Desde criança, Glorinha Mameluque sonhava em ser médica, mas, devido às dificuldades da época, isso não foi possível. Ela cursou enfermagem para se sentir mais próxima do hospital e das atividades de saúde que a atraíam. Dessa forma, sentia-se mais perto daquele sonho. Após se aposentar, depois de 30 anos de serviço público na Secretaria da Fazenda, tentou algumas vezes, sem sucesso, conseguir a tão sonhada vaga no curso de medicina. Mas desistir nunca fez parte de sua vida. Aos 86 anos, o sonho começa a se tornar realidade. Glorinha, a menina sonhadora e perseverante, acaba de ser aprovada no vestibular para candidatos acima de 60 anos no curso de medicina da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes).
Tudo começou quando o filho Gustavo mostrou a ela o site da Unimontes, falando sobre o vestibular para pessoas com mais de 60 anos. “Vi a oportunidade, talvez a última, de tentar mais uma vez. Procurei me inteirar do que era exigido e me preparar no pouco tempo que havia”, diz.
Na certeza de experimentar viver situações nunca vividas, Glorinha acredita que a sua vida dará uma guinada. “Vai ser uma nova vida, porque o curso de medicina é muito pesado. Talvez tenha até que me afastar de algumas atividades que tenho hoje”, afirma.
A respeito da área em que irá se especializar, ela diz que não pensou em nenhuma área específica e que será um passo de cada vez.
“Minhas expectativas são as melhores. Vejo-me em meio à “meninada”, cuja maioria poderia ser meus netos. Mas conviver com jovens nos ajuda a rejuvenescer. Quando fiz psicologia, eu tinha 65 anos e me enturmei logo. Foi ótimo”, conta.
MÚLTIPLA
Glorinha Mameluque é o que se pode chamar de colecionadora de diplomas. Ao longo dos seus 86 anos é atuante na academia de Letras e colabora em alguns jornais.
“Sobre minha vida, daria um livro, mas vou tentar resumir: aos 20 anos formei-me em enfermagem pela PUC/MG e trabalhei em São Francisco, no hospital local. Lá conheci meu esposo. Com quatro filhos pequenos, tive que deixar aquele serviço e prestei concurso para a Secretaria da Fazenda. Mudei-me em 1973 para Montes Claros, com a família. Aqui fiz o curso de direito na antiga FADIR e, ao me aposentar, passei a trabalhar com meu esposo, no nosso escritório de advocacia. Por trabalhar muito com direito da família, assim que surgiu o primeiro curso de psicologia em 2003, me inscrevi e fiz o vestibular, para atender melhor as famílias”, revela.
Em 2022, ingressou na Academia Montes-clarense de Letras e em 2009 fundou, junto com Dona Yvonne, a Academia Feminina de Letras, da qual foi a primeira Presidente.
“Faço parte ainda do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, da Aclecia, da AJEB/MG, da Rede Sem Fronteiras e ALALS (Academia de Letras e Artes de Portugal). Tenho crônicas em jornais e coletâneas nacionais e internacionais. Eu e meu marido fomos fundadores e coordenadores do ECC (Encontro de Casais com Cristo) e Pastoral Familiar. E o mais importante: sou Cidadã Honorária de Montes Claros”, celebra.
Sobre o segredo da longevidade ela diz que é manter-se sempre ativa, exercitando o físico e a mente. “Nunca me acomodando diante dos obstáculos, sem desistir, enfrentando todos os desafios com coragem, mesmo quando tive câncer de mama durante a pandemia, enquanto era presidente da Academia Montes-clarense de Letras”, diz.
Ao longo dos anos, foram muitas as viagens pelo mundo. Sua segunda paixão. “Amo viajar com a família. Em agosto do ano passado fomos à Itália, a família toda. Antes fomos a Nova York, Paris e Londres. A última viagem que fiz em abril foi a travessia do Atlântico, saindo do Brasil e desembarcando na Espanha, em companhia de Silvana, minha sobrinha, Terezinha, prima, e outros amigos”, diz.
ESCRITORA
Ao todo, Glorinha Mameluque tem 28 livros publicados e dois na impressão. O último chama-se “Travessia” e é um diário da viagem no navio Costa Diadema. “Quero agradecer o carinho de todos. Recebo muitas mensagens carinhosas e que me incentivam a seguir em frente”, conta.