Dia 9 de julho entra para a história do catolicismo no Norte de Minas. Nessa data, foi celebrada a instalação canônica do Santuário Arquidiocesano Senhor do Bonfim, padroeiro de Bocaiúva, distante 378 km da capital mineira. Portando, no mês em que completou 135 anos, o município passa a ser o primeiro lugar em toda a região consagrado pela religião.
A celebração histórica ocorre 303 anos após a chegada da imagem do Senhor Crucificado em terras pertencentes a Dona Antônia Leite Ferreira, doados à Igreja Católica em gratidão a dois milagres que teriam ocorrido na localidade: 15,4 milhões de metros quadrados, originando o povoado do Senhor do Bonfim. A partir de então, de acordo com a herança oral, tiveram início as romarias à capela do Senhor do Bonfim, erguida no século XVIII.
Tanto é verdade, que os primeiros relatos da festa de seu padroeiro são de 1842. Desse tempo, até os dias atuais, cada vez mais recebe multidão de fieis no mês de julho, com novenas preparatórias, procissões, carreatas, missas campais, batizados, terços marianos e terços da misericórdia. Um espetáculo de fé com rezas, penitências e demonstrações de devoção que transcendem as paredes do Santuário.
O primeiro Santuário da Arquidiocese de Montes Claros, com 112 anos de existência, foi instalado por dom José Carlos de Souza Campos, Quarto Arcebispo Metropolitano. Presidiu a missa de criação do Santuário, centro de evangelização, com enorme desafio, o de estruturá-lo para receber um número maior ainda de romeiros e peregrinos que mantém viva há três séculos a veneração ao Senhor do Bonfim.
TEMPLO SAGRADO
Dom José Carlos de Souza Campos tomou posse como arcebispo Metropolitano de Montes Claros no dia 19 de fevereiro, em substituição a João Justino de Medeiros Silva, razão pela qual foi protelada para o dia 9 de julho a instalação canônica do Santuário Arquidiocesano Senhor do Bonfim, que só ocorreu durante os festejos do padroeiro. Segundo sua assessoria de imprensa, “a missão desse nosso primeiro Santuário Arquidiocesano é de fato ser um centro forte, sobretudo de espiritualidade litúrgica”.
No modo de entender do arcebispo, “o Santuário é um templo sagrado para toda a Arquidiocese, um lugar precioso e bendito onde se celebra a Eucaristia, o sacramento da Confissão, a adoração ao Santíssimo Sacramento”. Dom José Carlos disse ter percebido em Bocaiúva “um amor e uma piedade muito grandes, de modo que se Jesus é de fato o centro da fé, o ponto central da nossa experiência religiosa, então podemos dizer que ali, naquele Santuário, se vê de fato um amor grande a Jesus”.
O padre Alan Sávio Veloso, pároco do Santuário Arquidiocesano Senhor do Bonfim, disse a O NORTE que “a elevação é um momento de gratidão, tempo de crescimento, de forma que veremos, pouco a pouco, a espiritualidade devocional ao Senhor do Bonfim ser algo não de ano em ano”. Argumentou que “isso fará do Santuário lugar de profunda adoração, um lugar santo, que só crescerá em fé”.
Senhor do Bonfim, espetáculo de fé
A criação do Santuário Arquidiocesano Senhor do Bonfim foi um dia histórico para a Arquidiocese de Montes Claros. Entretanto, sobretudo por se tratar de uma data muito especial, contou com o trabalho de uma verdadeira legião de fieis. O NORTE foi a campo para ouvir a voz desses religiosos.
A coordenadora da Pastoral da Acolhida, Marilza Maria de Brito, conhecida como Têla, desde 2010 recebe os fieis na porta da igreja, fala de humildade, caridade, paciência, “tudo com alegria, porque somos uma igreja viva e o Santuário é uma imensidão, um espetáculo de fé, bênção para a cidade, local de devoção e milagres”. Diz ter certeza que “vai ser um local de devoção, de grandes milagres, onde vamos presenciar cada vez mais a espiritualidade e devoção”. Têla, por sinal, foi uma das devotas que testemunhou na igreja no dia 14: “eu e minha filha fomos curadas, porque embora muitos não acreditem, a fé cura, liberta, salva, porque a igreja é minha fortaleza, meu refúgio, então pedi, Senhor do Bonfim, cuida de mim!”.
A professora Lucélia Pereira, mestra do Terno de Catopês de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, a primeira mulher no cargo em quatro gerações, se orgulha de o terno fazer parte do Santuário. “Já era um santuário não declarado, pelo número incontável de bênçãos, de modo que não é um momento de alegria só de Bocaiúva, mas para todos que reconhecem no Senhor do Bomfim o padroeiro, aquele que beneficia em graça e misericórdia”.
Segundo Lucélia, “dia a dia aprendemos a trabalhar o santuário gente, santuário coração, daí porque ele merece esse reconhecimento devido a tantas graças recebidas ao longo da história, porque aqui tem grandes sinais visíveis da graça do Senhor do Bonfim, de fieis de todo o Brasil e do mundo, elas se estendem”.
Consagração da história de um povo
Professor e historiador com 13 livros publicados, Roberto Ribeiro de Andrade dedica parte do seu tempo ao estudo das principais datas de Bocaiúva, onde na atualidade preside o Ponto de Cultura. “Bocaiúva teve dois eventos importantíssimos, ambos vieram do céu, primeiro, o eclipse de 1947, quando a cidade ficou conhecida mundialmente; e, agora, a criação do Santuário”.
Frisou que “o santuário é muito importante porque consagra a história que o povo conta, porque Bocaiúva foi fundada pela fé e solidariedade de sua gente. Da fé, porque ocorreram dois milagres em 1720; e da solidariedade, porque a dona da terra onde ocorreram os milagres doou para o Senhor do Bonfim suas propriedades”. Então, foi construída em terras doadas para a então diocese de Montes Claros.
Adiantou que a comunidade acionou a Promotoria Pública “para que a área onde aconteceu o primeiro milagre passe a ser o memorial de Bocaiúva, que será o início do caminho dos romeiros, com término no largo do Santuário, porque na verdade há mais de 300 anos, em 1720, esse foi o caminho construído pelo Senhor do Bonfim, ou seja, na estrada que vinha de Diamantina em direção às fazendas de Montes Claros, passando por Terra Branca e Bocaiúva”.
Na opinião de Cilene Fernanda Ribeiro Prates, coordenadora dos músicos do Santuário, a cidade foi escolhida. “É uma alegria enorme a elevação, porque a cidade é toda envolvida nessa devoção. E ficam perguntas: por que Deus escolheu Bocaiúva, por que faço parte dessa geração?” E responde: “porque Deus é bom, porque nós somos pecadores e falhos”!