Gissele Niza
Repórter
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Após três anos de investigações a polícia civil de Montes Claros desmanchou esta semana uma quadrilha de traficantes que comandavam o tráfico na cidade, Norte de Minas e outros estados do país através da exportação de drogas da Bolívia.
Sete acusados foram presos nos últimos trinta dias, sendo que o líder do tráfico Edvar Henrique Guimarães Júnior, 24 anos, conhecido como Júnior Negão, que teria sido aprovado no concurso da polícia militar através de fraude no concurso e que teria ligações com um dos integrantes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) que a meses aterroriza o estado de São Paulo com atentados terrorista e assassinatos de policiais, foi preso em Belo Horizonte na tarde dessa quarta-feira, 16.
Júnior Negão é acusado de comandar o tráfico internacional de drogas em Montes Claros e Norte de Minas (fotos: Wilson Medeiros)
Segundo as investigações da polícia civil que tiveram início a três anos, quando o atual delegado regional da 8ª Delegacia Regional, Aluísio Mesquita, era titular da delegacia de Janaúba, a rota do tráfico realizada pela quadrilha de Júnior Negão era feita através da encomenda da droga na Bolívia, por telefone.
A droga saía daquele país em ônibus ou até mesmo de moto, passava pelo estados do Mato Grosso do Sul, Brasília – Distrito Federal até chegar as mãos de Júnior Negão em Montes Claros, quando era distribuída para os seus aviões (pessoas utilizadas para distribuir a mercadoria para os traficantes) espalhados em várias cidades do Norte de Minas.
A estimativa da polícia civil é de que nesta rota circulava em torno de 80 quilos por mês de maconha, cocaína e crack. A droga seria comprada na Bolívia pelos seguintes preços: um quilo de cocaína por R$ 4 mil, que chegaria em Montes Claros avaliado em R$ 18 mil; e um quilo de maconha que na Bolívia era adquirido por R$ 100 chegava a cidade por R$ 350. O lucro dos traficantes com a comercialização da droga na cidade e região, segundo estimativas da polícia, seria de mais de 200%.
ACUSADOS
Estão presos os aviões de Júnior Negão: Batista, Charlim,
Alemão, Paulista e Alisson
Foram presos nos últimos trinta dias os seguintes integrantes da quadrilha de Júnior Negão: o agricultor do projeto de irrigação da cidade de Jaíba, José Batista dos Santos, conhecido como Batista preso na cidade de Janauba durante cumprimento de mandado de prisão na manhã de ontem, que tem várias passagens pela polícia por assalto, inclusive já condenado há mais de 4 anos de reclusão; Arilson Catrik, conhecido como Alemão, preso por porte ilegal de arma de fogo e acusado de tráfico de drogas e da autoria de homícidios com requintes de crueldade registrados no início do ano em Montes Claros, que a polícia suspeita ter sido pela disputa do poder do tráfico na cidade; Willian Oliveira Rocha, conhecido como Paulista, que tem mandado de prisão por assalto do Estado de São Paulo e que foi preso em Montes Claros junto com alemão por porte ilegal de armad de fogo; Charles Alves Ramos, conhecido como Charlim, preso por tráfico de drogas; e Allison Xavier Rodrigues, também preso em por tráfico de drogas.
INVESTIGAÇÕES
As investigações da polícia civil de várias facções criminosas em especial de tráfico de drogas internacional apontavam que a cada dia apontando novos aviões, integravam a quadrilha de Júnior Negão.
Todo trabalho que contou com o grupo do serviço de inteligência da polícia civil de Montes Claros, teve início quando em 2003 foi identificado em Janaúba, que o traficante Júnior Negão na época com 21 anos, administrava o tráfico de drogas em Montes Claros e Norte de Minas, tendo como comparsa Batista em Janaúba e Adailton Saruê em Januária. Saruê tem mandado de prisão em seu desfavor no estado de São Paulo, por tráfico de drogas, artigo 12 da lei 6368/76.
