(LUTE)
Depressão em diferentes graus, bulimia, anorexia, síndrome do pânico, crise de ansiedade, uso abusivo de álcool, automutilação. Todos esses transtornos foram identificados na grande maioria de crianças e adolescentes entrevistados em uma pesquisa realizada em escolas públicas e privadas de cinco capitais brasileiras, inclusive Belo Horizonte. Entre os 3.115 ouvidos, 75% demonstraram ter algum tipo de adoecimento emocional ou mental.
O estudo foi realizado pelo neuropsi-cólogo Hugo Monteiro Ferreira, professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco. O resultado do levantamento foi compilado no livro “A Geração do Quarto: Quando Crianças e Adolescentes Nos Ensinam a Amar”, que será lançado no segundo semestre deste ano.
O pesquisador verificou que os adoecimentos acontecem em todas as classes sociais, mas se manifestam de maneiras distintas, conforme a renda da família. “O percentual de pessoas com síndrome do pânico é maior na classe média do que nas classes mais vulneráveis. Já entre os mais pobres, o adoecimento tende a ser mais ligado à violência”, explica.
A pesquisa demonstra o perigo do isolamento intenso vivenciado por adolescentes. O massacre de Suzano (SP), quando dois jovens ex-alunos mataram oito pessoas, levantou ainda mais a necessidade de se debater e de os pais voltarem a atenção para os filhos.
TRAUMAS
Dentre os 3.115 estudantes que responderam ao questionário, Ferreira selecionou 238 adolescentes que demonstraram alto grau de comprometimento emocional para entrevistas mais elaboradas.
“Verifiquei que todos eles eram vítimas de bullying. E posso dizer que isso deixa traumas psiquiátricos e psicológicos que são levados para a vida adulta. Essa vítima tende a ficar violenta, direcionando a agressão a si mesma ou a outras pessoas”, explica o pesquisador, que cunhou o termo “Geração do Quarto” para definir os jovens nascidos no século 21 que vivenciam um grande isolamento e fazem uso intenso da internet.
Para ele, só a mudança no comportamento dos pais pode mudar a realidade dos adolescentes em sofrimento.
Na pesquisa, a maioria dos entrevistados reclamou da dificuldade que os adultos têm em interagir com eles e da falta de diálogo. Os problemas dos pais acabam refletindo nos filhos.
SILÊNCIO NAS CASAS
“Há uma terceirização na educação da criança e um grande isolamento e silenciamento nas casas. Existe pouca escuta e troca afetiva. E os pais também são dependentes das redes sociais”, afirma.
A recomendação de Ferreira para evitar o adoecimento emocional dos jovens é o acompanhamento da vida dos filhos, tanto a real quanto a virtual.
“Converse com a criança sobre o que ela tem visto na internet, selecione o que ela pode ver. Criança tem que ser orientada e ouvida sobre isso. Já com os adolescentes deve-se estabelecer regras, limitando o tempo na web. É preciso acompanhar os filmes, séries, músicas que estão sendo acessados”, diz o psicólogo, lembrando que jogos extremamente violentos devem ser proibidos de maneira propositiva –ou seja, explicando o motivo pelo qual houve a censura.