Até o próximo dia 28, o Museu Regional do Norte de Minas (MRNM) exibe uma fascinante exposição que desvenda a história da lingerie sob uma perspectiva sociológica e histórica, mergulhando no universo feminino em diferentes sociedades ao longo do tempo.
Graduada em história e mestre em História Social, a organizadora da exposição, Súsi Karla Almeida Santos, comenta em entrevista que o visitante percorrerá a história da lingerie num recorte temporal, que remonta da antiguidade aos dias atuais.
Como surgiu a ideia de realizar uma exposição de lingerie?
Na verdade, a ideia foi da historiadora do museu, Karine Rodrigues. Sabendo da minha formação em história e da minha experiência com a venda de lingerie ela me fez o convite várias vezes. Em março, aceitei a solicitação de Karine e comecei a pesquisa.
Conte um pouco sobre as peças que estão sendo expostas
As peças estão representadas por pinturas e desenhos realizados pela artista Marina Librelon Pinheiro Lopes, outras são reproduções elaboradas pelas costureiras Maria Cristina Pêgo e Rita Renilde Souza, e pelo artista Phelipe Mateus Batista, acadêmico do curso de artes da Unimontes. Nossa opção foi trabalhar com reproduções, e não réplicas, o que nos exigiria usar matérias fieis aos usados na confecção das peças em suas épocas específicas. A partir da reprodução podemos nos aproximar das peças originais com materiais que nos são disponíveis. Por outro lado, a exposição conta também com peças produzidas pela indústria atual, confeccionadas por materiais próprios da indústria moderna, itens que agregam conforto, beleza e versatilidade, de forma contrária àquelas produzidas até o início do século XX. As peças modernas variam também em cores, tamanhos e designer variados.
Acredita que ainda seja tabu uma exposição que exalta peças femininas?
Durante a exposição pudemos perceber o espanto de alguns visitantes, ao encontrarem “peças íntimas” expostas. Para muitos, a lingerie é considerada uma peça que deve ficar escondida, velada e não é considerada importante para além do espaço privado e da vida intima. Assim como a história das mulheres, a história da lingerie precisa ser desvelada, e a publicidade é um dos caminhos para a eliminação dos pré-conceitos, para a derrubada dos tabus. Há uma diferença entre ver uma lingerie na vitrine para ser vendida, e ver uma lingerie no museu para conhecer a sua história de uso e de produção.
Como as lingeries contam como sobre a evolução social das mulheres?
A evolução da mulher e da lingerie não se separam. Ao contrário do que a maioria de nós pensamos, muitas mulheres ocuparam espaços de destaque em algumas sociedades, porém não foram dadas a elas visibilidade. Mesmo na antiguidade, ou na Idade Média muitas mulheres se destacaram socialmente, suas formas de expressar também foram explicitadas pelas suas roupas e indumentária de maneira geral. Por mais que sofreram imposições, em certos momentos romperam com algumas regras e padrões nas sociedades e em suas intimidades. As mulheres foram ressignificando seus papeis, suas roupas e outros itens que as acompanhavam, nos seus espaços privados ou públicos. A lingerie foi ganhando destaque à medida que a mulher passou a ocupar postos de trabalho principalmente partir a Revolução Industrial. Para se adequar às novas funções da mulher no trabalho fora de casa, a lingerie foi ficando mais curta, passou a ser produzidas por materiais sintéticos, com mais mobilidade e com valores mais acessíveis inclusive.
Quais as principais diferenças, nesse avanço social das mulheres, em cada lingerie?
O avanço social das mulheres ocorre em diversos espaços, na política, na economia e na vida doméstica também. As funções das mulheres variam muito e elas exigem peças que as acompanhem em suas colocações. Por exemplo, há mulheres que praticam esportes, que trabalham sentadas, sob o calor ou frio, que viajam, ou que trabalham em serviços braçais entre outras, e podem ter peças específicas. É válido lembrar que as silhuetas das mulheres são diversas e exigem peças distintas que abriguem seus corpos. As mulheres têm sido mais exigentes e imprimem suas diferenças na produção das lingeries. A indústria acima de tudo produz inclusão para atender a demanda feminina.
Esse papel de contar sobre essas mudanças ainda permanece?
É válido lembrar que toda sociedade é resultado de sua produção cultural, dos bens materiais e imateriais que produz. Nesse sentido, a lingerie (enquanto produto mercadológico), continuará contando as mudanças ocorridas no seio social, enquanto for produzida e consumida nas suas mais variadas configurações.