PCC
Também foi levantado durante as investigações que Júnior Negão tem ligação direta e relação comercial no estado de São Paulo com Valdimilson José da Cunha, conhecido como Milsinho, que é acusado de ser integrante da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) e que administraria o tráfico de drogas em Montes Claros e manteria contato com os traficantes do Norte de Minas de dentro da penitenciária de Presidente Bernardes (SP), onde está preso por tráfico de drogas.
Milsinho é natural de Janaúba, cidade de onde estava foragido quando foi preso em um shopping de São Paulo, através de investigação conjunta da polícia civil paulista e de Montes Claros.
NINHA ABASTECERIA QUADRILHA COM ARMAS E MUNIÇÕES
Ainda segundo as investigações da polícia civil, o aliado de Júnior Negão no comando do tráfico na região, Demóstenes Sóstenes Rodrigues dos Santos, conhecido como Ninha, que está foragido da polícia e é acusado de ter ordenado o assassinato de várias pessoas ligadas ao crime organizado em Montes Claros nos últimos meses, daria apoio logistico de armas e munições a Milsinho em 2005 quando planejaram a recaptura de presos da cadeia de Janaúba.
- Em 2005, os comparsas de Milsinho: Adailton Saruê e Ninha, o apoiava com o fornecimento de armas e munições, associados a um grupo de mais de oito marginais de Janaúba, incluindo duas mulheres. Eles programaram e fizeram frente a tentativa de resgate dos presos da cadeia daquela cidade, porém antecipamos a ação criminosa prendendo sete dos oito marginais identificados e auxiliamos as investigações da polícia paulista na prisão de Milsinho – informou o delegado regional, Aluísio Mesquita.
Ninha que está foragido, seria o braço direito de Júnior Negão em Montes Claros, responsável pela redistribuição da droga exportada da Bolívia para as cidades da Região.
TRANSFERÊNCIA
Por questões de segurança, o acusado José Batista dos Santos, foi transferido para a cadeia pública de Janaúba no final da tarde de ontem, onde permanecerá a disposição da justiça. Os outros seis integrantes da quadrilha estão na cadeia pública de Montes Claros.
TRAFICANTE UTILIZARIA PM PARA FACILITAR O CRIME ORGANIZADO
Júnior Negão foi aprovado no concurso da polícia militar de Minas Gerais, tendo se inscrito para a 8? Companhia Independente de Ouro Preto, com previsão de início das aulas dia 16 de agosto de 2006 e foi preso quando se apresentou na Acadêmia de Polícia Militar em Belo Horizonte.
A prisão foi efetuada pelo delegado José Messias Salles, que preside o inquérito policial e que também trouxe o preso para a cidade.
Júnior Negão tentou entrar para a polícia militar, assim como também para a polícia civil quando se inscreveu para o cargo de agente de polícia, para melhor administrar o tráfico de drogas.
O delegado Aluísio Mesquita informou que Júnior Negão pretendia tomar conhecimento das ações policiais a serem desencadeadas através do ingresso em uma das instituições, o que facilitando seu acesso as informações policiais e assim seria melhor orientado para a distribuição de drogas que pretendia aumentar o comércio nos próximos anos. Júnior Negão que não tem profissão é proprietário de um veículo Vectra e duas motos, supostamente adquiridos com lucros do tráfico de drogas.
O major Luiz Marcos Rezende, responsável pela assessoria de imprensa da 3ª Região de Polícia Militar de Minas Gerais, disse a reportagem de O Norte o traficante não seria matriculado na polícia militar.
- Para ingressar na polícia militar, todos os aprovados antes de fazer a matrícula são investigados por uma equipe da instituição para evitar assim que pessoas de má conduta façam parte da corporação. Identificamos que o acusado não teria comportamento disciplinar, um dos pré-requisitos para ingressar na polícia militar, e apoiamos a polícia civil para a sua prisão – disse o major.
NEGÃO TENTOU FRAUDAR CONCURSO DA PM
Ainda segundo as investigações da polícia civil e militar, Júnior Negão teria tentado fraudar o concurso da polícia militar através de pagamento a uma outra pessoa para fazer a prova ou lhe passar de qualquer outro meio informações das respostas das questões.
