Enquanto milhares de pessoas aguardam por órgãos nas filas de transplante, 60% dos corações e dos pulmões destinados à doação acabam no lixo. Um dos motivos para isso é o tempo limitado de conservação dos tecidos: os rins, mais resistentes, aguentam até 36 horas. Pâncreas, fígado e intestino não podem ficar mais de 12 horas no regime hipotérmico. Coração e pulmão, se não transplantados em quatro horas, perdem a serventia. Se apenas metade desses órgãos descartados chegasse aos receptores, listas de espera acabariam em, no máximo, três anos.
Existem métodos mais avançados de armazenamento, e um deles, a criopreservação, assegura a validade praticamente infinita dos materiais orgânicos. Eles são congelados a temperaturas extremamente baixas, entre -160ºC e -196ºC. Não à toa, algumas empresas congelam cadáveres na expectativa de que, um dia, a ciência consiga reanimá-los. Também é como se estocam sêmen e óvulos para fertilização, assim como o sangue do cordão umbilical.
ESFARELAMENTO
O problema de se usar essa tecnologia para a preservação de órgãos é que, no momento de se reaquecer os tecidos para o transplante, eles esfarelam. Outra intercorrência comum é a formação de cristais de gelo, que inviabilizam o material. Isso, porém, pode mudar.
No trabalho divulgado nesta semana, os cientistas norte-americanos apresentaram um sistema que permite aquecer os órgãos centenas de graus Celsius por minuto de maneira uniforme e sem danificá-los.
Por enquanto, o método foi testado com amostras pequenas, contendo 50 mm de tecido. Contudo, a expectativa dos cientistas é conseguir atingir escalas maiores.