Médica é indiciada por morte de criança de 9 meses

Jornal O Norte
Publicado em 22/06/2006 às 12:00.Atualizado em 15/11/2021 às 08:38.

Gissele Niza


Repórter


onorte@onorte.net



A médica pediatra Jeanne Vaz de Melo Carvalho foi indiciada por homicídio doloso, com intenção de matar, pela morte do bebê de nove meses Hevely Pereira dos Santos, registrado pela polícia militar no dia 13 de abril deste ano, no hospital Aroldo Tourinho de Montes Claros.



O delegado Giovani Siervi, da delegacia de repressão aos crimes contra a pessoa, informou a O Norte que enviou à justiça ontem, quarta-feira,  inquérito com o resultado das investigações, inclusive com depoimentos de testemunhas e funcionários do hospital.



A conclusão do inquérito é que se a médica Jeanne não tivesse omitido socorro, a criança - que estava com quadro grave de saúde - provavelmente não teria falecido.



‘NEGOU ATENDIMENTO POR 4 VEZES’



Durante as investigações da polícia civil, várias testemunhas, que tiveram seus nomes preservados, foram ouvidas pelo delegado Giovani Siervi e informaram que:



- A criança chegou alegre ao hospital com febre muito alta e aos poucos foi piorando o quadro de saúde, até desfalecer-se nos braços da mãe. A médica disse que não iria atender a criança e que a mãe deveria procurar outro hospital da cidade, onde se encontrava de plantão a médica pediatra que atendeu a criança no posto de saúde.



- Fui quatro vezes procurar dra. Jeanne, informando que o quadro da criança era grave, porém, ela negou por mais de quatro vezes. Da primeira vez que voltei para informar à mãe da criança que a médica pediu para ela procurar outro hospital, ela (a mãe) disse que não tinha vale-transporte para pagar o ônibus até o hospital indicado pela médica e que temia que algo pior acontecesse, pois sua filha estava passando muito mal – informou uma das testemunhas.



Segundo outra testemunha:



- Após os funcionários do hospital terem procurado a médica por várias vezes e a mesma ter negado o atendimento ao bebê, por volta do meio-dia Jeanne disse que iria atender a criança. Então, uma das recepcionistas colocou a ficha de Hevely na frente de outras três crianças que esperavam atendimento, devido ao grave estado de saúde do bebê. A mãe entrou com a filha e ficou esperando durante muito tempo, pois a médica trocou as fichas e deixou para atender Hevely por último. Jeanne apenas olhou a criança, pediu um raio-x do tórax e foi embora. A mãe ficou aguardando com sua filha praticamente desfalecida, até que chegou a médica pediatra e a internou em estado grave.



‘SE MORRER? EU ASSINO O ATESTATO DE ÓBITO’



Também nos depoimentos colhidos durante as investigações da delegacia de repressão aos crimes contra a pessoa, uma terceira testemunha informou que:



- Durante o período que a criança estava na recepção para ser atendida e a médica negava atendê-la, uma pessoa chegou até ela para pedir que pelo menos avaliasse a criança e, diante da negativa, questionou-a o que ela faria se a criança morresse à espera de atendimento. E a médica respondeu:  “Eu assino o atestado de óbito”...



OUTRO PROCESSO



Consta na ficha criminal que a médica Jeanne de Vaz Melo Carvalho já foi indiciada por homicídio culposo, sem intenção de matar, pela morte da criança Ingrid Raniele Santos Barbosa, registrada no dia 29 de janeiro de 2002 em um hospital da cidade.



Segundo o delegado Giovani Siervi, os dados da ficha criminal da médica podemconfirmar outra informação de uma das testemunhas, segundo a qual a morte de Hevely não foi a primeira vez que a pediatra negou socorro a crianças que chegavam ao hospital em estado grave.



- Ela já foi encontrada deitada na sala dos médicos, enquanto crianças passavam muito mal na recepção do hospital – declarou a testemunha no depoimento.



A VERSÃO DA MÉDICA



Em seu depoimento ao delegado Giovani Siervi, a médica pediatra Jeanne informou que pediu para que a mãe voltasse ao posto de saúde onde foi atendida porque a criança estava apenas com febre alta e que a demora no atendimento aconteceu porque tinha outras crianças para serem atendidas, e as consultas devem respeitar a ordem de chegada de cada paciente.



O CRIME



No boletim de ocorrência de número 18.424, registrado pela polícia militar, consta que no dia 13 de abril, por volta das 9h45min, a criança Hevely Pereira dos Santos de nove meses, chegou ao hospital Aroldo Tourinho, acompanhada pela mãe Simone Pereira da Silva, passando mal e com febre alta.



No balcão de atendimento, a mãe de Hevely explicou a atendente a situação do bebê e informou que há três dias sua filha estava sendo medicada com o antibiótico ‘Amoxilina’, receitado por uma médica do posto de saúde do bairro Vila Oliveira, porém não tinha apresentado melhora.



A recepcionista do hospital, encaminhou imediatamente a ficha da criança a médica de plantão, Jeanne Vaz de Melo Carvalho, que negou atender a criança, alegando que se ela não atendesse durante o seu plantão que teve início as 7 horas, o próximo médico plantonista que chegaria as 13 horas, atenderia.



Segundo informações da polícia, todos os funcionários do hospital insistiram com a médica pediatra Jeanne para avaliar a criança, que só foi atendida por volta do 12h30min. A médica do plantão da tarde, que teve seu nome preservado por questões de segurança, atendeu Hevely após as 13 horas e a internou em estado grave de saúde, porém as 16 horas foi confirmado o óbito do bebê.



RELATÓRIO



No relatório do hospital, anexado ao inquérito, consta que o bebê Hevely Pereira dos Santos, chegou ao hospital com febre alta. Que já havia sido atendida em outro hospital da cidade e que a mãe suspeitava que o bebê estava com pneumonia.

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