Saúde

Angústia, dor e revolta na fila de espera do SUS

Pacientes que aguardam por exames e cirurgias pelo SUS pedem mais transparência no sistema

Márcia Vieira
Publicado em 25/06/2023 às 01:29.
Na fila de espera para fazer exames pelos SUS há 5 meses, Luciana já perdeu a esperança

Na fila de espera para fazer exames pelos SUS há 5 meses, Luciana já perdeu a esperança

Milhares de pessoas aguardam todos os dias serem chamadas pelo sistema de saúde do município, a fazer exames, consultas e até cirurgias. Espera, que em muitos casos, pode ser fatal. Quando não mata, a espera leva ao agravamento das doenças e o que poderia ser resolvido de maneira simples, se torna uma angústia, deixando todos os envolvidos ainda mais fragilizados.
É o caso de Luciana Ribeiro.Surpreendida com um diagnóstico de câncer na tireoide, aos 41 anos, desempregada, mãe de 4 filhos, um deles autista, ela já vendeu sofá, geladeira e tudo o mais de valor que tinha, para custear seu trata- mento, já que não recebe o suporte necessário para exames e remédios, do sistema público de saúde. Mas ainda não foi o bastante. Para dar continuidade aos exames e tentar fazer a cirurgia, evitando que a doença progrida, ela está recebendo ajuda de amigos através de uma rifa, com o propósito de arrecadar o dinheiro necessário.
“Há cinco meses eu espero os exames. O caroço cresceu, tive que repetir um dos exames, pagando particular e a situação só vai piorando. A alimentação é restrita, tenho muita dor e dificuldade para engolir. A cirurgia particular custa entre 8 e 10 mil reais. Não tenho condições de pagar, mas não sei em qual lugar da fila estou e se vai dar tempo. O município não informa, só diz para esperar. Minha mãe teve câncer de útero, meu tio de garganta, minha tia de mama e meu avô também teve. Tenho medo, pois eu perdi pes- soas com a doença. Quero viver e poder cuidar dos meus filhos”, lamentou Luciana.

Solidariedade
Enquanto o município não resolve, do outro lado do oceano, há quem se sensibilize, como Patrícia Dupin, que organizou uma rifa para auxiliar no custeio de exames para Luciana.
“Eu conheço a Lu, ela já teve que se desfazer de móveis para cuidar da saúde e agora ia vender a televisão, única distração do filho autista. Ela não pode esperar. A rifa é uma tentativa de ajuda. Infelizmente o sistema de saúde não funciona. Não deveria ser assim”, afirmou Patrícia.

Veto
Em passado não muito distante, a Câmara Municipal apresentou um projeto propondo que a população em fila de espera pudesse acompanhar o andamento da situação pela internet, utilizando um número de protocolo, entretanto, o prefeito Humberto Souto vetou a medida e no momento não há nenhum mecanismo que possibilite ao paciente verificar se há transparência no processo.
Para C. R. moradora da região sul da cidade, está claro que não é de interesse do município que a população acompanhe os bastidores. Cerca de 10 meses foi o tempo que ela levou para conseguir um exame, depois de muitas idas e vindas entre posto de saúde e hospital.
“Provavelmente eles cedem a interesses particulares e colocam na frente pessoas que eles escolhem. Só isso explica tanta demora. O município tem convênio, então tem que cobrar dos prestadores de serviço a eficiência e atendimento em tempo hábil. Isso é responsabilidade do município, que faz corpo mole e não fiscaliza. Uma pena porque quem sofre é a população. Já ouvi casos que quando sai o exame, a pessoa já morreu”, desabafa.
A Assessoria de Comunicação da prefeitura não respondeu a reportagem até o fechamento da edição. Na secretaria de saúde do município, nesta sexta-feira, as ligações não foram atendidas.

*Para ajudar Luciana entre em contato através do telefone (38) 999828614

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