Negão teria adulterado o documento da pessoa que faria a prova, uma vez que já apresentou habilidades em falsificar documentos constatado pelas investigações.
As informações dão conta ainda, que Júnior Negão, tentaria nos próximos concursos inserir uma irmã e uma mulher de sua confiança em um das corporações, policia civil ou militar, através do mesmo esquema de pagar uma terceira pessoa para fazer a prova, garantindo assim a aprovação no concurso.
DEFESA
Na sede da 8? delegacia regional de polícia civil na tarde de ontem, os acusados que contaram com a presença de seis advogados se limitaram a informar a imprensa que eram inocentes e que não conheciam uns aos outros.
INTEGRAÇÃO
O representante da polícia militar, major Luiz Marcos Resende, destacou a importância da integração das policias no combate ao crime organizado, comprovada no desmanche da quadrilha comandada pelo maior traficante de Montes Claros e Norte de Minas.
- O trabalho conjunto entre as policiais civil e militar no combate ao crime organizado em Montes Claros e região é de extrema importância para toda a população. Este trabalho já esta sendo concretizado entre as corporações e já apresentam números positivos com a redução dos índices de crimes violentos no primeiro semestre deste ano, diversas operações realizadas em toda a cidade que tem garantido a maior segurança a sociedade, entre outras ações. O bom resultado da prisão do acusado de ser o maior traficante da região é fruto deste trabalho que a polícia militar e civil dará continuidade em prol da segurança pública – observou major Luiz Marcos.
O delegado regional Aluísio Mesquita, também falou a O Norte sobre a importância da integração das policiais no combate ao crime organizado.
- A atuação do delegado José Messias Salles, uma equipe de 13 policiais civis da 8? delegacia regional e da polícia militar, que nos apoiou durante as investigações e com quem realizamos um trabalho conjunto para combater o crime organizado em Montes Claros e região foi indispensável para o bom resultado dessa investigação que resultou na prisão de sete integrantes da quadrilha que comandava o tráfico de drogas internacional na cidade. Devemos destacar também a credibilidade e a dedicação do juiz da vara de execuções penais, Marcos Antônio Ferreira, que sempre nos atendeu prontamente, expedindo ordem de busca e apreensão e mandados de prisão que são de grande importância para a população montes-clarense – afirmou o delegado regional.
TRÁFICO É RESPONSÁVEL POR 90% DOS CRIMES VIOLENTOS
O delegado Aluísio Mesquita lembrou ainda que o objetivo da corporação de combater o crime organizado e reduzir os índices de crimes violentos em Montes Claros, estão sendo atingidos com êxito através das investigações do serviço de inteligência que tem facilitado a prisão de grandes criminosos e da integração nas ações das policiais.
- Nosso objetivo está sendo atendido, pois, já diminui mais de 27% dos crimes de homicídio, comparando com o mesmo período do ano passado, tendo em vista que a causa maior dos crimes violentos é, sem dúvidas, o tráfico de drogas. A saída de circulação de Ninha e a prisão de Marquinhos Costela, matador do tráfico, motivou a diminuição na criminalidade e certamente irá diminuir mais ainda, com a prisão de Júnior Negão e seus seis aviões. Nosso desejo é diminuir o sub-mundo, arrastado pelo tráfico que leva menores a cometerem os incontáveis pequenos furtos e assaltos como de celulares, tênis, bonés, etc – finalizou o delegado.
EQUIPE
Participaram das investigações que resultaram na prisão de parte dos integrantes da quadrilha os policiais civis da 8ª delegacia regional: Odinei, Willian, Júnior César, Calixto, Gilberto, Wendel, Alexandre, André, Wilson, Vilson, Rogério, Farlei, Manoel e Cássio; sob o comando dos delegados Aluísio Mesquista e José Messias Salles.
Além da equipe formada por quatro policiais do serviço de inteligência, também apoiaram as investigações os comandos da polícia militar em Montes Claros e Belo Horizonte.