Gissele Niza
Repórter
onorte@onorte.net
A delegacia da polícia federal de Montes Claros prendeu na tarde de terça-feira, 06, uma mulher de 31 anos acusada de disseminar e-mails pela internet, através da comunidade do site de relacionamentos orkut, promovendo apologia ao crime.
G.S.M. foi liberada pela PFl porque não havia mandado de prisão contra ela, e indiciada pelos crimes de calúnia, difamação, apologia ao crime e falsidade ideológica.
O chefe da PF, delegado Daniel Souza, informou a O Norte, na tarde de ontem, que um mês após a prisão dos cinco integrantes da quadrilha do bilhete premiado em Moc, no dia 12 de fevereiro deste ano, a mulher começou a divulgar três cartas na internet com calúnias e difamações contra a polícia federal e autoridades do poder judiciário, juízes e promotores.
- A mulher foi até uma lan house localizada no Bairro Todos os Santos e criou uma conta no orkut com o nome fictício de Lucas Alkmim Borges, que se passava por jornalista. Em seguida, usando nome do suposto jornalista, que nunca existiu, se cadastrou na comunidade Orkuteiros de Montes Claros e espalhou pela internet as cartas caluniosas, fazendo apologia ao crime – informa o delegado.
Daniel Souza informou ainda que a intenção da mulher na divulgação das cartas era colocar as pessoas contra a polícia federal e a justiça, defendendo os integrantes da quadrilha do bilhete premiado.
- Após investigações, chegamos até G., que é namorada de um dos integrantes da quadrilha, Frederico Arley Ribeiro, que está na cadeia pública de Montes Claros.
PRISÃO
Logo após receber denúncias de que um jornalista estava promovendo apologia ao crime na internet, a PF iniciou rastreamento para chegar ao autor. Segundo o chefe da PF, durante o rastreamento foi identificada a lan house em que o suposto Lucas teria se cadastrado no orkut e, logo em seguida, foi identificada também outra lan house em outro bairro da cidade, de onde o suposto jornalista estava enviando cópias da carta para e-mails de pessoas de todo o país.
Frederico Arley está preso no cadeião por aplicar golpe do bilhete premiado
(foto: reprodução)
Após identificar o proprietário da conta no orkut, o delegado federal pediu a prisão preventiva da mulher. Na tarde de terça-feira, ela foi presa e encaminhada à polícia federal, onde afirmou em depoimento que sua irmã G. utilizava sua senha na internet. Uma hora depois, G. foi encaminhada à delegacia para prestar depoimento.
- A mulher confessou que estava disseminando os e-mails pela internet, mas negou a autoria do texto. Segundo ela, o autor das cartas é seu namorado Frederico Arley, que teria lhe entregue o conteúdo a ser divulgado durante visitas no cadeião – informa Daniel Souza.
ACAREAÇÃO
Na tarde de terça-feira, após depoimento de G., seu namorado Frederico, Arley que está preso no cadeião desde fevereiro último, suspeito de ser integrante da quadrilha do bilhete premiado, foi encaminhado à delegacia da polícia federal para uma acareação.
De acordo com o delegado, na acareação Frederico negou ser o autor das cartas e de ter entregue o material para a namorada, mas G. insistiu em afirmar que o namorado era sim o autor das cartas.
INVESTIGAÇÕES
O delegado Daniel informa também que o inquérito será relatado e encaminhado à justiça e que G. poderá responder pelos crimes de calúnia, com pena de seis meses a dois anos de reclusão; difamação, com pena de três meses a um ano de reclusão; apologia ao crime, com pena de três a seis meses de reclusão; e falsidade ideológica, com pena de até cinco anos de reclusão.
BENS BLOQUEADOS
Questionado pela reportagem sobre o processo da quadrilha do bilhete premiado, o delegado Daniel informa que:
- Os integrantes da quadrilha, suspeitos de aplicar o golpe do bilhete premiado nos estados de Minas Gerais, São Paulo, Goiás e Brasília, permanecem na cadeia de Moc; as mais de trinta vítimas do golpe estão sendo ouvidas; e foram bloqueados os bens dos cinco presos, avaliados em mais de R$ 2 milhões.
