VARIEDADES

Cordilheira cantada por Bernardo Puhler, o Bernardo do Espinhaço

Manoel Freitas
Publicado em 20/10/2023 às 19:00.
Bernardo Espinhaço: “ter no nome o local onde nasci é uma declaração de afeto e pertencimento, de encontro com o que sou de fato”
Voz do Espinhaço (Divulgação)
Bernardo Espinhaço: “ter no nome o local onde nasci é uma declaração de afeto e pertencimento, de encontro com o que sou de fato” Voz do Espinhaço (Divulgação)

A poucas horas de sediar em Grão Mogol o 20º Congresso Brasileiro de Ecoturismo e Turismo de Aventura, conhecido no setor por ABETA Summit 2023, de 25 a 28 de outubro, o maior do gênero no país, o circuito Cordilheira do Espinhaço, merecidamente, recebe todos os holofotes. Uma conquista, igualmente, dos demais municípios que o integram, Botumirim, Cristália, Itacambira, Bocaiúva, Montes Claros, Olhos D’água e Turmalina.

Na verdade, o projeto, que tem merecido uma série de reportagens especiais de O NORTE, é uma iniciativa das prefeituras apoiada pelo Sebrae Minas, em parceria com a Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura e do Comitê Gestor da Reserva da Biosfera. E nem poderia ser diferente: a única cordilheira do Brasil e a segunda maior da América Latina é considerada uma das mais extraordinárias paisagens do mundo.

E, para embalar, dar ritmo à série, nessa terceira edição O NORTE ouve e dá voz ao multi-instrumentista Bernardo Puhler, o Bernardo do Espinhaço, nascido na região da Serra do Cipó, conhecida como Serra Morena, que traz no próprio nome a cadeia de montanha na qual foi gerado. De modo que suas canções falam de uma cordilheira que existe há aproximadamente 1.8 bilhão de anos, que encanta por ser diversa pela própria natureza. 

Então, ao compor, tocar e cantar, o faz com propriedade: com apenas cinco anos de idade, o menino Bernardo tinha assento no Conservatório de Música da UFMG, e desde cedo, muito mesmo, se dedica a caminhos e travessias.

É um montanhista, comunicólogo, produtor e compositor mineiro, conhecido como o cantor das montanhas, sua maior inspiração.

Em 2015, fez ecoar nos quatro cantos o canto da Rolinha do Planalto, de Botumirim, uma das aves mais raras do mundo. Um hino à avifauna brasileira, ele que, em seu vasto repertório, já havia feito coro ao lobo Guará negro e a Perereca-de-pijama.

Esse é o Bernardo, do Espinhaço, que assina o nome as montanhas que permeiam suas criações, multi-instrumentista e ambientalista sim senhor!
 
TRIBUTO À ROLINHA-DO-PLANALTO
A brasileiríssima Rolinha-do-planalto (Columbina cyanopis), uma das aves mais raras do mundo, considerada extinta há 74 anos, foi redescoberta em Botumirim, Norte de Minas, em 2015 pelo ornitólogo Rafael Bessa. Depois, o feito foi eternizado na música “É daqui, Botumirim”, composta por Bernardo do Espinhaço e o filho da terra, Denisar Motta. Uma joia que não é encontrada em nenhum outro lugar do planeta, de coloração predominantemente castanha, com marcas azuis nas asas e ventre alvacento.

Emblemática por estar diretamente associada ao Cerrado, um dos biomas mais ameaçados do Brasil. Tanto é verdade, que desde 2016, a Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil (SAVE Brasil) vem atuando no sentido de proteger essa espécie e seu habitat em reserva privada de 593 hectares. 

É DAQUI, BOTUMIRIM
“Corre solta a passarada, voa livre o passaredo, contra todas armadilhas, desventuras dessas trilhas e dos braços do arvoredo. Paira um sonho protegido, entre as pedras e os grotões, guarnecido entre as praias destes rios, orações. Só quem viu o olhar turquesa, sabe o belo dos rincões. 

Passarada, passaredo, desvendado o teu segredo, é daqui, Botumirim a Rolinha-do-planalto, está nos autos destes altos. Um estranho canto um dia acordou em Rafael, um alerta pra vigília, quem diria encontra a vida, já é hora desse sonho varar a lida do papel...” (MF).

O eterno ouro do mundo
Na terça-feira (17), o artista Bernardo do Espinhaço conversou com O NORTE. Explicou que a música da Rolinha-do-planalto é fruto de parceria com Denisar Mota, “cabendo a mim mais a letra, e foi muito legal, porque fomos desenvolvendo a música e guardamos em segredo para apresentar na solenidade de lançamento da espécie, o anúncio da descoberta cientifica, em agosto de 2015”. 

Informou ter citado o ornitólo-go Rafael Bessa, “que foi o primeiro a escutar o canto da ave, sempre destacando a importância da preservação”. 

Revelou que outra canção que marcou muito sua carreira foi o “O Alumbramento de um Guará Negro numa Noite Escura”, lançado em 2014, presente em diversas listas de melhores discos do ano, entre elas as do portal G1. Nela, narra a trajetória de um Guará negro, que foi descoberto nas Veredas do Acari, até na região de Mato Verde e Monte Azul, no Espinhaço Setentrional.

Ou seja, ambas são músicas que contam histórias reais de espécies importantes da Cordilheira do Espinhaço. Outra composição sua que se relaciona muito com o contexto do Espinhaço é a “Perereca-de-pijama”, por celebrar espécies endêmicas do Espinhaço.

Aliás, Bernardo respondeu à indagação se ter Espinhaço no nome é uma declaração de amor à cordilheira. “Sim, na verdade não partiu de mim, comecei a ser chamado dessa maneira porque o Espinhaço é um tema recorrente em minhas criações, então é uma declaração de afeto e pertencimento, de encontro com o que sou de fato”. 

“Cantar a cordilheira é inerente à minha condição de compositor, porque na verdade acabei me transformando em cantor montanhista, com muita honra, porque o artista plástico e paisagista brasileiro Burle Marx, admirado por naturalistas que rodam o planeta, falou por todos nós que o Espinhaço é o eterno ouro do mundo, então penso ser um espaço único, particular, um encontro de tantos biomas, muito endemismo, um lugar privilegiado. 

Em relação a Botumirim, nem só de Rolinha-do-planalto vive a cidade, gosto do parque, do município todo, porque é perfeito, completo em vários sentidos. (MF). 

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