Apesar de alertas contra “kit covid”, remédios estão em falta em farmácias mineiras

Luiz Augusto Barros
@luizaugbarros
04/05/2021 às 00:51.
Atualizado em 05/12/2021 às 04:50
 (MAURICIO VIEIRA/hoje em dia)

(MAURICIO VIEIRA/hoje em dia)

Ivermectina, azitromicina e hidroxicloroquina. A venda desses medicamentos, que não apresentam eficácia comprovada na prevenção e no tratamento contra o coronavírus, disparou em Minas. Em algumas drogarias até falta estoque. O uso do que tem sido chamado de “kit Covid”, que pode agravar o quadro clínico de alguns pacientes, preocupa o Conselho Regional de Farmácia. 

Em alguns estabelecimentos, a venda é feita sem receita, o que configura infração sanitária. A procura pela ivermectina – indicada contra infestações por parasitas, como piolhos e sarna – cresceu 200% durante a pandemia, segundo o Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos de Minas (Sincofarma). 

“Quando começou a ser falado que esse produto combatia o coronavírus, muita gente foi às drogarias, porque não precisa de retenção da receita”, afirmou Rony Anderson, vice-presidente do Sincofarma. Segundo ele, oito a cada dez receitas de pacientes diagnosticados com a Covid-19 apresentam ao menos um dos remédios do “kit”. 

Em contato com dez farmácias de BH, de diferentes redes, a reportagem constatou o aumento da demanda. Em uma das lojas consultadas, havia apenas uma caixa da azitromicina, antibiótico usado para conter infecções bacterianas. De acordo com uma atendente, o medicamento está em falta em vários laboratórios.

O mesmo cenário é visto com a hidroxicloroquina, que serve para o tratamento da malária e lúpus. Diante do crescimento acelerado do consumo, a receita passou a ser recolhida. 
 
MÃOS VAZIAS
O problema é que muita gente que realmente necessita do medicamento para o combate dos males contra os quais ele é eficaz ficou de mãos vazias. Segundo a Secretaria de Estado de Saúde, o produto está sem estoque na Farmácia de Minas da capital. Os motivos, segundo a SES, estão relacionados ao atraso na entrega pelos fornecedores.

Para o Conselho Regional de Farmácia de Minas Gerais, a situação é preocupante. De acordo com Danyella Domingues, assessora técnica do CRF-MG, os fiscais orientam as drogarias a não vender os medicamentos sem prescrição.

“É uma infração sanitária. Sendo constatada, o estabelecimento está sujeito a sanções, a depender do que foi imposto pela vigilância sanitária do município, que pode ser, inclusive, o fechamento”, explicou.

Segundo o médico Unaí Tupinambás, professor da UFMG e membro do Comitê de Enfrentamento à Covid da capital, há relatos de pessoas na fila de transplante hepático por conta da ivermectina. “Todos os trabalhos em andamento, alguns já concluídos, mostraram, inclusive, que podem piorar o quadro clínico daquele paciente, principalmente a hidroxicloroquina, que pode causar arritmia cardíaca, e pacientes com Covid podem ter inflamações no coração”.

Por nota, o Conselho Federal de Medicina afirmou que é decisão do médico realizar o tratamento que julgar adequado, desde que haja aval do paciente e o esclarecimento de que não existe benefício comprovado. 

“Deve ser lembrado que a autonomia do médico e do paciente são garantias constitucionais, invioláveis, que não podem ser desrespeitadas no caso de doença sem tratamento farmacológico reconhecido”, disse o comunicado do CFM.

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