O delegado lembra que desde a prisão dos integrantes da quadrilha, no último mês de fevereiro, o preso Frederico Arley deu entrada em dois pedidos de habeas corpus, ambos negados pela justiça.
QUADRILHA
De posse de mandado expedido pelo juiz Milton Lívio Lemos, da 1ª Vara criminal, policiais federais de Moc e São Paulo prenderam no dia 12 de fevereiro deste ano, durante a operação Loteria: Weuber Sandro da Silva, 32 anos, apontado como líder do grupo; Frederico Arley Ribeiro, 25 anos; Aroldo Nunes de Oliveira, 43 anos; Ataíde Cloves de Oliveira, 45 anos; e Leila Adriana de Oliveira, 41 anos.
Os integrantes da quadrilha é acusada de aplicar o em várias cidades do país. O prejuízo causado está estimando em mais de R$ 3 milhões.
Segundo informações da polícia federal, seis meses antes da prisão houve uma denúncia sobre ostentação excessiva de Weuber, que freqüentava muitas festas e locais caros da cidade, bancando as despesas. O acusado possuía carro importado avaliado em R$ 110 mil, moto de mil cilindradas e outros veículos, mas não teria nenhum tipo de ocupação. Além disso, sempre ostentava pulseiras e colares de ouro.
Após a denúncia, os agentes começaram a investigar um possível envolvimento de Weuber com roubo de carro ou tráfico de drogas, quando chegaram ao golpe aplicado pela quadrilha.
Foi descoberto pela PF que, em 2001, a polícia havia prendido Weuber sob acusação de tentativa de aplicar o mesmo golpe do bilhete, e que em 08 de dezembro último, Murilo Farley foi preso em Brasília, quando atuava com o próprio Weuber, que fugiu, deixando o comparsa para trás.
GOLPE
De acordo com a PF de Moc, a quadrilha selecionava suas vítimas entre pessoas de alto poder aquisitivo. O alvo dos estelionatários era abordado na rua por um dos integrantes da quadrilha disfarçado de caipira, que alegava ter ganhado na mega-sena e revelava que um vizinho teria oferecido R$ 25 mil pelo bilhete.
Nesse momento, um segundo integrante da quadrilha simulava ser um empresário rico da cidade e se aproximava da dupla. Sob a afirmação de que era amigo de um gerente da Caixa Econômica Federal, banco que paga o prêmio da mega-sena, o falso empresário simulava uma ligação telefônica para o funcionário do banco, confirmando que o bilhete seria mesmo premiado.
Os golpistas convenciam a vítima a comprar o bilhete e a colocavam no carro, para sacarem o prêmio. No caminho, o golpista que se passava por uma pessoa humilde pedia garantia de que não seria enganado, e a vítima era induzida a dar jóias ou dinheiro aos estelionatários, que desapareciam posteriormente.
PUNIÇÃO
Todos os acusados de integrarem a quadrilha do bilhete premiado foram indiciados nos artigos 171, por estelionato, e 288, por formação de quadrilha, do Código penal. Alguns deles poderão responder, ainda, por furto - artigo 155 -, caso fique comprovado terem tomado dinheiro e jóias à força.
CARTA
A seguir, o leitor confere trechos da primeira das três cartas disseminadas na internet por G.:
JUSTIÇA OU PERSEGUIÇÃO?
O CASO DO GOLPE DO BILHETE PREMIADO
Juíza Federal pode estar manipulando processo e perseguindo acusados
“Eu, Lucas Alkimin Borges, pós-graduando na faculdade Newton Paiva, na capital deste Estado, venho por meio desta, dissertar sobre autuação e denúncia ocorrida no dia 12 de Fevereiro de 2006 na cidade de Montes Claros, minha cidade natal. Como jornalista investigador, ao ter contato com grande número de notícias publicadas na mídia televisiva, radiodifusora e escrita, despertou em mim um grande interesse em acompanhar o mais próximo possível desta denúncia confusa e obscura por alguns fatores como: alguns dos acusados se tratarem de pessoas muito conhecidas na cidade; descobrir que motivo extraordinário o departamento de Polícia Federal de Montes Claros tinha para investigar crime de estelionato inicialmente simples e fora da jurisdição dos mesmos; estudar os muitos fatos contraditórios apresentados pela mídia e pela denúncia; entender por que várias pessoas que os conheciam falam tão bem dos acusados; ...”
