saúde

Conversas familiares devem abordar a doação de órgãos, diz médico

Márcia Vieira
Publicado em 29/09/2023 às 20:38.
Alexandre Magno Cardoso: “23 anos depois de passar pelo primeiro transplante, estou novamente na fila” (Márcia Vieira)

Alexandre Magno Cardoso: “23 anos depois de passar pelo primeiro transplante, estou novamente na fila” (Márcia Vieira)

A última quarta-feira (27) foi dedicada à conscientização sobre a doação de órgãos, e durante todo o mês, o assunto foi abordado por meio de campanhas dedicadas a ele. Em Montes Claros, são realizados transplantes de rim, córnea, fígado, tecido musculoesquelético e medula óssea. De acordo com dados do Hospital Santa Casa, onde esses serviços são oferecidos, em todo o ano de 2022 foram efetuados 51 transplantes de rim e 25 de fígado. Em 2023, até o mês de julho, já foram realizados 28 transplantes de rim e 16 de fígado.

Para o médico Luiz Fernando Veloso, responsável pelo setor na cidade, trazer o assunto para o diálogo familiar é de extrema importância e uma das maneiras de vencer os tabus. “É um tema obrigatório. Dez por cento da população vai morrer com morte encefálica e a família vai ser chamada. É mais fácil decidir quando ela sabe a opinião de quem morreu”, diz o médico, ressaltando que há uma necessidade de se entender e reconhecer a segurança de todo o sistema. 

“Temos no Brasil um sistema de diagnóstico de morte encefálica extremamente seguro. E temos uma legislação de distribuição de órgãos, eficaz. A lista de espera é nacional, com priorização regional, para não ocorrer imprevistos que afetem o resultado”, afirma, pontuando que o tempo que o órgão fica fora do corpo é relevante. No caso do coração, o tempo máximo é de 6h, o fígado, 12h e o rim até 48h. Já a córnea, por ser tecido, tem um tempo maior de conservação, entretanto, em todos os casos, o médico alerta que quanto menos tempo exposto, melhor. 

A doação de órgãos pode ser de cadáver (quando constatada a morte encefálica) ou de doador vivo. No primeiro caso, obrigatoriamente a doação acontece por meio da fila de espera e é anônima. Já o doador vivo pode atender até o quarto grau de parentesco, incluindo cônjuge, e o órgão vai diretamente para o parente em espera. 

“É uma cirurgia muito segura, planejada, realizada em pacientes saudáveis e na maioria das vezes a pessoa tem alta no dia seguinte à doação”, explica. 

Luiz Fernando destaca que o papel do transplante é substituir um órgão que tenha falhado de forma terminal por outro órgão. No entanto, no caso específico do rim, podem ocorrer algumas situações peculiares, uma vez que, ao ser retirado, o órgão transplantado trata a consequência, mas não elimina a causa principal. “No coração e no fígado, virtualmente todos os pacientes são tratados da doença que os levaram a perder o órgão. Pode acontecer, mas é incomum. No caso do rim, é uma regra, não significa que vá acontecer logo, mas é uma característica própria do transplante de rim. De maneira generalizada são vários os mecanismos que podem levar a perda do órgão” completa.
 
EXPECTATIVA
Alexandre Magno de Freitas confia no procedimento e quer mais uma chance de viver sem hemodiálise. “Fiz o transplante, fiquei 23 anos vivendo muito bem. Tinha restrição, não poderia comer feijoada todo dia, tomar cerveja direto, mas tive uma vida completamente normal, saindo, curtindo, trabalhando e viajando”, conta. Há cinco anos ele percebeu que o corpo estava inchando e resistiu até procurar um médico. 

“Na verdade, eu sabia que precisava, mas não procurei de imediato, porque não queria entrar na máquina de novo. Enfim, tive que voltar e estou esperando uma nova chance. Não me arrependo de ter feito o transplante. Já fui chamado, mas tinha alguém que era mais compatível. Estou esperando. Quero é viver”, diz.

Depois de dois anos e meio na fila aguardando um rim, o eletricista Adair José de Jesus, residente em Guanambi, recebeu o chamado que tanto esperava. Veio imediatamente para Montes Claros e se submeteu a cirurgia. 

“Ter feito o transplante representa para mim uma vida melhor. Ficava muito cansado ao fazer a hemodiálise. Não tive medo nenhum de fazer o transplante. Tive alta e fiquei 40 dias tranquilo” — o paciente relata que retornou ao hospital 60 dias depois para um ajuste na medicação após ser constatada uma alteração no exame, mas disse estar se sentindo bem. Ao conversar com O Norte, ele quis deixar um recado:

“Tem muita gente na fila de transplante, principalmente de rim, e a pessoa que está com saúde não pensa que pode acontecer com ela, então é importante o assunto estar na mídia para conscientizar as pessoas”, declara.

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