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Domingo,24 de Novembro

Decisão do STF sobre aborto repercute em Montes Claros

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Jornal O Norte
03/12/2016 às 06:00.
Atualizado em 15/11/2021 às 15:42

Christine Antonini
Repórter

Um dos assuntos que mais repercutiram no Brasil essa semana foi decisão tomada pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) que decidiu que o aborto provocado até o terceiro mês de gestação não será mais crime. No Brasil, o aborto é considerado legal em casos de gravidez gerada de estupro ou quando a gestação apresentar risco de vida para a mãe.

A discussão dividiu opiniões de especialistas, religiosos e de pessoas que se interessam pelo assunto e que foram ouvidas por O Norte. A professora Paula Melo é contra o aborto por considerá-lo um “assassinato”.

- O feto tem vida. Por outro lado, eu acredito que a legalização do aborto acabaria com muitas clínicas clandestinas, evitando assim a precariedade no atendimento e a morte de muitas mulheres. Sou contra o aborto. A favor da legalização? Ainda não tenho certeza – pontua.

A decisão não legaliza o aborto no Brasil, mas a polêmica tomou vulto envolvendo a decisão do STF. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, inclusive, resolveu criar uma comissão especial para discutir o tema e incluir na Constituição regras claras sobre o aborto

O médico ginecologista, Jean Mendes, que já havia sido ouvido sobre o assunto, quando o Papa Francisco autorizou que os padres perdoassem pessoas que praticaram aborto, reiterou que legalizá-lo, mesmo que nos primeiros três meses de gestação, conforme decisão do STF, não trará redução da prática clandestina.

- A educação em saúde e a educação sexual de forma sistemática, sobretudo nas escolas, é que podem reduzir o número de abortos – reitera o médico, enfatizando ser preciso rever os programas de educação em saúde de forma que possam sensibilizar os jovens.

ABORTO
De acordo com dados do Sistema Único de Saúde – SUS, em 2015, pelo menos 181 mil mulheres foram atendidas apresentando complicações causadas por abortos clandestinos, provocados, e pelo menos 59 mil delas morreram.

Há dez anos, em Montes Claros, a atendente Flávia (nome fictício para preservar a identidade da entrevistada), de 26 anos, fez um aborto por contra própria, sem avisar ninguém, nem mesmo ao então namorado – que seria o pai da criança. Ela lembra que estava grávida “já de dois meses” quando tomou um remédio abortivo.

- Eu tinha 16 anos, era muito jovem e meus pais muito conservadores. Sempre foram. Lembro de todos os detalhes como se fosse ontem: esperei todos saírem de casa e tomei o remédio. Em seguida fui para o banheiro com dores muito fortes. Doía tanto que não conseguia ficar de pé. Sentei no vaso sanitário e senti o feto saindo do meu útero. Nem olhei e dei descarga. Não sei se me arrependo do que fiz ou se errei. Se eu devo ser perdoada por isso, como disse o Papa. A verdade é que eu não tinha estrutura para criar um filho e muitas jovens, hoje, passam por isso. Hoje é diferente, sou mãe, demorei a me engravidar de novo e até pensei que fosse castigo de Deus. Mas meu filho nasceu e é a minha benção. Já não sou tão jovem. Estou preparada financeiramente e psicologicamente para criar um filho – diz Flávia, finalizando a entrevista que fez questão de conceder a O Norte.

- Talvez assim, com a minha experiência, eu possa ajudar outras jovens no sentido de que tenham cuidado para não abrirem mão de um dia serem mães, com convicção, um prêmio que a mulher tem neste mundo.

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