Já está na cadeia pública de Montes Claros, à disposição da justiça, o taxista José Ferreira Bastos, 48 anos, acusado de tentar matar a ex-mulher, Patrícia Pereira Gonçalves, 21, com sete tiros, sendo seis deles disparados contra a cabeça da vítima, na última sexta-feira, 10.
José Ferreira foi preso na manhã de quinta-feira, 16, no Bairro Alterosa da cidade de Betim, região metropolitana de Belo Horizonte, durante cumprimento de mandado de prisão expedido pelo juiz da Vara de execuções penais de Moc Marcos Antônio Ferreira.
José Ferreira diz estar arrependido e que queria apenas
reatar o relacionamento com a ex., ao lado a arma do crime
O acusado foi transferido para Moc escoltado por agentes da polícia civil de Betim, sob o comando do delegado de homicídios daquela cidade, João Bosco Rodrigues.
ARMA DO CRIME
José Ferreira chegou à cidade por volta das 14 horas e seguiu, junto com os policiais civis de Betim e Moc, para o distrito de São João da Vereda, onde a arma do crime estaria escondida.
Apontado o local pelo acusado, os policiais civis localizaram e apreenderam o revólver de calibre 32 utilizado no crime, juntamente com três cartuchos intactos.
A arma estava escondida em um saco plástico em meio a um bananal localizado na comunidade de Mato Seco, a 40 quilômetros de Moc.
EFICIÊNCIA DA ARMA
O delegado de homicídios Giovani Siervi disse a O Norte que será feito um exame de eficiência da arma, um exame de composição física do projétil, para que seja revelado se realmente os projéteis não perfuraram o crânio de Patrícia por má conservação, e uma micro comparação balística para, entre os projéteis retirados da cabeça de Patrícia e de José Ferreira, com a arma, para verificar se realmente o projétil que está alojado na cabeça do acusado saiu da mesma arma dos que estão alojados na cabeça de sua ex-mulher.
O delegado informou ainda que José Ferreira será indiciado por tentativa de homicídio qualificado e, se condenado, pode pegar de 6 a 20 anos de prisão, sendo que a pena pode ser reduzida em um terço ou um sexto.
CONFISSÃO
Durante depoimento na delegacia de repressão aos crimes contra pessoas de Moc, José Ferreira confessou ter disparado os tiros contra a ex-mulher.
Segundo o delegado Giovani Siervi, titular da delegacia de homicídios, o acusado disse em depoimento que teria ido à casa de Patrícia para tentar reatar o relacionamento e pedir para que, juntos, cuidassem da filha de 11 meses, pois logo após a separação, ele teria pego a guarda da filha, mas estava com dificuldades de criá-la sozinho.
Ainda segundo o delegado, o acusado disse que Patrícia teria negado reatar o relacionamento, momento em que os dois se desentenderam e ela respondeu que estava vivendo melhor sem ele.
José Ferreira confessou ter tentado matar a mulher, mas disse que não sabe quantos tiros disparou e nem o local em que o corpo de Patrícia foi atingido.
Após os disparos, José Ferreira fugiu e escondeu a arma no bananal onde foi localizada e apreendida sexta-feira.
LEGÍTIMA DEFESA
O advogado de José Ferreira, Teófilo Carlos Magalhães, da cidade de Betim, informa que seu cliente também está com um projétil alojado atrás da orelha e que ele agiu em legítima defesa, pois sua ex-mulher teria tentado matá-lo.
- Trabalharemos com a tese de que José Ferreira efetuou os tiros em legítima defesa, pois foi um crime passional, ou seja, briga de casal que não tem como explicar o motivo, onde os dois saíram feridos. Meu cliente também está com um projétil alojado na cabeça. Não contesto a prisão do meu cliente, mais irei pedir a revogação da prisão, pois ele tem condições de responder ao processo em liberdade, por ser um homem trabalhador e com residência fixa em Montes Claros – informa o advogado de defesa.
NADA JUSTIFICA, DIZ JUIZ
O juiz da Vara de execuções penais, Marcos Antônio Ferreira, que expediu o mandado de prisão para José Ferreira, diz que as alegações do advogado de defesa para pedir a revogação da prisão do acusado são injustificáveis.
