Minas do Norte

Incêndios atingem Grão Mogol, Botumirim, Cristália e Itacambira

Manoel Freitas
Publicado em 22/12/2023 às 20:21.
 (Manoel Freitas)
(Manoel Freitas)

Dos cinco municípios que compõem o Circuito Turístico Cordilheira do Espinhaço, a única do Brasil, quatro tiveram que conviver com o pesadelo das queimadas durante nove dias: Botumirim, Grão Mogol, Cristália e, em menor escala, Itacambira. Na verdade, a nova onda de fogo começou no domingo (10), deixando um grande rastro de destruição em duas unidades de conservação, os Parques Estaduais de Botumirim e Grão Mogol, com notável diversidade de espécies de fauna e flora. 

Como se não bastasse, nos dois parques os incêndios, de acordo com o Instituto Estadual de Florestas (IEF), têm como pano de fundo a ação humana, até porque os focos tiveram origem em áreas e municípios distintos. Juntos, os impactos gerados pelos desastres provocaram danos irreparáveis e consumiram mais de 3000 hectares de campos de altitude, que abrigam na Cordilheira do Espinhaço quase três mil espécies com endemismo, entre as quais 350 ameaçadas de extinção. 

Outra queimada criminosa grave, apesar de não ter afetado unidade de conservação, ocorreu no Morro do Chapéu, em Cristália. No maior atrativo natural do município, foram queimados 129 hectares, parte de campo rupestre e nichos de Mata Atlântica. Já no município de Itacambira, no sábado (18), outro grande incêndio florestal atingiu áreas naturais preservadas, desta feita nas cabeceiras do Ribeirão Macaúbas, Chapadão das Furnas e Congonhas, próximo da Vila Tamanduá.
 
FALTA DE CHUVAS 
Os dados, acompanhados por O NORTE desde o início dos incêndios, são do Geo-Geraes/Instituto Grande Sertão, com base em imagens do satélite Sentinel, sistema EOS LandViwer, que disponibilizam imagens diárias e capacidade para cálculo de áreas afetadas por desastres naturais. 

Informações precisas: o Geo Geraes usa os sistemas para monitorar as queimadas, evolução do fogo, e depois, faz o cálculo das áreas, sendo que os resultados subsidiam órgãos ambientais, como a Polícia Ambiental, o IEF e sistemas como o Programa de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais (Previn-cêndio) e o Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo).

Triste constatação tecnológica, porque o período crítico decretado por lei se encerrou em novembro e, em Minas Gerais, o término de contrato de brigadistas nessa data dificultou a estratégia prévia do IEF. Sem contar que essa incidência de incêndios em pleno mês de dezembro pegou todos de surpresa, exatamente quando as estruturas do Estado estão recolhidas e muitas aeronaves “baixadas” para manutenção. 

Basta lembrar que, mesmo com o incêndio no Parque Estadual de Grão Mogol ter começado no domingo (10), somente na terça-feira (12), a unidade de conservação - com área de 28.404,487 hectares - contou com apoio de helicóptero do IEF, através do Comando de Aviação do Estado. Ainda assim, a aeronave equipada com a chamada Bambi Bucke (bolsa de água), fez apenas dez lançamentos com 520 litros de água cada. Nesse dia, desfalcou o Parque Estadual de Botumirim, que combateu com enorme dificuldade de transporte o fogo até 1400 metros de altitude.

E olha que, em Grão Mogol, o incêndio florestal no parque começou no Sul, próximo à sua sede, único lugar no mundo onde ocorre o Discocatus horstii e da Cachoeira Véu de Noiva, até avançar em direção ao Norte, com enormes estragos na Chapada dos Cardoso. Na terça-feira (19), enfim o fogo foi contido por conta de forte chuva, depois de consumir mais de 1600 hectares. Em Botumirim foram exatos 1480 hectares. 

Reserva natural em chamas
O fogo representa uma das ameaças mais graves ao meio ambiente, em especial no Norte de Minas, onde o Cerrado ocupa mais de 50% do território de clima quente e seco. Isso, de modo a favorecer a ocorrência de incêndios nessa região compreendida entre as bacias dos rios São Francisco e Jequitinhonha.

Foi o que ocorreu às 20h 59 de quarta-feira (13), quando a história da Rolinha-do-planalto (Columbina cyanopis), na atualidade entre as 20 espécies mais raras do mundo, teve um capítulo especial. Por grupos de WhatsApp, áudio de morador do município de Botumirim, sede da Reserva Natural de 593 hectares criada para protegê-la, pedia por socorro porque fogo criminoso avançava em várias direções. 

O alerta mobilizou não apenas brigadistas do Instituto Estadual de Florestas (IEF), mas toda a população. Tanto é verdade que, com a força de 39 voluntários, as chamas foram contidas 00h10, depois de uma batalha contra o tempo, haja visto, também, as dificuldades e riscos de combate noturno. Ou seja, depois de atingir 1,44 hectare, o fogo apagou e o capítulo ruim não significou o final da história da espécie endêmica do Brasil e símbolo da conservação do Cerrado. 

Uma vitória não apenas da Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil (SAVE Brasil), que tem foco na conservação das aves brasileiras, que 2018 criou emergencialmente a Reserva Natural Rolinha do Planalto; como para o IEF, uma vez que a unidade de conservação se encontra dentro da área do Parque Estadual de Botumirim, concebido igualmente no mesmo ano. (MF).

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