Gissele Niza
Repórter
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A ação conjunta de uma equipe especializada no combate a seqüestros das polícias civis de São Paulo e Montes Claros resultou na prisão de um dos acusados de seqüestrar o empresário turco Mohamed El Bacha, 44 anos, na cidade de São Bernardo do Campo, São Paulo, no último dia 03 de outubro.
Newton Marques, 69 anos, natural de Borda da Mata, em Minas Gerais, acusado de ser o mentor do seqüestro do empresário e autor dos crimes de extorsão e seqüestro seguidos de assassinato, foi preso na cidade de Indaiabira, a 349 km de Moc, na madrugada de ontem, em uma caverna inacessível até para o trânsito de cavalos, junto com a amásia Amélia (apelido) e de duas crianças, uma de 5 meses, filha de Newton, e outra de 6 anos, filha de outro parceiro de Amélia.
NEGOCIADOR PRESO
As investigações sobre o seqüestro de Mohamed tiveram início na noite do mesmo dia do seqüestro, pela equipe especializada no combate de seqüestro de São Paulo.
Durante as investigações, foi preso Gilberto João Mota, 49 anos, que foi o negociador do seqüestro com a família, através de ligações telefônicas e bilhetes.
Segundo o delegado Fabiano Fonseca, a confirmação de que Gilberto era o negociador do seqüestro foi realizada através de provas materiais, a partir dos manuscritos de próprio punho que foram entregues à família de Mohamed durante a operação de pagamento de resgate, comprovados por exame grafotécnico e o reconhecimento de voz através da elaboração do laudo de exame espectográfico.
- Gilberto confessou a participação no seqüestro. O próximo passo é confirmar, através de provas materiais, que Newton era o mentor intelectual do crime e se existem mais pessoas envolvidas – informou o delegado.
CONIVENTE?
A amásia de Newton não foi apresentada à polícia civil de Moc porque, segundo o delegado Fabiano Fonseca, ela é suspeita de estar envolvida no crime e segue amanhã para São Paulo, onde será ouvida. Junto com Amélia segue a criança de 5 meses, que ainda está amamentando. Segundo Fabiano, se for comprovado o envolvimento de Amélia, ela será presa junto com a criança, pois ainda é lactante.
- Ainda não temos nada de concreto de que Amélia tenha sido conivente com o crime. Ela será ouvida em São Paulo e continuaremos as investigações até que todos os responsáveis pelo crime sejam punidos. Estamos colecionando uma série de autos de prova que indicam que Newton foi mesmo o mentor intelectual do crime, mas devemos reservar as informações, para não comprometer as investigações, que são todas pautadas em ordens judiciais – afirma Fonseca.
A família de Amélia é de Indaiabira.
HOMEM FRIO E PERIGOSO
Descrito pelos policiais como homem muito perigoso e suspeito de ser pistoleiro do jogo do bicho paulista, em contínua luta por áreas de atuação, Newton já cumpriu 20 anos de prisão em São Paulo, por homicídio e seqüestro, além de ser autor de um assassinato múltiplo, quando matou quatro pessoas.
Segundo o delegado responsável pelas investigações, Kazuyoshi Kawamoto, na ficha de Newton existem, além de várias tentativas, outros homicídios concretizados.
- As tentativas de homicídio somam mais de meia dúzia, sem contar os homicídios. Newton é uma pessoa muito fria e não há dúvidas, baseado nas provas materiais concretas que estamos juntando nos autos, de que ele estava envolvido no seqüestro – afirma Kawamoto.
CONFISSÃO
Kazuyoshi Kawamoto diz ainda que Newton havia confessado que o empresário turco, vítima do seqüestro, está morto.
- Ele confessou que matou e botou fogo na vítima. Newton segue amanhã (hoje) para São Paulo, onde será ouvido e, através de suas informações, vamos fazer uma apuração rigorosa, para tentar localizar o corpo de Mohamed – completa o delegado Kawamoto.
O SEQÜESTRO
O empresário Mohamed El Bacha foi seqüestrado no dia 03 de outubro do ano passado, por volta das 19h30, após fechar sua loja de material esportivo. As últimas pessoas a verem o empresário foram seus funcionários. Como de costume, Mohamed ia para a casa todos os dias a pé e sempre passava em uma padaria para tomar café e conversar com os amigos.
Na noite do dia 03, a família de Mohamed recebeu um telefonema avisando que o empresário tinha sido seqüestrado e sua liberdade custaria um milhão e meio de dólares.
Segundo Fabiano Fonseca, por volta das 21 horas do mesmo dia, a família registrou o boletim de ocorrência e foram iniciadas as investigações.
Depois de muitas negociações através de telefone intermediadas por Gilberto, que ameaçava matar o empresário, a família entrou em acordo com os seqüestradores, para pagar o valor de R$ 125 mil em dinheiro pela liberdade de Mohamed.
Foi marcada a operação de pagamento do resgate entre a família e os seqüestradores, mas ninguém apareceu para buscar o dinheiro e a família não teve mais notícia do empresário.
Segundo Fabiano, os seqüestradores chantageavam a família de todas as formas para pagar o resgate.
– Eles ameaçavam que se a imprensa divulgasse o seqüestro ou a família contatasse a polícia, eles matariam Mohamed no mesmo momento. Mas no dia da operação de pagamento do resgate ninguém apareceu, todo o valor negociado foi entregue no mesmo local combinado, mas, por medo de serem presos, os seqüestradores não resgataram a quantia de R$ 125 mil – informa Fabiano.
A PRISÃO
Os homens da polícia civil de São Paulo estavam em Montes Claros desde a última terça-feira, para investigar o paradeiro de Newton Marques. Na madrugada de ontem, sexta-feira, por volta das 03 horas, os policiais chegaram até a caverna onde Newton estava com a amásia e as crianças há mais de uma semana.
- Newton e sua amásia estavam no município de Indaiabira desde o dia 13 de janeiro. O lugar em que foi efetuada a prisão é inacessível até para o trânsito de cavalos, tivemos que fazer rapel para chegar lá – observa o delegado.
O delegado Fabiano Fonseca afirma que o apoio da equipe da PC de Moc foi imprescindível para o sucesso da operação.
- Só temos que agradecer e aplaudir o apoio da polícia civil de Montes Claros, que realizou um trabalho brilhante junto com nossa equipe e foi imprescindível para o sucesso da operação – afirma o delegado.
Participaram das investigações no Norte de Minas os policiais civis da delegacia regional de Moc: André Guida, Cássio Murilo, Gilberto Pires e Rogério Mendonça. À frente da equipe da PC de São Paulo estavam o delegado Kazuyoshi Kawamoto, o delegado Fabiano Fonseca e os investigadores Jayme, Carlos e Mauro.