- Ser trabalhador e ter residência fixa em Montes Claros não é justificativa para revogar a prisão de um homem que efetuou sete disparos contra a ex-mulher, sendo seis deles na cabeça. A lei exige vários requisitos para que um acusado possa responder ao processo em liberdade, como garantia da ordem pública, garantia da ordem econômica, conveniência da instrução criminal e para assegurar a aplicação da lei penal. José Ferreira infringiu pelo menos três dos requisitos exigidos pela lei: feriu a garantia da ordem pública em cometer um crime de grande repercussão, pela crueldade, e que abalou a população da cidade; feriu a conveniência da instrução criminal ao ameaçar a vítima, sua ex-mulher, e as testemunhas do crime; e feriu o requisito de assegurar a aplicação da lei penal ao fugir. Se o acusado fosse realmente se apresentar à justiça, como informou seu advogado ao delegado de polícia, não teria fugido para outra cidade e se escondido em casa de parentes – explica o juiz.
ENTENDA O CASO
Por volta de 12 horas de sexta-feira, 10, José Ferreira Bastos, que estava separado há um mês da doméstica Patrícia Pereira Gonçalves, chegou à residência de sua ex-amásia pedindo para reatar o relacionamento.
Segundo a doméstica, José Ferreira insistiu por várias vezes que queria voltar, mas ela respondeu que não dava para viver mais com o acusado e que queria viver em paz.
Após a negativa da volta do relacionamento, segundo Patrícia, o acusado teria trancado o portão de sua casa e atirado sete vezes contra sua cabeça. A doméstica disse ainda que foi atingida na mão esquerda com um tiro no momento que tentou se defender. Ainda segundo a doméstica, antes de fugir no veículo Gol placa JLT 2827, José Ferreira a ameaçou, falando que se ela não morresse, ele voltaria para matá-la.
Durante o final de semana, policiais militares reforçaram a segurança na casa de Patrícia, para evitar que o acusado voltasse para cumprir o que havia falado.
MEDO
Na segunda-feira, 13, Patrícia foi à delegacia de homicídios para prestar depoimentos, quando revelou ao delegado Giovani Siervi que o ex-amásio nunca fora violento, mas que estava com medo, pois ele a teria ameaçado várias vezes quando efetuava os tiros contra sua cabeça.
Patrícia disse também que nunca tinha traído o ex-amásio, mesmo depois da separação, e que queria viver em paz para cuidar dos filhos, um de 8 anos de um relacionamento anterior, e outro de 11 meses, fruto de quase dois anos com o acusado.
A PRISÃO
O delegado de homicídio de Betim, João Bosco Rodrigues, contou a O Norte que a prisão de José Ferreira foi consumada após levantamentos junto a familiares do acusado que residem naquela cidade.
- Após receber a informação do delegado de homicídios de Montes Claros de que o acusado estaria escondido na casa de parentes, naquela cidade, foram efetuadas várias diligencias para identificar os respectivos endereços dos familiares do acusado. Na manhã de quinta-feira, realizamos uma operação para cumprimento do mandado da justiça de Montes Claros, quando nossas equipes efetuaram simultaneamente buscas nas casas dos irmãos do acusado. José Ferreira foi preso na casa de um irmão e não reagiu à prisão – conta o delegado.
João Bosco informa também que, durante a viagem até Moc. José Ferreira permaneceu tranqüilo, sem demonstrar qualquer ato de violência, e informou que iria apontar o local onde a arma do crime estava escondida.
FICHA CRIMINAL
Além de ser acusado de tentar matar a ex-mulher Patrícia Pereira, José Ferreira Bastos já responde processo de número 43302046656-4, aberto no dia 12 de abril de 2002, que tramita no Fórum Gonçalves Chaves, onde ele será levado a julgamento popular, conforme consulta feita ao site do Tribunal de Justiça de Minas Gerais. A vítima é Mário Vicente da Silva, conhecido como Mário Fofoca.
Testemunhas dizem que José Ferreira teria passado o carro cinco vezes sobre Mário, e ainda tê-lo atingido com uma chave de fenda. Porém, não sabem se a vítima sobreviveu.
O processo está pronto para ser levado a julgamento desde 12 de agosto de 2004 mas, por falta de agenda, ainda não foi marcado o júri.
OUTRO CRIME
Outro fato apontado por testemunhas que envolveria José Ferreira como autor é uma suposta tentativa de homicídio contra outra ex-amásia, de 19 anos, conhecida como Valdirene. Porém, na delegacia de homicídios da cidade não existe registros sobre o fato.
Testemunhas informam que a jovem teria desferido uma facada no próprio pescoço, depois de tomar remédios que a deixavam deprimida. José Ferreira já foi amasiado com três mulheres e, segundo testemunhas, todas são mais novas do que ele.
Segundo a doméstica, Patrícia, José Ferreira, que trabalhava como taxista levando passageiros para cidades vizinhas a Moc, não aparentava usar drogas e bebia socialmente.