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Terça-Feira,30 de Abril
Filósofos da natureza

A importância da ciência para a humanidade compreender a natureza

Manoel Freitas
Publicado em 26/05/2023 às 20:00.

Presença de sítios arqueológicos em veredas de Botumirim reforçam que território foi ocupado por ancestrais (Fredson Nunes)

A ciência é tão importante para o planeta, que tão logo o pensamento científico surgiu na Grécia Antiga aproximadamente no século VI a.C., os pesquisadores foram chamados de “Filósofos da Natureza”. E nem poderia ser de outra forma, posto que - naquela época como nos dias atuais - a pesquisa dia a dia se consolida como poderosa ferramenta para a concepção do conhecimento verdadeiro, ou seja, aquele que permite a humanidade compreender um pouco mais sobre a natureza.

Mais ainda, além de importante, a produção de ciência no Brasil dá sucessivas provas de resiliência. É que, a despeito dos esforços da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), enfrenta mais obstáculos do que financiamentos e valorização dos profissionais que atuam em frentes distintas, sem os quais seria impossível produzir descobertas de grande relevância, capazes de preservar o planeta. 

Tema tão relevante que O NORTE reuniu três personagens distintos e movidos pela mesma paixão, a pesquisa científica, para exemplificar de que modo se move para conservação da biodiversidade brasileira. Palavra dada no abre alas ao curador botânico do Instituto Cultural de Inhotim, em Brumadinho, o engenheiro agrônomo Juliano Borin, há 12 anos o responsável por esse que é o maior museu a céu aberto do mundo, bem como notável exemplo de recuperação ambiental. 

De forma que assim caminha a ciência, reclamando que o Brasil, o país mais biodiverso do planeta, estude e conheça as espécies em seu território. A vida agradece, porque o conhecimento só é gerado quando são criadas oportunidades de pesquisa.  
 
“A TERRA É MAIS ÁGUA, MAS ONDE A GENTE RESIDE MESMO É VERDE”
Vice-presidente da Rede Brasileira de Jardins Botânicos, o engenheiro agrônomo Juliano Borin, curador botânico de Inhotim, fez palestra em Montes Claros. Cientista com mestrado em Ciências Florestais pela Universidade Bangor no Reino Unido, contou como a paixão pela natureza o transformou em jardineiro, “porque, na verdade, todos somos jardineiros em uma bolinha vagando pelo espaço, cheia de água, mais habitamos o verde, daí a necessidade de a ciência nos ajuda a cuidar de nossa casa, do planeta”.

“Trabalho há quase doze anos em Inhotim, que - graças ao conhecimento -é um lugar mágico, que encanta, que emociona, tem gente que chora, e olha que virou jardim botânico em 2010”, explica o curador, revelando que um dos segredos desse que é considerado o maior museu a céu aberto do mundo “é preservar a natureza que o envolve, o que só se faz com ciência e amor”. 

Argumentou que Inhotim ganhou projeção internacional porque também promove com outros jardins botânicos a doação e a troca de espécies, “não envolve dinheiro, mas conhecimento e paixão”. Revelou que mantém mais de 500 jardineiros em Brumadinho “e contratamos imediatamente todos aqueles candidatos que dizem falar com as plantas”. 

Em Montes Claros, Juliano Borin, há três anos, é o responsável pelos jardins da Novo Nordisk, da Dinamarca. “Tem alguns milhares de reais investidos e os resultados não foram imediatos, mas hoje o jardim é uma pintura, e o segredo é esse: perseverança, técnica e acreditar na ciência”, finaliza o curador botânico. 

Uma das aves mais raras do mundo tem novo gênero

Também subindo montanha com pesquisadores, pegadas que a ciência deixa na areia em sua caminhada para proteger uma das aves mais raras do planeta, a Rolinha-do-Planalto (Columbina cyanopis), O NORTE teve o privilégio de acompanhar na Reserva Natural que a Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil (SAVE) mantém em Botumirim, o biólogo, ornitólogo e pesquisador Pedro Henrique Vogeley de Cerqueira, da Universidade de Brasília. 

A jornada faz parte de seu mestrado em Ciências Ambientais. E é desafiadora: de acordo com informações divulgadas em São Paulo nos dias 19, 20 e 21 de maio, no Avistar Brasil, maior evento de observação de aves do país, a espécie conta com apenas 15 indivíduos, ou seja, precisa da ciência, sob pena ser extinta muito brevemente.

E deu no que deu: a pesquisa, com amostra de DNA, revelou ser uma ave de gênero único no mundo. 

“Ela não era o que achávamos até então, mas, sim, o que se presumia desde o Século XIX, ou seja, que é uma espécie única, diferente de outras espécies de rolinhas; não é do gênero columbina, precisa de um gênero só para ela. Então, não é mais Columbina cyanopis, e, sim Oxypelia cyanopis, o que significa que temos que preservá-la mais ainda, porque sua perda significaria a perda de uma linhagem única (e antiga) no planeta, pelo que se sabe datada de 9,7 milhões de ano, ancestral”, celebrou o cientista, lembrando que os estudos estão sendo feitos em parceria com a SAVE. 

Veredas do Espinhaço são temas de mestrado

O NORTE acompanhou no início de maio, em Botumirim, na Serra do Espinhaço, parte do trabalho de campo do cientista Fredson Nunes, na verdade o cerne de sua dissertação de mestrado em Geografia pela Unimontes. 

“Vou comprovar que as veredas são unidades de exceção à grande regra local e regional, porque as veredas do Espinhaço têm um composto paisagístico diferenciado, então o estudo vai comprovar que elas têm comportamento diferente das demais”, explica Fredson. 

“E como vou comprovar isso?”, indaga, respondendo em seguida “através da Geomorfologia, ou seja, a forma da vereda, onde ela está situada, à geologia e à paisagem como um todo, especialmente àquelas situadas no Parque Estadual de Botumirim”. Segundo o pesquisador, “os sítios arqueológicos próximos dessas veredas comprovam que esses espaços já foram utilizados desde à antiguidade”. 

E explica: “você tem água, abrigo, comida, ou seja, as veredas como paisagens de exceção foram utilizadas, habitadas, desde à primitividade justamente por serem diferenciadas”. 

Pondera que “a forma, a geologia das veredas é a mesma, mas a singularidade das veredas da Cordilheira do Espinhaço é seu composto paisagístico, porque se você fragmenta a paisagem para analisar, percebe-se de modo muito claro que é diferente das demais, haja vista a umidade, a neblina que desce nas veredas de Botumirim, por exemplo, não ocorre nas demais”. E de algumas veredas em contato entre duas litologias diferentes.

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