Vereadores falam sobre a crise política, esperam punição para os corruptos e temem que a sujeira de Brasília contamine a todos

Jornal O Norte
04/08/2005 às 16:56.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:49

Eduardo Brasil


Repórter


eduardo@onorte.net

A crise política sem precedentes, que arrasta o Brasil para o fundo do poço, agravada pela enxurrada diária de denúncias de roubalheiras praticadas a partir dos bastidores do governo federal, e que vão sendo confirmadas pelas investigações do congresso nacional não poderia deixar de ser tema na câmara municipal de Montes Claros. Logo na primeira reunião ordinária deste semestre, na última terça-feira, o assunto foi lembrado da tribuna.

- É um tema que coça a língua de todos nós. É lamentável o que o PT vem fazendo com o povo brasileiro, considerando que Lula prometeu varrer a corrupção do país. Ocorre o contrário. O que o governo petista fez foi deixar em suspeita a idoneidade do presidente escandalizando a nação com as práticas condenáveis a que se deixou permitir - ressaltou Antônio Silveira - PMDB.

Além de ruborizar o país as falcatruas capitaneadas pelo PT em Brasília, com a aquiescência de vários outros partidos, ainda que praticadas, espera-se, por uma restrita súcia de larápios acabam repercutindo negativamente na classe política como um todo. Este é o pensamento do porta-voz do prefeito na câmara, Cori Ribeiro – PPS. Segundo ele, a crise acelera o processo de desgaste que o político brasileiro vem sofrendo nas últimas décadas.

- A crise ajuda a denegrir ainda mais a nossa imagem, embora sejamos membros de uma casa que prima pelos princípios morais e éticos. Mas essa porcalhada (sic) acaba no atingindo a todos - disse ele.

DA POLÍTICA PARA O CRIME

Athos Mameluque - PMDB diz estar estarrecido com o deslocamento do PT da área política para a área criminal. Para ele, os últimos delitos confirmados pela CPI mista dos Correios demonstram que o país vinha sendo surrupiado de forma inusitada e com uma voracidade jamais experimentada ao longo da nossa história republicana.

- Foi um assalto. Resta agora saber a procedência de toda essa dinheirama manipulada pelo PT. Porém, tudo precisa de mais detalhamento para que não ocorram pré-julgamentos. Mas os culpados devem ser punidos de maneira veemente.

O vereador, presidente da CLI que apura denúncias de desvio de dinheiro nas obras do Mocão (estádio municipal), acredita que os escândalos acabarão exigindo um posicionamento do presidente Lula.

- Penso que as investigações deveriam chegar a Lula. Está difícil para o povo acreditar que o presidente não sabia de nada do que ocorria na sua ante-sala, onde a corrupção foi plantada. Não acredito na isenção de Lula - completa.

Athos não teme, embora não acredite, que os episódios culminem num processo de impeachment de Lula, decisão que permitiria a ascensão do vice-presidente, José Alencar. Mas defende que o país estaria preparado para uma transição, ainda que extraordinária, sem o receio de uma ruptura institucional.

- José Alencar é o político mais adequado para o Brasil neste momento. Mas acho que Lula continuará no cargo até o fim do seu mandato, até porque a oposição não deseja vê-lo despejado do palácio do Planalto.

CRISE A SERVIÇO DA OPOSIÇÃO

Lipa Xavier - PCdoB também acredita que a oposição não deseja derrubar Lula, mas mantê-lo frágil no governo como estratégia para vencer as eleições do ano que vem.

- Partidos como o PSDB e o PFL que representam a elite conservadora do país jamais engoliram a subida de Lula e do PT ao poder. Apesar de não pretender a queda de Lula, essa oposição fará de tudo para minar a possibilidade de o ex-torneiro mecânico concorrer a um segundo mandato em 2006. Eles usam a crise para desestabilizar o governo federal - ressalta.

Para Lipa, o processo de impeachmen não seria opção para os opositores de Lula porque poderia trazer conseqüências ainda mais graves para a normalidade do país.

- Um processo de impeachment é complicado e não interessa à oposição pelo fato de poder gerar uma quebra das normas, afundando o país numa crise institucional, da qual ainda estamos livres. Uma crise que ameaçaria a realização das eleições do ano que vem, inclusive, afastando a possibilidade de os opositores tentarem retornar ao poder.

O vereador também manifesta seu receio de que a crise política possa ganhar contornos ainda mais preocupantes com a sucessão de denúncias que chegam à CPI mista dos Correios.

- A crise tem uma dimensão ainda incalculável. Novas acusações estão sendo esperadas e elas podem levar à degola muitas pessoas que nem imaginamos também serem atores das falcatruas. Também acho que as investigações não pouparão o presidente, que no mínimo precisa dar explicações sobre os erros de sua administração.

O DESENCANTO COM O PT

Fátima Pereira - PTB revela estar triste com o que assiste no cenário da política nacional. No entanto, torce para que os acontecimentos, por mais graves que sejam, sirvam para demonstrar que o país está amadurecido para superar ameaças de desestabilização, de ingovernabilidade.

- A democracia, em meio a toda essa imundície precisa sobreviver. Precisamos ser fortes neste momento crítico que ameaça nossas instituições. É nossa obrigação exigir que tudo seja apurado, e que os culpados sejam exemplarmente punidos. A democracia que conseguimos com muita luta não pode ser liquidada por um bando de desonestos - afirma.

Fátima também lamenta que a crise oriunda do congresso nacional esteja estendendo seus tentáculos país afora, manchando ainda mais a imagem do político brasileiro (tido como um dos mais corruptos do planeta, de acordo com a Organização das Nações Unidas), levando a população a imaginar que todos eles são iguais. Ele alerta que as pessoas precisam saber diferir os maus dos bons políticos.

- A sociedade brasileira não pode jogar todos os políticos na vala comum. Conscientemente ela deve separar o joio do trigo.

A vereadora, que é vice-presidente da câmara, diz estar desencantada com o governo Lula, do qual esperava uma solução para o país e não o agravamento de seus defeitos, principalmente éticos e morais.

- Vejo com desencanto o governo de Lula, cuja credibilidade evaporou como água – diz ela, lembrando que a decadência do governo petista começou a ruir a partir do momento em que Maurício Marinho, funcionário dos Correios foi flagrado aceitando propinas.

- Tudo começou por causa de três mil reais, até alcançar cifras fabulosas e não sabemos onde vai terminar.

Fátima Pereira conclui reiterando que os brasileiros precisam ser enérgicos na cobrança da verdade. Para ela, independentemente do resultado, e de quem ele envolva, as investigações devem ser feitas de forma rigorosa, acompanhadas de perto pela sociedade.

- Precisamos estar atentos na hora de cobrar. Mostrar maturidade para reivindicarmos mudanças na condução do país sem que o estado de direito seja ameaçado. O Brasil deve ser passado a limpo, antes que nossa ainda incipiente democracia seja jogada no lixo por um bando de pessoas do mau.

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