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Sábado,11 de Janeiro

PM mata três e família pede justiça

Jornal O Norte
Publicado em 28/11/2005 às 11:34.Atualizado em 15/11/2021 às 08:54.

Gissele Niza


Repórter



Três homens foram mortos na tarde da última sexta-feira, 25, por policiais militares do 10º BPM de Montes Claros durante uma tentativa de assalto a uma casa no Bairro Cândida Câmara, zona Sul da cidade, onde uma criança de 11 anos, filha do bancário Mário Ferreira, chegou a ser feita refém.






(Foto: Aurélio Vidal)



Os homens se passaram por amigos dos irmãos da criança para entrar na casa e rendê-la com uma pistola na cabeça, momento em que uma pessoa percebeu a movimentação e acionou a polícia militar, através de denúncia anônima.



Ao chegar no local, a PM deparou-se com os homens armados, que reagiram, sendo alvejados momentos depois.



Morreram: Edmilson Lopes Dias, 22 anos, o Mica, com duas passagens pela polícia por uso de drogas e furto; Washington Charles de Oliveira, 18 anos, o Shau; e C.F.O., 16 anos, todos residentes no Bairro Santos Reis.



Com o objetivo de oferecer aos leitores as informações com maior veracidade possível, a reportagem de O Norte ouviu a criança vítima dos assaltantes, a polícia militar, familiares de um dos mortos e moradores do Santos Reis, onde os três homens residiam. Leiam a seguir as versões dos fatos:



VÍTIMA



Segundo a vítima B, 11 anos, relatou a O Norte, por volta das 11 horas o interfone de sua casa tocou e um homem disse que era amigo de N e T, ambos irmãos da criança, e que estaria ali para buscar um trabalho de escola a pedido de N.



B abriu o portão da residência, momento em que foi abordada por três homens armados com revólveres e feita como refém. Segundo a criança, os homens estavam encapuzados e um deles a pegou pela gola da blusa e colocou uma arma na cabeça, obrigando-a a mostrar todos os cômodos da casa, enquanto os outros dois homens colocavam vários objetos em mochilas.



Depois de roubar os objetos desejados, B informa que foi presa em seu quarto, quando os homens tentavam sair da casa, mas nesse momento policiais militares bateram no portão e perguntaram quem estava na casa.



Ainda segundo a criança, nesse momento os homens mais uma vez colocaram o revólver em sua cabeça e a obrigaram a responder que não havia ninguém na residência, que estava tudo bem.



Desconfiados, os policiais arrombaram o portão da casa e encontraram a criança sob a mira dos assaltantes, momento em que um deles disparou um tiro contra a PM. B aproveitou o descuido dos assaltantes e correu para a casa de um vizinho.



POLÍCIA MILITAR



Segundo informações do capitão Nascimento, que estava no local do crime, após uma tentativa de assalto, os bandidos tomaram uma criança como refém e, no momento que tentavam sair da residência, depararam com policiais militares, que foram acionados através de denúncia anônima e reagiram atirando na direção dos policiais.



- Infelizmente, os três homens morreram. Tentamos negociar para que soltassem a criança e se entregassem, mas os assaltantes reagiram com tiros. Eles estavam armados com revólveres e uma pistola – informa o capitão Nascimento.



Três guarnições da PM compareceram ao local para solucionar o fato. Segundo informações da PM, um dos escudos que os policiais utilizavam como proteção foi alvejado pelos assaltantes.



FAMÍLIA



O Norte foi até a Rua Márcio Ribeiro, no Bairro Santos Reis, onde ouviu o relato da mãe, do irmão, da filha e de amigos de Edmilson Lopes Dias. Ele era filho de Almir Ferreira Dias, funcionário da prefeitura de Montes Claros há 25 anos, e de Maria Leni Lopes Dias, doméstica.



Segundo Leni, o filho era evangélico, estava trabalhando e feliz com a chegada do filho.



– Ele tem uma filha de cinco anos e a esposa está esperando outro. Quem vai cuidar deles agora? Meu filho nunca teve problemas com a família ou amigos, era querido de todos, freqüentava uma igreja evangélica e estava trabalhando para sustentar a família. Eu, assim como todo o Bairro Santos Reis, estou revoltada, a polícia não tinha direito de fazer isso. Para que existe cadeia? Se meu filho estava errado, ele tinha que ser punido e não assassinado – diz a mãe de Edmilson.



