Memória viva

Januária destina R$ 484 mil para restauração de casarão histórico

Manoel Freitas
Publicado em 28/04/2023 às 22:19.
 (Manoel Freitas)
(Manoel Freitas)

Dentro da premissa de que cuidar do patrimônio histórico e cultural resulta na preservação de sua identidade, de modo a fortalecer o sentimento de pertencimento dos moradores, na quarta-feira (19), a prefeitura de Januária deu um passo importante: fez licitação para restauração de um dos casarões mais antigos de seu centro histórico, onde funcionava até pouco tempo alguns setores da administração municipal. Para tanto, conforme revelou a O NORTE, Aurélio Vilares, secretário de Turismo, Cultura, Meio Ambiente e Desenvolvimento Econômico, fará uso de R$ 484 mil de recursos próprios, via Fundo Municipal do Patrimônio Histórico. 

O prédio, que estava em condições precárias, foi edificado na Praça Arthur Bernardes, em frente à Casa da Memória do Vale do São Francisco, ambos datados do final do século XIX. Constam do processo licitatório a reparação a troca do telhado, do piso, da parte elétrica e hidráulica, bem como de implantação de moderno sistema de prevenção de incêndios, em consonância com o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha). 

Outras ações estão previstas para preservação de seu casario e do centro histórico como um todo, que teve início em 1860, quando a cidade ribeirinha, a mais antiga do Circuito Velho Chico, começou a ser povoada por desbravadores bandeirantes. De tal forma que é reconhecida como um dos berços da formação do Norte de Minas, guardando relíquias arquitetônicas e culturais marcadas por traços do barroco colonial, do estilo eclético do início do século XX.
 
CIDADE RIBEIRINHA 
Existem várias versões para a possível escolha do nome Januária, sendo uma das mais aceitas a de que recebeu o nome em homenagem à princesa Januária, irmã de D. Pedro II e herdeira presuntiva da Coroa. Certo mesmo é que seu casario, de notável valor arquitetônico e cultural, foi erguido porque, no final do século XIX, a navegação a vapor a transformou em importante centro comercial, a ponto de se consolidar como um dos portos mais importantes no Médio São Francisco, ao lado de Juazeiro e Xique-Xique, na Bahia. 

Fazendo divisa com os municípios de Chapada Gaúcha, São Francisco, Pedras de Maria da Cruz, Itacarambi, Bonito de Minas e Cônego Marinho, Januária, segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tem área territorial de 6.661.588 km2 e muitos casarões espalhados pelo centro da cidade, como a conhecida Rua da Cultura, com o casario preservado e o calçamento em lajota tombado.

Na verdade, ruas, travessas, becos e vielas com riqueza de beirais, portais e fachadas, com platibandas adornadas por rococós de influência barroco. Mais que traços, a presença viva de uma arquitetura que pode ser ferida de morte se não preservar seu passado, a exemplo de medidas recomendadas pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) para restauração da Casa da Memória do Vale do São Francisco, bem cultural tombado em 1998, que abrigou o presídio, cujas celas foram transformadas em escolas de artes e no fórum local. 

Esperança renovada

Além dos esforços que estão sendo feitos pelo poder público municipal para preservação do casario, com recursos próprios e em parceria com o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha), alguns moradores de Januária têm feito à feito a diferença para preservação da memória da cidade, mais viva do que nunca em cada detalhe dos casarões, dos gradis, do calçamento em lajões de pedra bruta, os famosos “pés de moleque”, dentre outros resgates da arquitetura da cidade da margem esquerda do Rio São Francisco. 

É o caso da design de interiores e paisagista Juny Carvalho, com formação no Instituto de Arte e Projeto (INAP), em Belo Horizonte, que se mudou da capital mineira para a cidade ribeirinha em 2010, depois que comprou casarão de 1920 (pertencente à família Bastos). “Procurei fazer a minha parte, pois mesmo muito danificado, o estilo do casarão me encantou desde o meu primeiro momento”.

Desse tempo pra cá, lamenta, “ocorreu um descompromisso com a importância da arquitetura desses imóveis e, em alguns casos, sua completa aniquilação, como foi o caso do Hotel Regina, hoje inexistente, mas uma boa parte deles ainda está aqui, danificados, mas com a possibilidade de uma restauração completa, diante da boa notícia de que está havendo um movimento com ações voltadas para o resgate do patrimônio cultural e histórico, e isso traz um grande alento, renova as esperanças”.

Corredores culturais

Mais do que a restauração de casarios e tombamento do centro histórico, a ideia da prefeitura de Januária, segundo Aurélio Vilares, “é produzir os corredores culturais, “para que Januária tenha um centro histórico para chamar de seu”. 

Explicou que há duas semanas teve reunião no Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha) objetivando o tombamento, oportunidade que ficou acertada a visita de diretores do órgão em Januária na segunda quinzena de maio, “para fazer a atualização do cadastro do casario e uma demanda da Igreja Nossa Senhora do Rosário, distrito de Brejo do Amparo, cujo processo de tombamento ocorreu em abril de 1989”. Informou que a Igreja tem importância muito grande “porque sua origem está ligada a uma das mais antigas rotas de penetração de bandeiras no interior do Brasil”. 

Em outra frente, disse que estão assegurados recursos para reparar o piso das ruas, das calçadas e fachadas de todo o casario. Adiantou que as ruas serão niveladas com reposição de 30% das pedras que foram suprimidas ao longo da história. “Além disso, os corredores terão espaços para exposições permanentes, pois são muito bonitos, imponentes, vamos fazer um trem bacana”. 

Ao mesmo tempo, garantiu que trabalha para levantar “quantos imóveis estão inventariados, quantos estão de pé e quantos não, porque a busca nossa hoje é pela preservação, tanto é verdade que recentemente embargamos cinco obras em face à demolição irregular do patrimônio histórico”, finalizou o secretário Aurélio.

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