Ruído silenciável

Comum em mais de 30% da população, ronco pode e deve ser tratado

Patrícia Santos Dumont
17/09/2019 às 09:06.
Atualizado em 05/09/2021 às 21:47

Comum em um terço da população e naturalizado por muita gente, o ronco costuma ser interpretado como caminho sem volta. O que nem todo mundo sabe é que o problema não só deve como pode ser silenciado. Manifestado de forma habitual, até três vezes por semana, ou acompanhado por apneia – parada respiratória momentânea –, encontra em exercícios de fonoaudiologia, na perda de peso e até na maneira de deitar na cama ao dormir estratégias eficazes para ser minimizado ou combatido. 

O vendedor Carlos Roberto Cabral, de 75 anos, não sabia disso até procurar um médico. Roncador reconhecido de longe, sobretudo pela esposa, Iná, investigou, descobriu uma bronquite, passou a exercitar-se e incluiu um aparelho intraoral, feito sob medida, na rotina.

O resultado não foram só as noites mais silenciosas, mas também dias mais tranquilos. “A qualidade de vida melhora consideravelmente”, comemora o casal. 
 
OUTROS PROBLEMAS
Responsável pelo tratamento de Cabral, o neurologista e médico do sono Rogério Gomes Beato explica que as medidas são essenciais para dar fim ao desagradável barulho e evitar o surgimento de outros problemas. Graves, inclusive. 

Provocado pela vibração das vias respiratórias, em função de um estreitamento ou obstrução, o ruído, em alguns casos, pode estar associado a arritmias cardíacas, infartos, AVCs, além de dificuldade de raciocínio e falta de memória.

Episódios repetidos de apneia levam a uma menor oxigenação do sangue e, consequentemente, a uma série de danos ao organismo. 

“Em geral, as pessoas só buscam atendimento (neurológico) quando sentem sonolência excessiva durante o dia, provocada pela apneia, que leva a noites mal dormidas. Por outro lado, quem acorda várias vezes à noite também pode estar sofrendo com eventos respiratórios”, alerta Rogério Beato, presidente da Associação Brasileira do Sono (ABS) em Minas Gerais e professor no Departamento de Clínica Médica da Escola de Medicina da UFMG.
 
MULTIDISCIPLINAR
Detectar o ronco passa por uma investigação minuciosa conduzida por múltiplos profissionais – médicos, fonoaudiólogos, dentistas e psicólogos. Uma das abordagens é a polissonografia, exame que mede, no consultório ou na casa do paciente, atividades respiratória, muscular e cerebral durante o sono. Informações coletadas por sensores espalhados pelo corpo são analisadas por programas de computador, que transformam os dados em padrões detalhados sobre o descanso do indivíduo.

Embora menos desconfortável, justamente por manifestar-se com menor frequência e num volume mais baixo, o ronco habitual pode evoluir para episódios com parada respiratória. Estima-se que 33% da população brasileira sofra com o problema, mais incidente entre os homens. Mulheres na menopausa também têm maior propensão.

Uma das medidas mais eficazes, principalmente para quem ronca em decorrência de alergias e doenças respiratórias, são exercícios específicos de fonoaudiologia. <CW32>Prescritos por profissionais certificados em Medicina do Sono, incluem novas formas de mastigar, engolir e de falar, ajudando a devolver o tônus à musculatura fragilizada e impedindo que o problema volte.

Presidente do Comitê Interdisciplinar de Fonoaudiologia do Sono da ABS, Esther Bianchini explica que as atividades devem fazer parte da rotina, até mesmo de quem já se livrou do ronco. Semelhantes à musculação, que fortalece o corpo, os exercícios, ensinados em consultório e perpetuados em casa, ajudam a recuperar a firmeza dos músculos envolvidos na respiração. O tratamento básico inclui sessões semanais e pode durar até três meses.

“Quando um paciente me pergunta quando ficará livre (dos exercícios), respondo: ‘no mesmo dia em que puder parar de escovar os dentes’”, brinca Esther.

Na prática, o passo a passo ensinado pelo especialista funciona mais ou menos como uma ginástica voltada para o aparelho respiratório. Por causa de alergias ou de alterações anatômicas, como o desvio de septo nasal ou a hipertrofia da adenoide, algumas pessoas criam o hábito de respirar pela boca, mesmo depois de terem o problema inicial tratado.

Exercícios de fono são indicados
"De maneira geral, pode acontecer de a pessoa ficar com a musculatura flácida mesmo voltando com a respiração normalmente, pelo nariz. A sugestão é incluir os exercícios em atividades que já fazem parte da rotina”, acrescenta Esther Bianchini.

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