Saúde começa pela boca

Infecções na cavidade aumentam em quase três vezes o risco de infarto

Renata Galdino
31/07/2019 às 06:14.
Atualizado em 05/09/2021 às 19:47

Quer manter o coração saudável e a diabetes controlada? Não descuide dos dentes. A boa saúde bucal é aposta para reduzir as chances de um infarto e a glicemia nas alturas. Por outro lado, quem foge da cadeira do dentista e não faz a limpeza adequadamente pode desenvolver infecções na boca e aumentar em quase três vezes as chances de uma enfermidade cardíaca e até morrer.

O alerta foi feito por meio de uma pesquisa publicada no Journal of Dental Research, destinada a artigos científicos. O levantamento examinou pacientes na Finlândia que precisavam ser submetidos ao tratamento de canal ou da gengiva, mas não tinham passado por nenhum deles.

Situação preocupante é também para os diabéticos. Sem tratamento, a glicose descontrolada interfere numa periodontite (inflamação gengival mais séria) e agiliza a perda dos dentes. Por outro lado, o problema bucal tende a elevar os níveis de açúcar no sangue.

“A questão vai além da estética. Boa escovação, visitas a cada seis meses ao dentista e acompanhamento profissional multidisciplinar ajudam a evitar doenças mais graves que acometem outros órgãos”, alerta Alessandra Figueiredo, presidente da Comissão de Odontologia Hospitalar do Conselho Regional de Odontologia (CRO-MG).

Toda dor na região bucal, até mesmo em menor intensidade, merece atenção. De acordo com a especialista, um pequeno incômodo tratado com medicamentos paliativos tem chance de se transformar em um problema bem maior.

Uma vez instalada, uma doença periodontal ou abscesso periapical (acúmulo de pus na raiz do dente) desencadeiam um processo inflamatório crônico. “Dessa forma, elas afetam qualquer outra parte do corpo. Na parede coronária, por exemplo, há depósito de gorduras, fibrose (formação de tecido de cicatriz) e obstrução, causando infarto e AVC (acidente vascular cerebral)”, explica o cardiologista José Pedro Jorge Filho.

Também há bactérias da boca que podem chegar na corrente sanguínea e se alojar na parede do coração, complementa o médico. Nesse caso, há possibilidade do desenvolvimento de uma endocardite –infecção do revestimento interno do órgão muscular.
 
DESCOBERTA
Ao mesmo tempo que as infecções bucais são capazes de piorar o quadro da diabetes, a cavidade também é aliada na descoberta da doença, causada pela má absorção ou falta de insulina no organismo.

É o que afirma a endocrinologista Janice Sepúl-veda Reis. Segundo ela, o hálito cetônico (cheiro de maçã podre) e boca seca dão indícios da enfermidade. “Havendo desidratação, ainda percebe-se o aumento das cáries, fissuras na região bucal, diminuição da salivação e até candidíase oral. Além disso, a doença pode estar descontrolada”, diz a médica, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD).

Uma inflamação, seja ela em qualquer parte do organismo, demanda mais insulina no organismo. Dessa forma, o diabético vai precisar de uma quantidade maior do hormônio.
(Colaborou Simon Nascimento)

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