Os insetos formam o grupo dominante de animais na Terra. E, na virada do ano, O NORTE traz uma pequena mostra que explica porque o Brasil está, na atualidade, no centro das atenções do turismo de observação da vida selvagem, cujo propósito é garantir a interação humana com os animais, especialmente as borboletas, atividade recente no país e no mundo, ou seja, o Butterfly watching ou Butterflying, que significa observação de borboletas, símbolo da transformação e da beleza.
Interessante é que, para praticar esta atividade, o observador não necessita de câmera fotográfica: basta estar munido de binóculo ou olho treinado para perceber em todos os cantos essas admiráveis criaturas. Tanto é verdade que, de acordo com pesquisa do Ministério do Turismo, intitulada Demanda Turística Internacional, a natureza, notadamente a observação da vida, é a segunda maior motivação da vinda de visitantes internacionais ao Brasil, país com a maior biodiversidade do mundo.
Em outras palavras, reforça a relevância desse novo olhar para a natureza a estimativa de que existam de cinco a 30 milhões de espécies viventes de insetos, das quais apenas cerca de um milhão catalogadas pela ciência. Ou seja, se muito se viu, há muito o que se observar ainda: como regra não vemos a maior parte dos insetos, porque eles são pequenos, embora representem cerca de 70% de todas as espécies conhecidas na Terra, cuja biomassa combinada é 16 vezes maior que a dos humanos.
De modo que, com a nova onda da observação de insetos, o contato direto com a natureza, até pouco tempo privilégio apenas de pesquisadores, nos dias atuais vem se tornando ocupação ao alcance ao cidadão comum. Um jeito novo de homenagear a Terra que habitam a cerca de 330 milhões de anos (Período Devoniano), imprescindíveis para a população humana, base para o funcionamento de todos os ecossistemas.
BORBOLETAS NÃO TÊM MEDO DE MUDAR
Para falar sobre a observação da vida no sertão de Minas, sobretudo no Parque Estadual da Mata Seca, um dos mais frágeis ecossistemas do Brasil; bem como para ter acesso ao seu arquivo fotográfico, que teve início pouco depois de sua criação em 2000 pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF), O NORTE recorreu à prata da casa, seu fotógrafo Manoel Freitas.
É que, nessa unidade de conservação, o profissional pôde acompanhar parte dos trabalhos da Rede Colaborativa de Pesquisas Tropi-Dry, criada em 2006 para trabalhar na América Latina com “Florestas Estacionais Deciduais”, conhecidas como matas secas. No seu modo de dizer, “uma rara oportunidade de ir a campo, observar e registrar não apenas aves, mas o mundo sem fim dos insetos, objeto de estudo de pesquisadores e estudantes de graduação e pós-graduação do Brasil, Canadá, México, Cuba, EUA, Costa Rica e Venezuela”.
Explica Manoel Freitas que, “embora a princípio possa parecer um ambiente inóspito, antes de tudo o Parque Estadual da Mata Seca simboliza resiliência, atestada tão logo caem as primeiras chuvas, quando os insetos proporcionam um espetáculo à parte”. Observou que “na verdade em mais de 15 mil hectares ocorre uma explosão da vida, porque eles servem alimento para mamíferos, aves, répteis, anfíbios e peixes”.
Ele, que entre mais de 30 mil fotógrafos foi o maior colaborador da plataforma Wikiaves em 2020, revelou que há 23 anos tem “paixão pelo retrato de borboletas, porque elas não têm medo de mudar e sua metamorfose é um dos fenômenos mais incríveis da natureza”. Além disso – prosseguiu, “os polinizadores ajudam na reprodução das plantas, aumentado sua diversidade genética, então não é à toa que o Brasil é o país mais megadiverso do mundo”.
A borboleta-folha
O ciclo de vida das borboletas, que são mais de 28 mil espécies no mundo, sendo que cerca de 80% vive em regiões tropicais, começa com os ovos, postos geralmente em folhas. Além de grandes polinizadoras de plantas, colaboram com os ciclos de nutrientes presentes no ambiente, dois processos fundamentais para a vida no planeta.
Curiosamente, macho e fêmea se mantêm imóveis ao se acasalarem, o que os torna alvo fácil para predadores. Mais ainda, a despeito das espécies mais conhecidas serem diurnas, a maioria é noturna. Sua variedade e quantidade são sinais de que um determinado lugar está conservado, por serem animais altamente sensíveis a alterações ambientais
Entretanto, não há nada mais impressionante no mundo das borboletas que sua metamorfose que, sobretudo nos dias atuais, é um termo bastante usado para representar uma mudança absoluta na vida. A rigor, uma incrível trajetória, do ovo ao esvoaçar, eterno renascimento.
Outra capacidade das borboletas que impressionam é o mimetismo, ou seja, sua capacidade de adaptação, de disfarçar, de modo que seja confundido. Este é o caso da borboleta-folha (Zaretis isidora), que ao fechar as asas é uma perfeita camuflagem de folha seca. Sua alimentação é baseada em frutas podres. Suas asas possuem linhas idênticas aos veios de folhas, sendo que as áreas mais translúcidas e manchadas imitam ataques de insetos e fungos.