Turmalina, Olhos D’Água, Bocaiúva, Montes Claros e Grão Mogol, que finaliza no domingo (30), o 20º Congresso Brasileiro de Ecoturismo e Turismo de Aventura. 

Para celebrar a data, um mergulho nos sítios arqueológicos de Botumirim, com área de 1.568,88 km², especialmente na Lapa do Bugre, Parque Estadual de Botumirim, que guarda encrustado em suas rochas vestígios da Pré-História nessa que é única cordilheira do Brasil. Na verdade, um dos sítios arqueológicos mais preservados e significativos do país, com destaque ao “Veado de Pintas”, que retrata ao que se sabe espécie de veado provavelmente extinta.

Aliás, em seus 36.188 hectares e entorno, o Parque Estadual de Botumirim abriga em seus paredões mais de 50 sítios arqueológicos, consolidando o Brasil como maior riqueza arqueológica da América Latina e uma das maiores concentrações de pinturas rupestres do mundo. Entretanto, apesar do seu potencial turístico e sua importância para a memória da história da humanidade, a maioria dos brasileiros sequer sabe que existem. 

Sítios milenares tão significativos que vários foram tombados como Patrimônio Histórico Municipal junto ao Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA). E, na sequência, quando da análise e definição da área do Parque Estadual de Botumirim, esses vestígios de ocupação humana foram fundamentais para determinar a dimensão do território, ou seja, várias áreas passaram a fazer parte da unidade de conservação em função do peso da arqueologia, de sua existência, de seu mapeamento. 
 
ACERVO HISTÓRICO E ARQUEOLÓGICO DE BOTUMIRIM
Para falar sobre o valor dos sítios dessa porção do Espinhaço Setentrional, posto que a arqueologia é considerada área de patrimônio com possibilidade de obtenção de enorme quantidade de informações sobre práticas, valores e estruturas das sociedades antigas, O NORTE ouviu na quinta-feira (26) o espeleólogo e consultor ambiental Eduardo Gomes, fundador do Instituto Grande Sertão (IGS), um dos responsáveis pela criação do Parque Estadual de Botumirim. 

Para Eduardo, que participou dos primeiros estudos técnicos para determinar o acervo histórico e arqueológico de Botumirim, quando foi elaborado o projeto de construção da Usina de Irapé, “desde então sua enorme dimensão já tinha sido parcialmente mensurada, mapeada”. Explicou que, na época, o estudo foi conduzido pelo professor Carlos Magno Guimarães, doutor em História Social da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com especialização em Arqueologia e mestrado em Ciência Política, que revelou mais de 50 sítios arqueológicos na região, em sua maioria em Botumirim. 

“Sítios arqueológicos de qualidade, é bom destacar, tanto registro de pinturas, painéis rupestres, como – igualmente - de identificação de artefatos líticos e cerâmicos”, disse o consultor. Explicou que posteriormente, entre 1999 e 2004, com a execução do Projeto de Desenvolvimento Turístico de Base Local (Proturismo), levantamento feito pelo Instituto Grande Sertão (IGS) e Prefeitura de Botumirim, resultou na identificação e registro fotográfico de dezenas de outros sítios arqueológicos.

Revelou que, coincidentemente, até a área onde foi redescoberta em 2015 a Rolinha-do-planalto, uma das aves mais raras do mundo, entrou no território do Parque Estadual de Botumirim pelo critério de sítios arqueológicos, porque existem vários nos limites e entorno da Reserva Natural Rolinha do Planalto. “Dentro da reserva particular tem, por exemplo, o Sítio Arqueológico da Onça, ou Lapa da Onça, de modo que tem registros de sítios de enorme relevância”, observou. 

A perplexidade da primeira vez
No dia 16 de setembro, O NORTE registrou a visitação da Lapa do Bugre pelo ambientalista Fred Crema, membro da Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura (Abeta), especializado em projetos de fomento a economia do turismo, consultor internacional para elaboração de projetos de desenvolvimento de destinos turísticos. 

Entretanto, com tanta estrada, percorrida em 32 países, ao chegar à Lapa do Bugre, com alto nível de conservação, a exemplo dos turistas que visitam o sítio não escondeu sua perplexidade e mesmo assombro: “conheço pinturas rupestres em todo o Brasil, mas confesso que superou todas as expectativas, não desconhecia sítio arqueológico com pinturas tão impressionantes”, confessa o também guia de turismo, pedagógico e ecológico. 

“Para mim foi uma experiência espetacular, explorar todo esse rico patrimônio arqueológico que agrega valor à beleza cênica do Parque Estadual de Botumirim”, prosseguiu Fred Crema. 

E nem poderia ser de outra forma: a Lapa do Bugre, na Vereda da Estiva, é importantíssima do ponto de vista da representatividade de animais, de plantas, e de seres humanos (antropomorfos). Tanto é verdade que, naturalmente, passou a fazer parte da unidade de conservação, para sua proteção e estudo. 

E olha que, com certeza, existem muito mais sítios arqueológicos na região visitada, até porque os levantamentos feitos ao longo dos anos foram limitados em face das áreas de acesso, de modo que têm ainda regiões mais ermas, mais isoladas, com grande potencial. Daí, por sinal, a convicção de Eduardo Gomes, fundador do IGS, “de que muita coisa ainda vai ser descoberta e agregada a esse patrimônio tão importante do Parque Estadual criado em 2018 em Botumirim”.

Compartilhar
Logotipo O NorteLogotipo O Norte
E-MAIL:jornalismo@onorte.net
ENDEREÇO:Rua Justino CâmaraCentro - Montes Claros - MGCEP: 39400-010
O Norte© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por