O Papa Francisco, sem visitar o Norte de Minas, ganhou a devoção dos católicos locais com sua abordagem pastoral e atenção aos menos favorecidos. Após falecer por um derrame na segunda-feira (21), fiéis de Montes Claros realizam homenagens ao líder religioso, lembrando-se de sua influência na fé da comunidade.
Dom José Carlos de Souza Campos, da Arquidiocese de Montes Claros, por meio das redes sociais, lamentou a passagem do líder católico. “Ele terminou seu ministério abençoando a Igreja e o mundo, começou e terminou seu pastoreio entre os pequenos, os vulneráveis, os sofredores, as vítimas do mundo. Foi Francisco de Deus e Francisco dos últimos deste mundo” rememorou na nota.
A deputada federal da 55ª Legislatura e reitora do Centro Universitário Funorte, Raquel Muniz, relembrou com emoção o encontro com o Papa em Roma, considerado por ela um dos momentos mais marcantes de sua vida. “Vestida com véu em sinal de respeito, realizei o sonho de ser abençoada e assistir a uma missa celebrada pelo pontífice”, contou.
Segundo Raquel, ao final da visita, o Papa lhe entregou um texto que ela guarda até hoje. “Eu estava com o celular na mão, tremia. Não consegui fazer um vídeo bem feito, mas dá para ouvir o áudio, inclusive nas minhas redes sociais. Nesse vídeo, peço a ele a bênção para o Ruy, porque naquele momento eu vinha de uma grande tribulação. Isso reforça a minha fé a cada dia, em momentos de dificuldade ou de alegria”.
A reitora finalizou destacando a coragem do Papa. “Essa coragem dele é representada em todo o enfrentamento que ele fez. Isso me inspira muito. São as pessoas corajosas que me inspiram. E o Papa foi extremamente corajoso. O antecessor dele, o alemão, desistiu. Não teve a coragem do Papa para fazer as transformações e incluir as pessoas que a Igreja Católica precisava incluir. Ele fez isso. Cabe ao seu sucessor continuar esse trabalho”, destacou.
Sônia Gomes Oliveira, presidente do Conselho Nacional do Laicato no Brasil, também compartilhou sua experiência ao lado do Papa, com quem conviveu durante os sínodos de 2023 e 2024 em Roma. “Ele é um homem simples, de sorriso fácil, acolhedor, muito humano. Chegava todos os dias com semblante alegre. Transmite esperança, convoca a Igreja a sair dos templos e ir ao encontro dos pobres. É uma figura de profecia para o nosso tempo”.
Ela ressaltou a firmeza de Francisco diante das injustiças. “Mesmo com uma espiritualidade muito forte, quando precisava ser duro, como ao condenar a guerra, ele o fazia com serenidade.”
Sônia afirmou ainda que as homenagens em Montes Claros já começaram nas paróquias e devem continuar até o dia do sepultamento. “Na minha paróquia, os jovens rezaram o terço. Há uma convocação espontânea das comunidades”, atesta.
Ela relata que, apesar do Papa Francisco nunca ter visitado a região do Norte de Minas, ele acompanhava de perto essa realidade, enviando mensagens em momentos importantes e demonstrando profundo conhecimento sobre as dioceses locais, especialmente as mais pobres. “Quando transformou a igreja de Bocaiuva em santuário, mandou mensagem. Também na nomeação de Dom José Carlos, em Montes Claros, e na morte de Dom Geraldo, em Januária”. Para ela, temos que lembrar sempre que a sua atenção era para os mais vulneráveis. “Ele sempre enfatizava que a Igreja deve ter Jesus como centro, mas com foco nos pobres, algo que, para mim, parecia direcionado à nossa região semiárida e marcada pela pobreza”.
A médica e fundadora da Associação Presente, Priscila Miranda, relembrou com emoção o encontro que teve com o Papa Francisco em 19 de junho de 2019. “Foi uma emoção grande. Ele não falava inglês, eu não falava espanhol, então foi tudo em portunhol. Um sentimento maravilhoso de estar diante de um ser humano mais divino do que humano.”
Ao comentar sobre a morte do pontífice, Priscila destacou a importância de seu legado. “Acho que ele foi alguém que nos ensinou a olhar para o outro, para a fraternidade, a sair do nosso próprio umbigo e encontrar sentido, mitigando o sofrimento alheio. Ele resgatou isso da humanidade”.