Emocionada, Leni ainda afirma que irá processar a polícia militar pelo crime.



– Quero justiça, o assassinato de meu filho não pode ficar impune. A polícia foi feita para proteger e não para matar – afirma a mãe.



Questionada sobre Washington e C, Leni responde que conhecia e sabia que o menor estava envolvido em coisas erradas, inclusive já teria atirado em outra pessoa:



- Quando eles se aproximaram de meu filho, eu tentei afastá-lo, mas infelizmente meu filho foi assassinado hoje pelas más companhias, ele era um menino bom e carinhoso.



O irmão de Edmilson, Edmar Ferreira Dias, afirma que está indignado com o fato e também quer justiça.



- Fui até o IML, o que eles fizeram com meu irmão foi covardia. Se a PM quisesse mesmo amedrontá-lo, deveria ter atirado na perna dele e não tê-lo alvejado com armamento pesado. O corpo do meu irmão ficou totalmente perfurado, a polícia não enxergou que ali tinha um ser humano e atirou nele como se fosse um animal. Eles deveriam proteger os cidadãos e não sair matando por aí – afirma Edmar.



AMIGOS



Amigo de Edmilson há vários anos, Samuel Rodrigo Silva Lima diz estar triste pela perda de uma pessoa que era seu amigo, companheiro, uma pessoa de ótima convivência.



- Não tenho do que reclamar de Edmilson e nunca vi ninguém falando que ele estava no caminho errado. Aqui no bairro todos conheciam ele e sabiam que ele não seria capaz de fazer mal a uma criança. Estou triste porque perdi um grande amigo, uma pessoa ótima e de bom coração – diz Samuel.



Residente no Bairro Santos Reis, A, que prefere não se identificar, diz que Edmilson era uma pessoa de boa convivência, que há seis meses começou a andar com uma turma errada, mas logo caiu na real e começou a trabalhar, alugou uma casa e foi morar com a esposa:



- Nunca vi ninguém reclamando dele.



SUSPEITAS



Na noite de ontem, a polícia militar informou que há suspeitas de que uma pessoa, em um carro vermelho, estava do lado de fora da casa prontificada para a fuga dos assaltantes, mas, ao identificar a chegada da PM, fugiu do local.



Ainda segundo informações da PM, a esposa de Edmilson, Tatiane Gomes, trabalhou na residência de Mário Ferreira durante oito meses, sendo que foi dispensada há um mês e move processo trabalhista contra os ex-patrões. Segundo a PM, Tatiane é suspeita de ter passado informações sobre a rotina da casa para os assaltantes, pois seu esposo Edmilson a buscava todos os dias e conhecia a rotina da residência.



CURIOSOS



Após os fatos, vários versões foram contadas por pessoas que estavam no local, desde a possibilidade de seqüestro a envolvimento de outras pessoas no assalto. Um mototaxista, que não quis se identificar, diz que estava na esquina da Rua Gentil Gomes quando aconteceu o fato.



- Os policiais chegaram, uns ficaram em cima da calçada da casa e outros no meio da rua, fortemente armados e com escudos protetores. Assim que um dos assaltantes apontou a cabeça no portão, um policial do Gate atirou na cabeça dele e, então, os outros começaram a atirar nos outros assaltantes também – afirma o mototaxista.



Morador do Bairro Cândida Câmara, J diz que ouviu a polícia afirmando que o telefone de um dos assaltantes registrava a chamada da pessoa que estava preparada para fuga e fugiu. A assessoria da PM informou a O Norte que essa informação é falsa.



VELÓRIO



Os corpos de Edmilson, Washington e C estão sendo velados na igreja dos Santos Reis. A reportagem de O Norte procurou a família de Washington e C para falar sobre o crime, mas sem êxito.



SE NÃO FOSSE A PM...



O bancário Mário Ferreira agradece a eficiência e agilidade da polícia no caso.  – Se não fosse a polícia militar, o pior teria acontecido, minha filha. Ela poderia não estar aqui comigo. Acredito que, com a agilidade da PM e o reforço de viaturas nos bairros, a criminalidade que tanto assusta a população de Montes Claros acabará. Agradeço mais uma vez a Deus e, em segundo lugar, à PM por ter salvo a vida da minha filha – diz o bancário.

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