Gissele Niza


Repórter


onorte@onorte.net

Quatro integrantes de uma organização criminosa especializada em desviar recursos públicos federais de municípios norte mineiros foram presos ontem, terça-feira, pela polícia federal, na cidade de Varzelândia, localizada a 153 km de Montes Claros, durante a operação Vidas secas.

O secretário municipal de Saúde, Hertz Ramon Gomes, preso pela PF


(fotos: Wilson Medeiros)

Na manhã de ontem foram presos o secretário municipal de Saúde de Varzelândia e ex-vereador Hertz Ramon Gomes; o proprietário da empresa Jal Engenharia Ltda, Jalmir de Jesus Ferreira da Silva; o sócio-gerente da Meaces – Minas Engenharia, Arquitetura, Construção e Serviços Ltda, Cláudio Soares Silva; e o ex-prefeito de Varzelândia de 97 a 2000 e de 2001 a 2003, quando teve o mandato cassado pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais, Josemar Soares Lima, que foi preso às 15 horas da tarde de ontem na cidade de Paracatu, quando tentava fugir para Brasília-DF.

MAIS 12

O delegado da PF de Moc, Marcelo Eduardo Freitas, informou a O Norte que mais 12 pessoas ligadas à quadrilha serão indiciadas e que estes são os primeiros passos da operação Vidas secas.

- Desde 2004 foram iniciadas as investigações sobre desvio de recursos públicos federais de municípios da região. Esta é a primeira vez que um ex-prefeito é preso no Norte de Minas por desvio de recursos públicos e a prisão dos cabeças da organização criminosa foi apenas o primeiro passo no combate aos crimes praticados pelos gestores de recursos públicos. Estamos investigando mais de 15 municípios da região em que a organização criminosa agiu nos últimos anos – diz o delegado.

O ex-prefeito de Varzelândia, Josemar Soares Lima; o secretário de saúde, Hertz Ramon Gomes; e os empresários Jalmir de Jesus Ferreira da Silva e Cláudio Soares Silva que, segundo o delegado da PF já respondem ações penais no TJMG propostas pelo ministério público, estão sendo indiciados pelos crimes de formação de quadrilha, falsidade ideológica, fraude em licitações e desvio de recursos públicos federais.

ATÉ 30 ANOS

De acordo com o delegado Marcelo, os integrantes da quadrilha poderão ser condenados até 30 anos de reclusão, uma vez que as penas previstas para os crimes cometidos são: desvio de recursos públicos federais, 2 a 8 anos de reclusão; formação de quadrilha, 1 a 5 anos; falsidade ideológica, 2 a 8 anos; e fraude em licitações, 1 a 5 anos.

Outro envolvido no rombo é o empresário Jalmir de Jesus Ferreira da Silva

Segundo uma auditoria realizada na administração de Varzelândia, os desvios podem ultrapassar o valor de R$ 6 milhões.

DEPOIMENTO

O delegado Marcelo Eduardo informa também que o secretário de Saúde de Varzelândia e os dois empresários presos confirmaram, durante depoimento à PF que licitações eram fraudadas para que determinadas empresas fossem vencedoras das concorrências e que desviaram recursos dos cofres públicos.

Após prestarem depoimento na PF de Moc, o secretário de Saúde, Hertz Ramon Gomes, e os empresários Jalmir de Jesus Ferreira da Silva e Cláudio Soares Silva foram encaminhados ao cadeião, onde permanecerão à disposição da justiça federal.

Até o fechamento desta edição, o ex-prefeito de Varzelândia não havia chegado à sede da PF em Moc. De acordo com o delegado, Josemar Soares Lima também seria encaminhado ao cadeião.

VIDAS SECAS

A operação, que tem como objetivo o combate a uma organização criminosa voltada para a prática do desvio e apropriação de recursos federais é uma homenagem à obra de Graciliano Ramos que, em 1983, relatou em sua obra Vidas secas a realidade brasileira da época: injustiça social, miséria, fome, desigualdade, seca, agravada na atualidade, em especial no Norte de Minas.

Mais de 30 policiais federais envolvidos na operação cumpriram quatro mandados de prisão preventiva e cinco de busca e apreensão, expedidos pela justiça federal, subseção judiciária de Moc.