Legado cinematográfico

Sete anos sem Bertolucci: relembre suas obras-primas

Elpídio Rocha*
elpidiorochaneto@gmail.com
Publicado em 28/11/2025 às 19:00.
Filmografia de Bertolucci é marcada por estética densa e reflexões políticas e históricas (Mubi/Divulgação)
Filmografia de Bertolucci é marcada por estética densa e reflexões políticas e históricas (Mubi/Divulgação)

Considerado um dos mestres do cinema mundial, o italiano Bernardo Bertolucci faleceu no dia 26 de novembro de 2018, marcando, atualmente, sete anos de sua morte. E como o número 7 tem uma aura mítica e mística, é a oportunidade para relembrar a trajetória do cineasta destacando alguns filmes premiados, polêmicos e reconhecidos. 

A filmografia do diretor é caracterizada por obras que trazem uma reflexão política e histórica associada a uma abordagem fortemente estética: as cenas são marcadas por composições visuais densas, uso evidente de luz e sombra na construção das imagens, movimentos de câmera elegantes e bem planejados. Destacam-se, ainda, os conflitos internos dos personagens (desejos reprimidos, culpa e busca da identidade) envolvidos em importantes momentos históricos e a presença efetiva do erotismo e da sexualidade como instrumentos da condição humana – o que provocou (e provoca) discussões sobre os limites éticos da arte.

“O Conformista” (1970) adapta o romance de Alberto Moravia e traz a história de Marcello Clerici, que ascende social e economicamente junto com o fascismo italiano a partir de 1938. Clerici se adapta muito bem aos novos tempos e reflete a alienação interesseira daqueles que compactuam com o poder buscando benefícios e privilégios. Visualmente marcante, a fotografia de Vittorio Storaro trabalha a relação das cores com os sentimentos e ações dos personagens reforçando a abordagem sobre identidade e moral que Bertolucci expõe e discute. 

Vencedor de nove prêmios no Oscar, incluindo filme, direção, roteiro adaptado e fotografia, “O Último Imperador” (1987) é a biografia do monarca chinês Pu Yi desde a coroação ainda criança até sua queda e reeducação sob o regime comunista. Entre o épico e o intimista, a narrativa equilibra fatos históricos, artimanhas políticas e a vida pessoal do protagonista oferecendo uma produção que pode, facilmente, ser classificada como obra-prima fílmica. Já “Os Sonhadores” (2003) parte do fervor revolucionário do Maio de 1968, em Paris, para revelar as relações de amizade e desejo entre Matthew, estudante estadunidense, e os gêmeos franceses Isabelle e Theo; aqui o idealismo rebelde juvenil leva ao questionamento das normas tradicionais de comportamento e à busca pela liberdade sexual. Enfim, dois filmes em que a história e a intimidade se equilibram em tramas autorais e de alta qualidade.

Em 1972, o cineasta provocou rebuliço e polêmica com “Último Tango em Paris”, drama erótico que retrata o relacionamento anônimo, existencialista e sexualmente ativo entre Jeanne, uma jovem parisiense, e Paul, um viúvo norte-americano. Nesta obra de intensa qualidade, a exposição íntima e o jogo de poder entre os personagens ultrapassaram os limites cinematográficos e marcaram a atriz Maria Schneider, que, aos 19 anos, foi vítima de abuso psicológico e moral pelo diretor e pelo ator Marlon Brando. É um filme que precisa ser considerado ao debater as fronteiras éticas e de gênero na criação artística. 

Afirmando que “filmar é viver, e viver é filmar”, Bernardo Bertolucci evidencia a sua dedicação ao cinema trabalhando as conexões entre história, individualidade, desejo e ética em suas obras. Sua filmografia permanece como reflexo da época em que os filmes foram realizados e como importante estímulo às discussões sobre a sétima arte. 
 
*Crítico de cinema, jornalista e colaborador do O Norte

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