Anvisa aprovou a realização do exame, mas há risco de resultados equivocados e subnotificação
(GERALDO BUBNIAK/AEn)
Para amenizar a aglomeração de pessoas nas unidades públicas de saúde, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a realização de testes de detecção da Covid-19 em farmácias. A medida trouxe uma esperança para a população, que deseja fazer os exames, mas também um alerta dos profissionais de saúde, que temem que a venda dos testes deixe o cenário mais obscuro e mascare a realidade. Há um receio de que, em caso de diagnóstico positivo, não seja feita a devida notificação à Vigilância Epidemiológica.
Montes Claros registrava, até ontem, 13 casos confirmados da doença – um deles evoluído a óbito no início de abril. No total, são 1.791 casos suspeitos e quatro óbitos em investigação.
A infectologista Claudia Biscotto avalia que a autorização da Anvisa deve ser olhada com cuidado, pois o teste rápido pode apresentar uma margem de falso positivo ou falso negativo entre 30% e 40%. Ela destaca que é uma falha natural dos testes rápidos e, no caso da Covid-19, pode ser ainda pior, por se tratar de uma doença nova.
“É muito alta a margem e a pessoa pode ir para casa com a sensação, por exemplo, de não estar infectada e, com isso, não tomar os devidos cuidados. Este é um problema. Outra situação é que se a pessoa fizer o teste nos primeiros sete dias do aparecimento dos sintomas, o resultado vai ser negativo, mesmo que ela esteja contaminada. Só a partir do oitavo dia é que o exame acusa. O perigo é a Vigilância Epidemiológica perder a noção destes casos, se não for notificada”, diz Cláudia.
A infectologista aponta o teste sorológico como mais eficaz e o PCR como mais assertivo. Eles devem ser feitos até o sétimo dia do aparecimento dos sintomas.
OUTROS FATORES
A orientação dos profissionais de saúde é de que o teste rápido seja acompanhado por um médico e que, para fechar o diagnóstico, sejam levados em consideração outros fatores simultaneamente, como sinais clínicos.
Os critérios propostos pela Anvisa para a realização dos testes incluem a preparação dos farmacêuticos que irão lidar com a situação e a criação de um espaço específico dentro dos estabelecimentos para atender especificamente a realização destes exames.
OFERTA DO SERVIÇO
O farmacêutico Leandro Guedes, responsável por uma rede de farmácias em Montes Claros, diz que a regulamentação pela Anvisa já era uma medida esperada, a exemplo de outros testes rápidos que já são realizados pelas farmácias e com grande procura. Porém, cada estabelecimento tem a autonomia para decidir se vai trabalhar com o exame ou não.
“Na decisão já estão estabelecidos todos os critérios, como a utilização de EPIs e o treinamento dos farmacêuticos que forem colocados à disposição para a realização dos testes, garantindo a segurança do profissional e do paciente. O resultado sai em aproximadamente 20 minutos e o laudo deverá ser entregue ao paciente, com assinatura do farmacêutico, e também ao órgão competente, no caso, a Secretaria de Saúde, que tem que ser notificada, com resultado positivo ou negativo”, alerta.
Membro da Associação Brasileira de Farmácia, Leandro pontua que a informação dentro do órgão é a de que algumas grandes redes já teriam manifestado interesse em aderir. No caso da farmácia administrada por ele, a situação está em análise.
“Estamos analisando a proposta de fornecedores, que já começaram a chegar, mas nenhum deles teria os testes de pronta-entrega. Em menos de 15 a 30 dias eles não estarão disponíveis”, informou.