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Terça-Feira,23 de Setembro

Família denuncia extorsão de assassino confesso e polícia civil investiga possível latrocínio

Jornal O Norte
Publicado em 03/08/2006 às 10:02.Atualizado em 15/11/2021 às 08:40.

Familiares de Elton José Cardoso, 43 anos, brutalmente assassinado na madrugada dessa terça-feira, 1º, no bairro Morrinhos por seu companheiro Marcos Mursa Cardoso Júnior, 20 anos, conhecido como ‘Júnior Moto-taxista’ procuraram a imprensa na tarde de ontem para denunciar que o acusado vinha extorquindo a vítima há mais de quatro meses. A denúncia reforça as suspeitas da polícia civil de que não houve homicídio e sim latrocínio - matar para roubar.



Irmã de Elton, a professora aposentada, Estelita José Cardoso, 60 anos (foto), contou que desde 21 de abril deste ano, Marcos vinha extorquindo seu irmão.



- Desde abril que Elton não ficava mais sozinho em casa. Passou a dormir comigo com medo de Marcos que o estava extorquindo. Sempre pedindo dinheiro e o ameaçando. Às vezes, quando eu chegava em casa tarde ele aguardava na casa de outros parentes para não ficar sozinho.



Antes de começar a extorqui-lo, ainda segundo Estelita, Elton conseguiu um emprego para Marcos, que recusou. Colocou, então, o parceiro para trabalhar em sua locadora.



- Aí, começou a sumir dinheiro do caixa. Ele lanchava, comprava roupas caras, de marca, e mandava a conta para Elton.



VIDA BOA



Ainda segundo a irmã de Elton, que era formado em quatro cursos superiores: História, Sociologia, Biologia e Teologia, além de ser conhecido na sociedade por ser trabalhador e prestativo, Marcos só queria vida boa.



- Ele não queria trabalhar. Vivia dependendo de Elton. Viajou para a praia, freqüentava bons lugares, vestia-se bem, além de trabalhar com a moto que Elton comprou. Elton era uma pessoa honesta, trabalhadora. Quando começou a desconfiar da intenção de Marcos ele se afastou, mas aí começou a perseguição.



FRIEZA



Estelita contou também os detalhes das atitudes de Marcos dias antes do crime.



- Desde quando eles se conheceram, Marcos nunca dormiu aqui em casa e quando vinha deixava a moto no quintal. Na quinta-feira passada, Marcos veio para cá sem a moto, dormiu aqui pela primeira vez; no sábado ele veio de novo e ligava insistentemente para Elton. Na noite de segunda-feira, antes do crime, Marcos ligou para Elton pedindo para ele abrir o portão, foi quando tudo aconteceu. Ele tinha tudo planejado, queria matar meu irmão na quinta-feira. Marcos também voltou aqui na manhã de terça-feira, como se não tivesse acontecido nada, e ficou conversando com toda a família, perguntando o que tinha acontecido.



SIMULAÇÃO



A professora informou também que na manhã de ontem policiais civis apreenderam em sua casa um lençol utilizado por Marcos para simular um infarto.



- Como ele já tinha tudo planejado não poderia deixar pistas. Aqui em casa não tinha corda nenhuma, foi ele que trouxe. Além disso, ele quis simular um infarto, depois de matar, ele limpou todo o corpo de Elton e colocou em uma posição para que pensássemos que foi infarto. Na hora que terminou escondeu o lençol, mas nós achamos e entregamos a polícia.



LIGAÇÕES TELEFÔNICAS



A irmã de Elton apresentou também na tarde de ontem uma conta telefônica onde estavam registradas nove ligações a cobrar de seu celular.



- Quando Elton passou a evitá-lo, ele começou a ligar desesperadamente para cá. Ligava a cobrar pedindo para que Elton o encontrasse e até para pedir dinheiro.



BRIGAS



Estelita disse também que já presenciara Marcos brigando com Elton, dentro da locadora de seu irmão.



- Ele só procurava Elton para pedir dinheiro. Uma vez cheguei na locadora e ele estava brigando com meu irmão pedindo dinheiro. Elton falou que não tinha e Marcos foi embora.



