Haieska Fagundes fez o transplante de fígado e aguarda na fila do município por outra cirurgia (Arquivo Pessoal)
Em 2023, a norte-mineira Haieska Fagundes foi diagnosticada com câncer no fígado e falência do órgão. A única alternativa para vencer a enfermidade era o transplante. Ela entrou na fila, e em quatro meses, o doador apareceu. Uma fila, segundo ela, extremamente transparente, com acesso fácil e a possibilidade de acompanhar o andamento.
Em virtude do transplante, as sequelas são inevitáveis, e o desdobramento exige outras duas cirurgias: a correção da hérnia e a cirurgia reparadora na barriga. No entanto, ao contrário da fila para o transplante, no sistema da Secretaria Municipal de Saúde, ela esbarrou na burocracia, desorganização e ausência de transparência. Com a documentação que comprova as idas e vindas aos órgãos de saúde, ela decidiu tornar pública a situação.
No início de novembro, Haieska procurou o seu PSF e entrou na fila para agendar a consulta e a cirurgia. Após passar pela consulta com o especialista e ser constatada a necessidade de realizar a cirurgia com uma equipe, ela retornou ao PSF para saber a data da cirurgia — “Fui informada de que meu nome não constava da lista, que eu não poderia acompanhar o andamento, pois somente a prefeitura tem acesso a lista e autonomia para definir a ordem de prioridade. Isso me causou uma revolta muito grande e refletiu no meu corpo, senti mal, fiz vômito e coloquei até em risco o transplante, porque voltou o remédio que eu havia ingerido”.
Na última sexta-feira (12), ao tornar público o assunto em rede social, o nome que não estava no sistema, estranhamente apareceu, e ela foi sugestionada a não “divulgar” o assunto.
“Não vou ficar calada. Tem outras pessoas passando pela mesma situação, com nomes sumindo do sistema e uma burocracia absurda que não tem resultado para a população. É um descaso e eles viram que ia repercutir negativamente”, conta Haieska, que recebeu mensagens de histórias semelhantes. Para ela, o transplante foi um divisor.
Na edição de 24 de junho de 2023, O NORTE mostrou a história de Luciana Ribeiro, diagnosticada com câncer, que faleceu antes de conseguir realizar a cirurgia. A longa espera pelos exames no município fez com que ela vendesse sofá, geladeira e outros móveis para arrecadar o valor correspondente ao custeio dos exames.
“Se ela tivesse conseguido o tratamento em tempo hábil, poderia ter um final diferente. Infelizmente, ela não conseguiu. O SUS é um sistema maravilhoso, mas não funcionou como deveria”, lamentou Patrícia Guimarães, que chegou a organizar uma rifa para socorrer Luciana.
Na rede social, a internauta Evely Rodrigues diz que “ o filho é autista e espera a consulta com um neurologista do município há dois anos”. Nanda Gonçalves relata que o avô espera por uma cirurgia de vesícula desde 2018 e, em agosto de 2023, ao buscar informação sobre o lugar em que ele ocupava na fila, o nome havia desaparecido — “Ele teve que entrar na fila novamente e começar do zero”.
Até o fechamento desta edição, a assessoria de comunicação da Prefeitura não forneceu informações ou se manifestou sobre o assunto.