Taciana Sarmento: “para evitar o risco coloco os produtos sempre no alto” (arquivo pessoal)
Produtos utilizados na higienização e limpeza de ambientes, como detergentes, desinfetantes, álcool, cloro e cera, entre outros, estão inseridos no cotidiano das famílias brasileiras, mas nem sempre são manuseados da maneira correta. Ignorar as medidas de proteção e procedência pode trazer riscos à saúde.
De acordo com o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), em Minas Gerais foram registrados 145 casos em crianças de um a quatro anos em 2023, e de janeiro a julho de 2024, correspondentes ao contato com esses produtos. Na faixa etária de 20 a 64 anos foram registrados 173 acidentes no mesmo período, causados pela má utilização dos produtos, misturas de componentes reagentes ou uso de itens irregulares.
Com o objetivo de minimizar o problema, o Governo de Minas, por meio da Vigilância Sanitária Estadual, está orientando os usuários quanto aos cuidados que devem ser adotados e oferecendo canais de denúncia a qualquer cidadão que perceba a fabricação ou venda clandestina dos produtos.
Taciana Sarmento é biomédica de formação, mas atualmente se dedica a maternidade em tempo integral. Mãe de três crianças, de 11, quatro e dois anos, ela é cuidadosa no armazenamento dos produtos. “Para não correr riscos, sempre guardo em um lugar alto e/ou fechado. Converso com elas deixando claro que é veneno e perigoso”, conta. Entretanto, na correria que a própria maternidade impõe, ela confessa que não costuma usar luvas ou máscaras no dia-a-dia ao manusear os saneantes e percebeu que a água sanitária deixa a pele ressecada. Taciana diz ainda que já adquiriu desinfetantes com vendedores ambulantes. “Costumo comprar em supermercado, mas já comprei na porta de casa, aqueles que são vendidos na garrafa pet. O cheirinho é bom e eu queria ajudar o ambulante. Mas realmente, a gente não sabe a origem, o que o produto contém e o risco existe”, reflete.
RISCOS QUÍMICOS
Teddy Faria, químico do laboratório da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), destaca que as donas de casa devem dar preferência aos produtos que têm rótulos, mas, ainda assim, não estão livres do risco. Recentemente, ele testemunhou a situação de uma mãe que conseguiu salvar uma criança ao ligar para o telefone do SAC da empresa, que constava na embalagem. “O frasco e o líquido eram coloridos, estavam em local de fácil acesso e a criança ingeriu. A mãe encontrou a criança desfalecida, ligou para o telefone indicado e recebeu as orientações a tempo”, diz.
O profissional ressalta que o produto clandestino muitas vezes é a base de formol, não tem a dosagem correta, a composição, e a fabricação sem o acompanhamento do químico oferece risco tanto à saúde quanto ao meio-ambiente. “Até um sabão caseiro, se for acrescido de outro componente como um sabão em pó, passa a ser danoso. Outra coisa é em relação à espuma. Não significa que o produto que espuma muito é melhor do que outro. A composição e a dosagem certa são necessárias para garantir a qualidade e minimizar os riscos”, afirma.
ORIENTAÇÕES
Antônio Honorato da Silva Junior, gerente de uma rede de produtos de limpeza em Montes Claros, afirma que a maior preocupação é levar aos clientes produtos que venham solucionar problemas e não, causar outros. Para isso, a rede considera bem-vinda a atuação de órgãos fiscalizadores e de vigilância sanitária, que trazem ao comprador, do atacado ou varejo, a segurança de estar comprando um produto com certificado sanitário, que segue as orientações técnicas. “Orientamos nossos clientes sobre a necessidade de seguir as indicações explícitas no rótulo do produto. Quanto ao manuseio, a indicação é para que sejam utilizados EPIs como luvas, botas, e máscara, ao ter contato com produto químico, pois grande parte é a base de ácido e o contato com a pele ou a inalação, podem ter consequências graves”, diz Antônio, que chama a atenção também para as misturas preparadas em casa. “É comum as pessoas pensarem que ao combinar a ação de produtos de limpeza, é possível ter uma ação higienizadora mais potente. Contudo, o certo é usar cada produto separadamente, e não os misturar, para evitar reações químicas adversas. Procurar uma loja especializada, com profissionais capacitados para a melhor indicação de acordo a sujidade apresentada, é o melhor caminho”, diz.
Denúncias sobre irregularidades podem ser feitas na Ouvidoria Geral do Estado de Minas Gerais pelo número 162 ou pelo endereço eletrônico: ouvidoriageral.mg.gov.br . As unidades de Atendimento Integrado (UAI) em todo o estado também estão autorizadas a receber denúncias. Em Montes Claros, o UAI está localizado no Montes Claros Shopping. A Anvisa disponibiliza em seu portal a consulta sobre produtos. A busca é feita pelo nome, empresa e categoria.