Repleto de vestígios de ocupação pré-histórica, o cânion do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, que figura entre os que têm maior concentração de cavernas do planeta, nunca esteve tão perto de receber o selo de Patrimônio Mundial concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). É que o Ministério do Meio Ambiente anunciou que o Brasil apresentará oficialmente na Unesco, no dia 1º de fevereiro de 2024, a candidatura do seu grande cânion para o reconhecimento como Patrimônio Mundial Natural.
Esse é o resultado de uma longa caminhada, que começou em 1999 com a criação, pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, nos municípios de Januária, Itacarambi e São João das Missões. Tido como um dos lugares mais espetaculares do Brasil, em 2017 começou a ser cogitado como candidato a Patrimônio Mundial nas categorias Natural e Cultural.
Os trabalhos do comitê gestor de sua candidatura foram paralisados em março de 2020 em função da pandemia de Covid-19 E, ao retomar os trabalhos e ouvir técnicos do Ministério do Meio Ambiente, do Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e do ICMBio, além de representantes da União Internacional de Espeleologia (UIS) e da Sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE), os gestores do comitê foram convencidos a optar por uma candidatura simplificada (Patrimônio Natural), posto que a ideia inicial, por se tratar de extenso território, dificultaria em muito os aspectos técnicos da candidatura.
Além disso, conforme explicou a O NORTE o coordenador da candidatura, Leonardo Giunco, “existe um relatório encomendado pela própria Unesco, feito em 2008, dizendo quais eram os sítios mundiais que poderiam pleitear o selo na região cárstica, quando foi constatado que em regiões áridas e semiáridas existiam pouquíssimos, o que naturalmente abriria espaço para a candidatura do Peruaçu”. Trocando em miúdos, no dizer do também espeleólogo, o título de Patrimônio Mundial do Parque Estadual Cavernas do Peruaçu “seria um tributo ao semiárido brasileiro”.
Peruaçu conta história da Terra
Também foi anunciado o início dos trabalhos para confecção do dossiê da candidatura do Peruaçu, sob a coordenação de Bernardo Issa e Andressa Araújo (ambos do Sistema Nacional de Unidades de Conservação - SNUC) e Jocy Brandão Cruz, do Centro Nacional de Pesquisas e Conservação de Cavernas. Eles contarão com a colaboração de diversos outros atores, dentre eles os espeleólogos da Sociedade Brasileira de Espeleologia(SBE) e Instituto de Estatística Unesco (UIS), Léo Giunco, Nivaldo Colzato e José Ayrton Labegalini; de Dayanne Ferreira dos Santos Sirqueira (ICMBio), chefe do Núcleo de Gestão Integrada Peruaçu, que reúne o Parque Nacional Cavernas do Peruaçu e a Área de Proteção Ambiental Cavernas do Peruaçu; bem como das prefeituras de Itacarambi, Januária e São João das Missões.
Passo a Passo
Todo o trabalho será apresentado em forma de dossiê, no dia 7 de dezembro, durante audiência a ser realizada, provavelmente em Januária, quando técnicos do Ministério do Meio Ambiente vão revelar o teor da previa desse estudo. Na sequência, de 15 a 30 de janeiro de 2024, o dossiê será traduzido para o inglês e ilustrado. Já no dia 1º de fevereiro de 2024, ocorrerá seu protocolo junto a Unesco. Com o relatório favorável, em 2025 o pleito será submetido à plenária da agência especializada do
Sistema ONU para votação.
Segundo o comitê gestor da candidatura do cânion do Peruaçu, o pleito teria duas âncoras: conter fenômenos naturais excepcionais ou áreas de beleza natural e estética de excepcional importância, e ser um exemplo excepcional representativo de diferentes estágios da história da Terra. Isso, levado em conta levantamentos feitos no parque em 2001 e 2018 pela União Internacional para a Conservação da Natureza, órgão internacional que faz as análises para a Unesco das candidaturas a Patrimônio Mundial.
Beleza cênica, por sinal, é o que esbanja o Peruaçu: mais de cem sítios arqueológicos e quase mil cavernas. Esculpida através dos milênios, a paisagem cárstica do seu grande cânion é um espetáculo que se estende por 17 km, entrecortado seis vezes por passagens subterrâneas e grutas em paredões gigantescos, de até 176 metros de altura, bem como a maior estalactite do mundo, a Perna da Bailarina, com quase 30 metros, na Gruta Janelão. (MF)