
Brevemente começará o período crítico de incêndios florestais, com certeza um dos principais problemas ambientais do país e maior ameaça à biodiversidade. E os números falam por si: em 2022 foram queimados no Brasil mais de 16,3 milhões de hectares, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente. Como se não bastasse, desse total 2,8 milhões de hectares destruídos foram de florestas, sendo 43% vegetação nativa.
Para enfrentar quadro tão adverso, Minas Gerais constituiu a Força Tarefa Previncêndio, coordenada pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF) em parceria com a Polícia Militar, o Corpo de Bombeiros e a Coordenadoria de Defesa Civil. Em outra frente, o Governo Federal conta com Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo), a quem compete implementar política de prevenção e combate aos incêndios florestais em todo o território nacional.
Em maio, com a proximidade do período seco, nos municípios de São João das Missões e Diamantina, duas iniciativas governamentais foram desencadeadas para preparar de modo adequado suas brigadas de incêndio, que além de proteger as unidades de conservação em situações de fogo, atuam na prestação de socorro às populações vizinhas. Ou seja, atuam tanto dentro de seus territórios, como nas áreas de amortecimento (entorno).
BRIGADA XAKRIABÁ
Em São João das Missões, Extremo Norte de Minas, a preparação de 29 brigadistas foi feita pelo Prevfogo, através do Escritório Regional do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) de Montes Claros. Território que requer toda atenção da União porque faz limite com importantes áreas de preservação ambiental, como o Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, Parque Estadual Veredas do Peruaçu, Área de Preservação Ambiental Veredas do Peruaçu e o Parque Estadual da Mata Seca.
“A formação da Brigada Federal Indígena Xacriabá, contratada pelo Prevfogo/IBAMA, em São João das Missões, objetivando o combate aos incêndios florestais na região, decorre em função de muitos aspectos, sobretudo porque as terras indígenas Xakriabá, Xakriabá Rancharia e Xakriabá Reestudo, correspondem a uma área de aproximadamente 96.500 hectares, sendo a maior área indígena da região Sudeste do Brasil, com uma população aproximada de 12.000 pessoas”, explicou Rafael Chaves, coordenador regional do Prevfogo.
E os resultados são animadores: a brigada do Ibama atua na região desde 2010, “tendo sido cada vez menor a incidência de incêndios florestais na região”, assegura Rafael.
O coordenador regional revela que, na terra do Povo Xakriabá, “foi feito acompanhamento dos trabalhos tradicionais da população indígena no preparo de áreas para cultivo, nas chamadas “queimas de roças”, onde os indígenas utilizam o fogo controlado para a limpeza e cultivo do terreno”. Ao mesmo tempo, informa que os brigadistas do Prevfogo acompanharam a abertura de aceiros e colocação de fogo controlado para se evitar a ocorrência de incêndios florestais.
Fogo amigo, as queimas prescritas
Em Diamantina, a Força Tarefa Previncêndio, coordenada pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF), desenvolveu no Parque Estadual de Biribiri uma ação preventiva denominadas “fogos prescritos”, queimas controladas antes do período de seca, gerando os aceiros, que se formam a partir da combustão do material seco. Nessa atividade participaram também técnicos e brigadistas do Ibama, ICMbio, (Prevfogo) e voluntários da Brigada 1 de Belo Horizonte.
“O sistema de brigadas é muito importante sobretudo na estiagem, período em que ocorrem tanto queimadas autorizadas, que podem sair de controle, como queimada por ação criminosa, por pessoas que fazem a queima na zona rural sem a devida autorização e controle”, opinou o consultor ambiental Eduardo Gomes, que colaborou tanto no treinamento de brigadistas como em Diamantina, como na seleção de brigadistas para renovação da Brigada Xakriabá, em São João das Missões.
“Sobre o manejo de fogo, essa ação no Parque Estadual Biribiri é chamada queima prescrita, queimadas programadas, intencionais que funcionam como aceiros em áreas que têm muito capim, muita gramínea, que são queimadas de modo controlado para que funcionem como anteparo, ou seja, como proteção no caso de um fogo futuro”, destaca o também fundador do Instituto Grande Sertão (IGS).
Argumentou que “nós temos no Brasil brigadas temporárias, ou seja, aquelas formadas e treinadas antes da estiagem, para que no período crítico estejam operacionais, com pessoal capacitado e devidamente equipadas”.
Brigada 1, a força da voluntariosidade
Para evitar e controlar a propagação do fogo, além das brigadas públicas e privadas, o trabalho das brigadas voluntárias é ferramenta indispensável no período seco. É o caso da Brigada 1, na verdade parte de uma rede nacional de brigadas voluntárias, há 15 anos braço amigo do IEF, Ibama e Corpo de Bombeiros de Minas Gerais no Norte de Minas.
A coordenadora do Núcleo da Brigada 1, com sede em Montes Claros, advogada Maria de Fátima Procópio, lembra ter feito o curso de brigadista em 2017 para integrar o time de combatentes voluntários. De lá para cá, apoiou o combate a incêndios florestais tanto no Norte de Minas como no Pará, ao todo suporte em mais de 20 incêndios.
“O desafio e o compromisso atuais são formar novos brigadistas, diante do quadro de secas e mudanças nos regimes de chuvas, tudo de modo voluntário, portanto custeamos a nossa atuação em campo”, informa a coordenadora. Ela destaca que “além do perigo que representam para as unidades de conservação, o fogo significa prejuízos para agroextrativistas, apicultores, agricultores familiares, empobrecimento dos solos, além dos efeitos sobre a disponibilidade de água e aumento da vulnerabilidade hídrica em toda a região”
“Para o nosso Núcleo Moc e para a entidade Brigada 1 em Minas Gerais, onde atuo como diretora técnica, temos amadurecido no nosso papel de sociedade civil organizada dentro do ecossistema da gestão da prevenção e combate a incêndios, que é atribuição primeiro do Estado e seus órgãos, mas com corresponsabilidade de todos” finaliza.