Letícia Novato segue o exemplo dado pela mãe e leva seu filho, Davi, para estar em dia com os esquemas vacinais (Arquivo pessoal)
Em setembro, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) celebra seu quinquagésimo aniversário, marcando cinco décadas de contribuição significativa. Desde sua criação em 1974, essa iniciativa tem colocado o Brasil em evidência global quando se trata de imunização. Entretanto, nos últimos anos, informações desencontradas têm afetado a credibilidade da ciência e do programa.
Segundo Letícia Novato, sommelier de Montes Claros, acreditar nas vacinas é acreditar no avanço e no progresso da ciência, que está aqui para nos auxiliar, e não o contrário.
“A comprovação cientifica já existe a décadas e desde que começou as vacinações no Brasil, muitas doenças foram praticamente radicadas e com esses movimentos antivacinas, estamos vendo essas doenças retornando. Então, é para mim algo muito óbvio e muito claro, a importância de se vacinar, e desse pacto coletivo que a gente faz para viver sem que essas doenças nos ataques e ataque os nossos filhos”, diz.
Como mãe de um menino de oito anos, Letícia também segue os mesmos cuidados que sua própria mãe teve em relação à imunização. “Tomei vacinas até grávida, porque devemos tomar alguns reforços, e levo meu filho, porque, como disse, acredito nas vacinas, a gente vê comprovações cientificas e comprovações sociais, inclusive, então é algo que faço com muita questão, levar meu filho para vacinar”, afirma.
CABO DE GUERRA
Segundo a médica Januse Borborema, pediatra e coordenadora do departamento de pediatria do Hospital das Clínicas Dr. Mário Ribeiro da Silveira (HCMR), o Programa Nacional de Imunização (PNI) tem mantido uma influência significativa desde o seu início, respaldado por uma sólida base científica amplamente aceita pela sociedade. Inicialmente, não havia questionamentos devido à sua eficácia comprovada — “as pessoas entendiam que era simplesmente o avanço da ciência trazendo modernidade e diminuição de mortalidade para a população”.
No entanto, ela observa que, com o advento das mídias sociais e as mudanças nos conceitos e estilos de vida das pessoas, algumas mentiras têm prejudicado as ações do programa — “É sabido que as fakes news, esses grandes canais de circulação e os influenciadores digitais, com grandes grupos de seguidores, têm a intenção de causar impacto e, muitas vezes, acabam crescendo. Infelizmente, alguns grupos propagam informações das quais têm total desconhecimento, e tudo isso desestrutura o PNI de certa forma. Como dizem, a mentira repetida várias vezes acaba se tornando verdade”, pontua.
Em uma disputa ímpar e desigual, continua Borborema, o sistema de imunização nacional não é dotado de capacidade midiática, por isso não tem uma contraposição. “Então, há um grupo promovendo desinformação e, ao mesmo tempo, o PNI não possui recursos para lidar com isso. Isso causou um desconforto significativo na população, que sempre acreditou nas vacinas, e gerou uma sensação de risco. Os riscos de efeitos colaterais são infinitamente menores do que os benefícios, e essa desinformação é responsável por prejudicar uma campanha que estamos conduzindo há 50 anos, graças a Deus. Essa campanha foi extremamente responsável, pois naquela época, durante a pandemia, tínhamos mais de 200 mortes de crianças a cada 1.000 habitantes, e hoje reduzimos esse índice para pouco mais de 20. Portanto, sabemos que conseguimos erradicar muitas doenças, mas devido à desinformação durante a pandemia, tivemos uma desaceleração temporária. No entanto, estamos retomando nossos esforços para voltar ao que éramos antes”, acredita.
“A vacina é o marco de toda nossa cultura cientifica, que trouxe uma possibilidade da gente radicar algumas doenças que eram responsáveis por grande mortalidade na nossa população, não só no Brasil, mas no mundo inteiro. Então, a vacinação é um marco da ciência para o ser humano”, completa a pediatra.
PROPOSTA
Ainda em elaboração, a última proposta do PNI para o ano de 2024 é a adoção de um calendário de vacinação contra a covid-19 na rotina de crianças menores de cinco anos, e doses de reforço periódicas, ao menos uma vez por ano, para grupos de risco, como idosos, imunocomprometidos (pacientes com sistema imunológico debilitado) e gestantes, seguindo orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS).