Na próxima segunda-feira (12), o Brasil comemora o Dia dos Namorados, data celebrada desde 1949 na véspera do Dia de Santo Antônio, o santo casamenteiro, diferente de outros países, que festejam o Dia dos Namorados em 14 de fevereiro - o Valentine ‘s Day.
Além de aproveitar a data para relembrar os momentos mais marcantes da história, nesse dia os namorados trocam entre si presentes e mensagens. Tanto é verdade que, do ponto de vista comercial, fica atrás apenas do Dia das Mães e do Natal.
De modo que, tão velho quanto o namoro é a palavra presente, de presença física e de lembrança, posto que gostar de outra pessoa é querer fazê-la feliz. Como resultado, do ponto de vista comercial a data movimenta em bilhões de reais a economia do país. Segundo a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio), na data a média de gastos do brasileiro é de R$ 140.
E nem poderia ser diferente, porque o amor é um sentimento humano que conecta e compromete as pessoas, dando sentido à vida. Derivada do latim, a palavra amor significa, no seu sentido mais profundo, a afeição, o desejo vivo e recíproco entre duas pessoas.
Poucos dias antes da data, O NORTE escutou casal de gays de Montes Claros um pouco de sua história de amor, Cláudio Narciso e Antônio Cláudio, juntos há 22 anos. E, ao contrário do que possa imaginar, não guardam na lembrança nenhum momento de discriminação: “o povo aceita amor entre iguais, então penso que no país podemos namorar, amar sem medo, porque o Brasil é um país muito mais gay do que um país homo-fóbico”, comentam.
O MUNDO MUDOU
Para falar de amor entre iguais, de data tão especial como o Dia dos Namorados, O NORTE ouviu o antropólogo João Batista de Almeida Costa, conhecido como Joba Costa, com graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Minas Gerais, mestrado e doutorado em Antropologia pela Universidade de Brasília.
Para o professor, a relação entre pessoas do mesmo gênero não é uma exclusividade ocidental. “Entre os gregos, em Esparta, os exércitos eram formados por casais que lutavam desesperadamente para manter a vida um do outro e, em Atenas, os sábios mantinham relações com seus discípulos”.
E citou mais exemplos: “entre os indígenas brasileiros a relação existia, e Pierre Clastres, em seu livro “Sociedade contra o Estado”, no capítulo “O arco e o cesto” narra tal relação”. Mais ainda, assegura que nas etnografias da Antropologia por todo o mundo é possível encontrar essas relações.
Segundo Joba Costa, “o Ocidente, por sua formação judaico-cristã, inventou o “pecado” e tornou excludente a relação entre pessoas do mesmo gênero e assassinaram milhares de pessoas em nome da salvação pela ausência de pecado”.
O antropólogo ensinou que “a partir dos anos 1960, homens e mulheres reivindicaram sua individualidade, saíram à luz, ou como se diz “saíram do armário” e estão entre nós”. Mais ainda, explicou que “legislações pelo mundo ocidental mudaram e os casais de mesmo gênero podem ter comportamentos amorosos à luz do dia e, para terror de muitos, formação de casais e criação de filhos, pois o mundo vem mudando e vai mudar ainda mais”.
Um amor que não se imagina
O que o jornalista e professor Cláudio Narciso e o economista e ex-bancário Antônio Cláudio, o Dim Feitosa, têm em comum? O amor, celebrado em seus 22 anos de namoro no dia 19 de maio! Um “amor que não se imagina”, no dizer da jornalista Mara Narciso, que desde o início acompanha essa história de amor e, depois de tanto tempo, revela com alegria: “Dormir abraçados todas as noites, ano após ano, poucos casais conseguem interação tão duradoura, portanto amar é isso, ficar juntos, como os dois”!
Na terça-feira (6), O NORTE ouviu os dois Cláudios, Narciso e Feitosa. E foi logo perguntando quem foi que disse eu te amo pela primeira vez? (Risos), “Eu não sei quando, mas acho que foi o Dim, porque eu não sou de dizer eu te amo, já disse, mas demorou muito, por outro lado, eu que fiz a escolha, olhei para ele e falei: esse é meu, e no primeiro momento a gente já se agarrou”.
Juntos, contaram que “tudo começou num final de tarde na Avenida Mestra Fininha, próximo ao Parque Municipal”. Na ocasião, Narciso estava de bicicleta e Dim correndo, “um indo, outro voltando”, detalham, precisando que isso ocorreu há 22 anos e um mês, no dia 19 de maio.
Interessante é que moravam a dois quarteirões um do outro e nunca tinham se encontrado, apesar de na adolescência terem amigos em comum. Mais engraçado ainda: naquele 19 de maio os dois tinham convites para a mesma celebração. Então, à noite já estavam na festa de aniversário da amiga que, igualmente, morava perto dos namorados. Na verdade, o destino já tinha feito o convite para os dois Cláudios.
Juntos há 22 anos e sem discriminação
O casal explica que o segredo do namoro duradouro, além do amor sempre potencializado, é conversar, mudar de ares, viajar. Recentemente, por exemplo, chegaram de mais uma viagem ao exterior, cinco meses nos Estados Unidos e cinco meses em Portugal.
“Na primeira vez que fomos à Portugal, ocorreu a pandemia, e ele tinha voltado ao Brasil para resolver questões familiares”, prossegue Narciso, e completa Dim, “e então ficamos oito meses separados, o que me preocupava, porque eu estava com minha família e ele lá sozinho, sem ninguém, mas o nosso amor não só sobreviveu, como aprimorou, cresceu, evoluiu”.
Áurea, a sogra de Dim, o trata como “melhor genro do mundo”. Então, O NORTE questionou se sempre foi assim. “Não, todas as mães são ciumentas e protetoras, tanto a minha como Clélia, a mãe do Dim”, detalha o jornalista, para quem “elas podem agir diferentes, mas as duas têm o mesmo carinho”. Aliás, amor intenso é exemplo de família. Narciso recorda que o pai Chiquito cursava Medicina em Belo Horizonte, onde atuava como professor “e largou tudo para viverem a maior paixão do universo em Montes Claros, hoje 62 anos de casados, completados 31 de maio, sem contar com dois anos de namoro e noivado”.
Cláudio Narciso revela que nesses 22 anos de namoro o casal nunca foi discriminado, “e olha que sempre nos expusemos muito, basta lembrar que fomos o primeiro casal gay que demonstramos afeto em público em Montes Claros, na Festa dos Catopês”. “O mundo é nosso”, prossegue Narciso, para quem a discriminação cada vez mais é deixada para trás, por outro lado vivemos numa sociedade violenta, e a mulher sofre muito mais preconceito e violência que os gays, cinco, dez vezes mais.