“... O mandado de prisão expedido pelo juiz da 1ª vara de execução penal, Milton Lívio Sales, no dia 9 de Fevereiro de 2006, pela denúncia da suposta quadrilha de estelionatários agirem em um dos mais antigos golpes de que se tem relato o “golpe do bilhete premiado”, golpe que, de acordo com inúmeros relatos de vítimas, boletins de ocorrência e autoridades especializadas em ações semelhantes pesquisadas por mim na cidade de Belo Horizonte, consta simples e somente em ludibriar não apenas velhinhas indefesas como a mídia expôs, mas qualquer tipo de pessoa culta ou não, que se interesse por dinheiro fácil, para que as mesmas entreguem em mãos dos golpistas (salvo: sem qualquer tipo de violência ou extorsão), em que os mesmos se evadem dos locais com a simples promessa que irão receber o suposto prêmio e voltar ao encontro da vítima. Este é o golpe que os acusados Frederico, Weuber, Aroldo, Ataíde e Leila irão responder na justiça e ainda se encontram detidos.
Inquieto com tanto clamor da mídia, iniciei uma investigação para avaliar e expor o que é fato e verdade, e o que é contaminação de boatos. Então comecei a me surpreender com supostas provas e denúncias que me deparei, como por exemplo: sem antecedentes criminais a maioria dos acusados, e estelionato ser considerado um crime leve, sem reclusão para os réus primários, os acusados terem endereço fixo, residirem na cidade durante a vida toda, não representarem perigo para a sociedade, a priori não deveriam ser mantidos tanto tempo detidos.
Destrinchando a denúncia oferecida ao Ministério Público no último dia 7, cujos réus foram primeiramente acusados por estelionato e formação de quadrilha, alguns dias depois as denúncias se multiplicaram para extorsão, roubo a mão armada e furto.
Espantado ao ver como um golpe tão simples pôde ter se transformado em delitos tão graves, comecei a entender o que possivelmente pode se passar e ser comunado por trás dos fatos reais, infelizmente por pessoas de alto escalão.
Talvez para ser mantido em cárcere, o acusado Frederico A. R., conhecido na cidade, freqüentador de lugares badalados como bares da Av. Deputado Esteves Rodrigues (Av. Sanitária), colunas sócias, sites de festas e acontecimentos sociais, poderia ter sido acusado de roubar à mão armada no bar ... um Game Boy da Nintendo (videogame portátil) de um garoto em 2004 para uso da quadrilha de acordo com o promotor Cláudio Maia de Barros. É no mínimo estranho e contraditório porque só nesta situação e mais de 2 (dois) anos após, o suposto e estranho acontecido aparecer nos autos, sendo que o mesmo freqüentava assiduamente o bar citado na ocasião e outros na av. Sanitária, acusação no mínimo duvidosa que pode ser para manter os acusados presos...”
Concluindo, percebo que talvez, somente talvez, diante de evidências e denúncias com minha análise e entendimento empírico, há grandes indícios que pessoas de alto escalão podem estar conspirando e buscando apoio no imponderável contra os acusados, talvez para justificar também uma certa ilegalidade na apreensão ou por desavenças pessoais de forma a dificultar ao máximo e difamar os acusados. Meros suspeitos estelionatários foram transformados em bandidos perigosos. Possivelmente a polícia investiu muito para desmascarar uma simples suposta quadrilha do golpe do bilhete premiado.
É fato que certamente o que se pode aproveitar desta “história” como verídico é muito menos do que as autoridades, mídia e promotoria parecem desejar, infelizmente. Promoções a cargos, resposta à sociedade e vingança podem ser motivos para um simples caso de estelionato ser tão jogado na mídia. Espero que não seja este o caso, pois, a Polícia Federal, autoridades púbicas e jurídicas entrariam no rol de repartições desacreditáveis pela sociedade...”
CONTATO: lucasalkiminborges@bol.com.br