LATROCÍNIO



Mesmo antes da entrevista concedida a O Norte pela irmã de Elton, que prestará depoimento nesta sexta, 4, na delegacia de repressão aos crimes contra pessoa, o delegado Saulo Nogueira, que responde interinamente pela delegacia, informou que aumentaram as suspeitas de que não houve homicídio, mas sim, latrocínio.



Segundo o delegado, Marcos se negou a fazer o teste grafotécnico para que fosse comparada sua assinatura com a do cheque apreendido junto aos objetos utilizados no assassinato.



- Aumentaram as suspeitas de que houve latrocínio ao invés de homicídio porque foi apreendido um cheque de R$ 875 datado no dia 1 de agosto deste ano, dia do crime, tendo como emitente Elton José Cardoso, onde a assinatura está rasurada apresentando indícios de que teria sido forjada ou que Elton teria sido forçado a assinar. Marcos se negou a fazer o exame grafotécnico (exame que comprova a autenticidade da assinatura) por orientação de seu advogado – informou Saulo Nogueira.



CONTRADIÇÃO



O delegado informou ainda que a assinatura do depoimento de Marcos é praticamente idêntica a do cheque rasurado e que o acusado contradiz em seu depoimento ao dizer que encontrou o cheque no bolso de uma blusa.



- Marcos disse que depois do crime pegou uma blusa de Elton para enrolar a corda e jogar fora e que só percebeu os cheques (foram apreendidos quatros cheques: um de R$ 875, outro de R$ 130 e dois em branco) no bolso da blusa quando despencou os objetos em um bueiro. A blusa em que foram apreendidos, juntamente com um celular, a arma do crime e os cheques, não tem bolso – disse o delegado, que deve concluir o inquérito em 30 dias.



A pena prevista para o crime de latrocínio, artigo 157 do código penal, é de 20 a 30 anos. Para homicídio, artigo 121, de 12 a 30 anos.



A ASSINATURA NÃO ERA DELE



A funcionária da locadora de Elton, Ereta Ferreira Silva viu a assinatura do cheque apreendido e disse que não era do ex-patrão.



- Essa assinatura não é dele. Eu conheço bem a letra dele, já peguei em cheques assinados por ele para pagar contas e posso reconhecer. Não é dele essa assinatura – afirmou veementemente Érica.



CRIME E FLAGRANTE



Elton foi morto por volta das 2 horas da madrugada dessa terça-feira em sua casa, asfixiado com uma corda, por Marcos, que foi preso por policiais civis na manhã do mesmo dia em sua residência localizada no bairro Santa Rita, e autuado em flagrante. O corpo de Elton foi localizado por sua irmã, no chão da sala de sua casa.



CONFISSÃO



Como O Norte divulgou em sua última edição, Marcos confessou seu envolvimento amoroso com Elton iniciado há 3 anos, apesar de ter uma namorada, e acrescentou detalhes da execução alegando que queria terminar o relacionamento.



- Cheguei na casa dele (Elton) para conversar, falar que não queria mais ficar com ele porque não dava mais. Queria voltar à minha vida normal. Ele começou alterar a voz e a me agredir verbalmente, falando que ia fazer uma loucura, contar para todo mundo do nosso relacionamento. Tentei acalmá-lo, falando que queria ficar com minha namorada. Ele ficou muito nervoso e começou a apertar meu pescoço gritando que se eu não ficasse com ele não ficaria com mais ninguém; que iria contar tudo para minha família e fazer um inferno em minha vida. Neste momento tentei tirar ele de cima de mim, mas caímos no sofá e começamos a lutar. Foi quando achei a corda e comecei a apertar o pescoço dele tentando acalmá-lo, falando para ele parar e conversarmos. Aos poucos percebi que ele estava mole e como já tinha conseguido me livrar dele fui embora. Eu pensei que ele pudesse estar desmaiado, mas para não ter dúvidas peguei a corda, enrolei em uma blusa e joguei fora. No outro dia, quando voltei para ver se ele estava morto a polícia já estava lá.

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