Petiscos e progresso

Comida di Buteco como motor cultural e econômico em Montes Claros

Leonardo Queiroz
leonardoqueiroz.onorte@gmail.com
Publicado em 17/04/2025 às 19:00.
“Durante o concurso, tivemos um aumento considerável de clientes, aumentando assim o faturamento em mais de 30%”, relata Guilherme Frederico Ferreira do Bendita Espetaria (Leonardo Queiroz)
“Durante o concurso, tivemos um aumento considerável de clientes, aumentando assim o faturamento em mais de 30%”, relata Guilherme Frederico Ferreira do Bendita Espetaria (Leonardo Queiroz)

Um dos eventos gastronômicos mais aguardados do país, o Comida Di Buteco (CDB), que começou no último dia 11 de abril, tem se consolidado como uma vitrine de sabores autênticos, cultura popular e empreendedorismo. Em Montes Claros, a competição não é somente um festival de petiscos: é uma verdadeira celebração da cozinha de raiz e um motor importante para a economia local.

Em 2024, o destaque ficou com a Bendita Espeteria, que conquistou o título de melhor boteco da cidade. A vitória foi recebida com entusiasmo tanto pelos proprietários quanto pelos frequentadores assíduos do bar, que já era conhecido por seu ambiente acolhedor e seus pratos criativos. Agora, com o reconhecimento do CDB, a casa colhe os frutos da visibilidade ampliada.

A ideia do petisco vencedor em 2024 surgiu de muita criatividade — “Com o tema livre, usamos e abusamos da criatividade e uso dos ingredientes. Nossos pratos, em edições passadas, mostraram ao público ingredientes marcantes da nossa região e, em 2024, não poderia ser diferente: usando a minha criatividade e estudo gastronômico aliado a tradição e bons temperos de uma família de três gerações de cozinheiras aconteceu a fusão da tradição com elementos regionais, carne com vinho, molho pesto com coentro, castanha de Baru e manteiga de garrafa. Além de uma farofa de banana com bacon que sempre faz parte da nossa mesa”, conta o dono do bar, Guilherme Frederico Ferreira.

Para Guilherme, desde o início da participação no concurso, o resultado foi colher bons frutos. “O nosso fluxo de clientes melhora muito no mês de abril e isso reflete durante todo o ano, onde as pessoas retornam para experimentar outras delícias de nosso cardápio, sempre voltando para provar outro prato, onde fidelizamos alguns clientes que estão sempre nos prestigiando”.

“Participar do concurso é uma experiência maravilhosa, mas que carrega uma responsabilidade muito grande. Tudo é muito emocionante e ainda mais no concurso nacional, onde acabamos sendo referência e inspiração para outros bares da cidade e região. Nossa ida a São Paulo para defender a nossa culinária foi algo surreal onde você experimenta todos os pratos campeões de todo o Brasil e se encontra no meio dos melhores bares do Brasil”, conta Guilherme que estreou na competição em 2021, quando ficou como segundo colocado e no anão passado o grande vencedor.

“Durante o concurso, tivemos um aumento considerável de clientes, aumentando assim o faturamento em mais de 30%. Às vezes não dá para calcular, principalmente neste mês de abril, sendo um mês fora do normal para todos os participantes do concurso”, finaliza o empresário campeão do concurso no ano passado e que segue na disputa por mais uma vitória no concurso este ano.

Resgate cultural e econômico

Além de movimentar o bar vencedor, o evento beneficia toda a cadeia produtiva local, desde fornecedores até artistas, com o aumento do público e do consumo.

Isadora Salazar, coordenadora estadual do Concurso Comida di Buteco, explica que o concurso tem grande importância no cenário gastronômico de Montes Claros — “O Comida di Buteco é um concurso que, acima de tudo, pretende resgatar a cozinha de raiz. Hoje, estamos no Brasil inteiro e mantemos as tradições dos locais onde estão os bares, respeitamos a tradição gastronômica de cada local e assim como em Montes Claros, onde vemos os pratos desenvolvidos com uma apropriação da cultura local em termos de tempero, de ingredientes. Notamos tudo isso quando provamos os pratos e vemos as apresentações”, diz.

A coordenadora ainda explica existir um envolvimento no contexto de Montes Claros, seja da história, seja da cultura, seja dos ingredientes, da gastronomia: “Isso é muito legal, porque temos o objetivo de transformar vidas através da cozinha de raiz, mas é a cozinha de raiz local. A gente não quer unificar uma cozinha no Brasil inteiro. E até mesmo quando há um tema para o desenvolvimento do prato, hoje a gente pensa muito nisso. É nacional? Todos irão conseguir desenvolver um prato com este tema, mantendo a sua tradição, mantendo e respeitando o seu local”.

Sobre o impacto na economia da cidade com o crescimento do turismo gastronômico, Isadora explica que o concurso hoje é uma plataforma de desenvolvimento socioeconômico para a cidade. “A gente vê uma transformação acontecendo. Primeiro de tudo, pela intensidade com que ocorre. Porque é um mês, então o público engaja-se muito neste um mês, querendo visitar, querendo conhecer os bares. Para isso, os bares se preparam, se programam para poder atender toda essa demanda através da contratação de equipe, de treinamento, de preparação. Ou seja, a gente tem um fator de aumento da empregabilidade, do desenvolvimento de pessoas”, analisa a coordenadora estadual do CDB. (LQ)

A fome com a vontade de comer

Para vencer o Comida di Buteco, o bar precisa ir além de um bom prato. Segundo a coordenadora do concurso, são quatro critérios avaliados tanto pelo público quanto pelos jurados:

SABOR — A gastronomia deve ser de alta qualidade, valorizando a culinária regional.

ATENDIMENTO — Cordialidade, atenção e explicações sobre o prato desde a chegada até a saída do cliente.

HIGIENE — Limpeza do ambiente e dos utensílios, independentemente da simplicidade do local.

TEMPERATURA DA BEBIDA — Todas as bebidas, de cerveja a sucos e cafés, devem ser servidas na temperatura ideal.

A advogada montes-clarense Lenise Dinz, botequeira raiz, conta que ainda não conheceu o bar campeão do ano passado. “Retornei a Montes Claros há quase duas semanas e coincidiu com o concurso este ano. Já fui em alguns botecos não participantes, mas será nesse final de semana que vou maratonar em alguns bares participantes do concurso. O bar campeão do ano passado já está na minha lista de locais por onde vou passar, até mesmo porque quero sentir de perto a culinária local, conhecer a história do bar e, é claro, tomar aquela cerveja gelada nesse calor aqui do Norte de Minas”, diz. 

“Fiquei alguns anos na Bahia e pude conhecer a gastronomia de lá, que também é maravilhosa. Agora sinto que preciso resgatar minhas memórias afetivas e gastronômicas. Entendo também que concursos como esse, além de valorizar a culinária local, raiz, movimenta a economia da cidade. O concurso resgata aquele ingrediente que era usado pela nossa bisavó e, quando provamos, podemos voltar ao tempo e sentir que estamos vivos, que tudo aquilo que vivemos continua presente em nós. Então, estou ansiosa para comer o prato vencedor do ano passado e descobrir o que eles prepararam para o concurso deste ano”, completa a advogada. 

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