Alma catopê

Raquel Muniz realiza sonho de menina ao se tornar festeira do Divino

Adriana Queiroz
Publicado em 18/08/2023 às 19:23.
Raquel Muniz e o saudoso Mestre Zanza (Arquivo Pessoal)

Raquel Muniz e o saudoso Mestre Zanza (Arquivo Pessoal)

A pedagoga, médica e reitora da Funorte, Raquel Muniz, tem raízes profundas no bairro Morrinhos, em Montes Claros. Sua ligação com o bairro remonta aos tempos de infância, quando ela cresceu na tranquila Rua Santa Efigênia, justamente ao lado da escolinha que viria a se transformar, anos mais tarde, na renomada Associação dos Catopês, Marujos e Caboclinhos. A história de Raquel com os catopês é antiga, estabelecida desde o momento de seu nascimento. 

“Nasci de parteira, no mês de julho, próximo aos catopés. Com certeza, ouvindo os cantos e as danças dos catopês, que ensaiavam no mês que antecede as Festas de Agosto. Acompanhei desde criança os festejos durante todos os dias”, diz.

A ligação que começou antes mesmo do seu nascimento, seguiu vida afora. Mesmo tendo se mudado do Morrinhos, Raquel sempre carrega na alma o batuque que ouvia ainda dentro do ventre materno. Por isso, quando tomou posse como deputada federal, levou junto o capacete de catopê.

“Muitos achavam que eu não deveria usar o capacete na posse, mas o capacete, mais que símbolo de uma festa, representa a minha essência norte-mineira, que me elegeu para trabalhar pra eles lá. Por isso, enverguei o meu capacete orgulhosamente”, relembra.

FAMÍLIA ZANZA
A relação com a família do saudoso Mestre Zanza também é desde a infância, já que eram vizinhos de sua mãe, Dona Elza Queiroz. A vizinhança permitiu que ela acompanhasse bem pertinho ensaios e toda a trajetória da associação e dos que guardam a história. Mas nunca conseguiu sair vestida de princesa pelas ruas. Por isso, ao receber o convite para ser a Festeira do Divino em 2023, Raquel viu a oportunidade de realizar o sonho da infância. “Que menina nunca sonhou ser rainha, imperatriz, lendo os contos de fadas? Eu que acompanhava as festas, que vivia todo aquele clima, sonhava ainda mais...Como festeira do Divino neste ano, escolhi crianças como eu, do meu bairro, para ser imperador e imperatriz do Divino. É a realização de um sonho através deles”, revela.

O sentimento de hoje, da festeira, se mistura ao da menina de ontem, que sonha em ser princesa; combustível para ela planejar a festa em todos os detalhes, mas, sobretudo, para incluir a comunidade que é guardiã das Festas de Agosto, nos festejos. Ela quer colocar nas ruas um cortejo lindo, à altura da história que representam os marujos, caboclinhos e catopés. “Fiz questão de recebê-los, abrir as portas da minha casa, abraçá-los, em uma festa linda e jamais vista – isso é fala deles. Meu sentimento é, portanto, de gratidão, de realização por ter correspondido como festeira do Império do Divino”, conta.

Império do Divino
Sobre o cortejo, Raquel conta que o desfile será de forma inusitada, respeitando a tradição, mas com todo conforto para todos que participarão da festa.

“Vou receber em nossa ‘casa do centro’, antes de começar o desfile, como todos os anos faço, com café da manhã saudável para os dançantes e o cortejo. Para que todos possam estar bem alimentados e hidratados para conseguir enfrentar o sol e os ventos de agosto. Teremos também a banda do Exército neste ano, a parceria com o Café Letícia e com Astral Pães, para servimos aquele cafezinho quentinho, um pãozinho com queijo Minas. Espero todos. Não só os dançantes, mas todos que se concentram na praça”, convida.

Depois do café reforçado, o momento mágico, pelo qual todos aguardam: percorrer as ruas da cidade, levando história, tradição e fé. Cada detalhe foi cuidadosamente pensado, elaborado para que a festa seja memorável, incluindo a apresentação do imperador e imperatriz, que este ano, virão de uma forma inusitada. Ela faz questão de frisar que tudo tem o aval da Associação e não haverá qualquer descaracterização da festa.

Outro destaque no cortejo é a homenagem ao educador, político, antropólogo e escritor brasileiro Darcy Ribeiro.

“Nosso querido Darcy Ribeiro – que teve o centenário dele agora – foi escolhido também, adulto, como imperador do Divino. Por isso, está sendo lembrado nesse desfile. A nossa escola, o Impar participará – já que trabalho com educação – faço questão de que todos os anos, os alunos recebam os desfiles dentro da própria escola, se fantasiem e também venham para as ruas durante o cortejo como príncipes e princesas, fazendo com que o desfile fique maravilhoso”, conta.

Reinado eternizado
Raquel lembra que a festa do Divino não acontece só em Montes Claros, mas na cidade vizinha Francisco Sá, onde também trabalha.

“O pessoal lá também faz o desfile, a procissão. Tudo isso, vamos trazer para Montes Claros. Essa participação das cidades do entorno abrilhantará a nossa festa, as roupas produzidas em Montes Claros e Francisco Sá, os enfeites produzidos pela professora Katiusca.... Enfim, estamos nos empenhando bastante para esse dia que seja inesquecível”, diz.

Após o desfile, haverá a missa e, em seguida, uma recepção a todos no Colégio Indyu, no centro da cidade para um almoço, regado a muitas frutas do cerrado, numa grande confraternização.

“Teremos uma grande confraternização com todos, muita música e este reinado será eternizado. Foi um sonho de criança que estou conseguindo realizar na maturidade. Será com certeza, a maior festa já vista”, conta.
 
CÉU DE FITAS
Raquel se diz feliz com a realização do sonho e também, por saber, que a grandeza das Festas de Agosto vai ganhar o mundo através da Escola de Samba Acadêmicos de Niterói, que decidiu levar os catopês para a Sapucaí, na maior festa do planeta, que é o carnaval do Rio de Janeiro. Ela acredita que a energia que receberam aqui, já que membros da escola vieram acompanhar de perto os cortejos, vão ser um amuleto importante para a escola, na busca pelo título de campeão.

“Estou feliz em ser a festeira no momento em que o tema da Escola de Samba Acadêmicos de Niterói escolhe trabalhar essa temática. Estou muito feliz. Ver essas duas festas lindas que são as Festas de Agosto e o Carnaval desfilar no Sambódromo criado pelo montes-clarense Darcy Ribeiro é de emocionar. Já estou me preparando para entrar na Sapucaí ano que vem, com a escola, com a comunidade dos catopês... No mais, só gratidão por estar vivendo este sonho, e gratidão a todos que estão ajudando a realizar esse sonho, desde os nossos vizinhos do bairro Morrinhos e os que vêm de fora para acompanhar os festejos”, se emociona.

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