Secretaria de saúde contabiliza atendimentos que não são concretizados (Fábio Marçal/Ascom prefeitura)
Em Montes Claros, uma cidadã que depende do sistema de saúde municipal denunciou a dificuldade em obter atendimento odontológico, o que já se arrasta por oito meses. Apesar de ter recebido três encaminhamentos, ela ainda não conseguiu ser atendida, levantando suspeitas de possíveis irregularidades no serviço de saúde local.
Embora o direito ao tratamento seja assegurado por lei, a dona de casa Maria dos Santos, não consegue passar pelo procedimento por falta de um laudo de outro profissional, que, ao menos no papel, existe na prefeitura, o reumatologista. Ela narra a sua situação e acredita que está sendo usada para mascarar a realidade.
Em meados de fevereiro desse ano, Maria sentiu uma forte dor de dente e foi à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Chiquinho Guimarães. A espera pelo atendimento odontológico foi de 5h. “Não porque havia fila para o dentista, mas porque a fila é única para qualquer situação e o dentista ficou de braços cruzados, pois eu não havia passado pela triagem específica. Tive que esperar mais de 100 pessoas que estavam aguardando atendimento médico, uma situação que nada tinha a ver com a minha”, conta.
A espera, provocada pela desorganização, fez com que a paciente sofresse aumento de pressão arterial em virtude da intensidade da dor. Ao ser atendida, recebeu um papel indicando que ela deveria buscar a sua unidade de saúde para se submeter a um raio-x, pois o procedimento não é feito na UPA. Foi orientada a fazer o raio-x por meios próprios, pois na Unidade Básica de Saúde (UBS) do seu bairro não faz e para conseguir em outra unidade seria demorado.
“Estou desempregada e sem condições. Consegui o dinheiro emprestado para fazer o raio-x já no outro dia, tamanha era a minha dor e necessidade de resolver o problema. Voltei à minha unidade com o resultado do raio-x e só no final de junho, depois de três meses, consegui ser aparentemente ‘atendida’ em uma UBS de outro bairro”, disse.
INDO E VINDO
O profissional de odontologia da UBS orientou a dona de casa a passar por um reumatologista antes de iniciar o tratamento. “O reumatologista tem que fazer avaliação e me dar um laudo para o dentista fazer o meu tratamento. Levei o documento na UBS do meu bairro, entrei na fila, mas até agora não consegui ser atendida pelo reumatologista. Saiu outro agendamento para o dentista, fui em outra unidade, mas o dentista também não fez nada pela falta do laudo”, explica.
Com diagnóstico de artrite reumatoide, fibromialgia e dermatite crônica, Maria, sem recursos para transporte, percorreu grandes distâncias para atendimentos que não ocorreram, embora registrados no sistema de saúde. Seu quadro de saúde piorou devido aos esforços. A paciente relata que, na prática, não recebeu atendimento desde fevereiro, contrariando o que consta no sistema.
“São oito meses tomando medicação para uma dor de dente. Eles fazem de conta que estão me dando atendimento, isso está no sistema deles, mas, na verdade, não aconteceu. Só recebo papel para dentista, cada dia em um lugar diferente e nenhum deles faz o procedimento sem laudo do reumatologista. Tenho outro agendamento de dentista para outubro, mas uma coisa depende da outra”, desabafa a paciente, que não poupa críticas à municipalidade. “Vou perder a vaga por falta de um trabalho em rede, porque os profissionais trabalham no automático e não nos tratam como seres humanos de acordo com as necessidades de cada um. Falta organização e a gente paga o preço, danificando a saúde ainda mais. Vai resolver um problema e volta com dois. O pior é que esses falsos atendimentos entram para o sistema. É uma enganação. Não sei se estão lucrando com isso. Tudo é possível”, lamenta.
Segundo apuração, após o atendimento inicial na UPA em fevereiro de 2024, a paciente obteve três encaminhamentos para diferentes postos de saúde, onde compareceu sem sucesso em iniciar o tratamento. Com a persistência da dor de dente, ela continua dependente de medicação e enfrenta novos problemas de saúde devido ao uso contínuo de tratamentos temporários. A paciente relata que, mesmo sem laudo, teme perder a vaga caso não compareça às consultas. Sem condições financeiras para os custos de transporte, ela segue indo e vindo sem obter uma solução definitiva.
A Prefeitura de Montes Claros foi questionada sobre o caso, mas até o fechamento desta edição, não houve resposta.