Por Luis Cláudio Guedes
O presidente da Câmara de Vereadores de Manga, José de Sá Elvira (DEM), demitiu, na quinta-feira (30), o diretor-executivo da Casa, Moisés Santos Magalhães. A portaria que exonerou Magalhães é parte dos desdobramentos do escândalo que deixou a população da cidade estarrecida. Pivô da crise, Moisés Magalhães compareceu à Coordenadoria Regional da Defesa do Patrimônio Público e Ordem Tributária do Norte de Minas, em Montes Claros, um dia antes da demissão, na quarta-feira, quando denunciou o vereador José de Sá Elvira de participação em suposto esquema de corrupção no comando do legislativo.
- Ele me exonerou porque eu revelei o esquema de corrupção na Câmara de Manga. Não queria que as coisas tivessem chegado ao ponto que chegaram, mas agora não tem mais jeito. Vamos pedir a cassação do mandato dele e sua expulsão do partido - diz um Moisés relativamente sereno diante do tamanho da confusão em que está metido.
O presidente em exercício da comissão provisória do Democratas em Manga, Hugo da Mota Miranda, que é filiado ao PSDB, foi o responsável por trazer a público os supostos atos praticados vereador José de Sá. Mota já tem pronta a denúncia em que pede seu afastamento imediato da Presidência da Casa. O documento foi redigido pelo advogado Fábio Oliva, ligado ao ex-prefeito e novamente candidato Joaquim de Oliveira, o Joaquim do Posto. A entrada de Oliva no caso foi a pedido da bancada de oposição, ligada ao Joaquim do Posto, que diz já ter número de votos suficiente para afastar o presidente do cargo.
A denúncia deve ser protocolada ainda esta semana na Câmara de Manga, mas os prazos só começam a contar após o fim do recesso legislativo, na primeira semana do mês de agosto. Segundo a denúncia, o presidente José de Sá promoveu Moisés Magalhães, em outubro do ano passado, para o cargo de diretor-executivo com o compromisso de receber um ‘mensalinho’ no valor de R$ 500.
CHUMBO TROCADO
Réu confesso em pelo menos dois crimes, Magalhães disse ter sido coagido pelo ex-chefe para fazer os depósitos sequenciais de parte do salário na conta do presidente entre os meses de outubro de 2015 até este mês junho, quando o esquema foi denunciado por meio de notas oficiais divulgadas por Hugo Mota. Segundo Moisés, a mesada por José de Sá era destinada ao pagamento de uma funcionária ‘avulsa’ da Câmara, com quem o presidente engatou um romance.
A confusão que coloca em lados opostos o ex-correligionários democratas Hugo Mota e José de Sá é reação à tentativa do presidente da Câmara em tomar a direção do partido no município. O vereador chegou a visitar a sede estadual da agremiação para tentar extinguir a comissão provisória presidida interinamente por Hugo Mota, que não gostou da autonomia do vereador. A resposta de Mota veio com a divulgação de ‘notas oficiais’ em redes sociais e para veículos de imprensa da região, em que acusa o presidente da Câmara de corrupção e improbidade administrativa.
Hugo Mota chegou a estipular prazo de 48 horas para a renúncia do presidente, que acabou não acontecendo. Antes disso, o presidente do DEM ligou para familiares e amigos do presidente da Câmara, com pedidos de que o convencesse a desistir do mandato. Em lugar da renúncia, José de Sá optou por demitir Moisés Magalhães, no último do prazo permitido pela Lei Eleitoral para exoneração ou nomeação de servidores públicos - o último dia útil do mês de junho. A reação de Hugo Mota para a demissão do amigo Moisés Magalhães deve ser a expulsão do partido do vereador José de Sá, que alega ter feito um empréstimo de R$ 3 mil para o ex-assessor.
Os depósitos que Magalhães diz ter feito em sua conta seriam, segundo o vereador, a quitação das parcelas da dívida. O ex-servidor da Câmara rebate com outra denúncia grave: o presidente Zé de Sá teria forjado um contrato para justificar os pagamentos, além de ter obrigado o então diretor-executivo a assinar promissórias para assunção do empréstimo. Mais uma vez, segundo Moisés, ele foi obrigado a assinar os documentos falsos sob ameaça de demissão.
Procurado, o vereador José de Sá não retornou aos contatos. Ele tem dito a pessoas próximas que tem como provar o empréstimo ao ex-diretor Moisés Magalhães e promete acionar Hugo Mota judicialmente em ação de calúnia e difamação. Renúncia, segundo uma fonte, é a última coisa que passa pela cabeça do presidente da Câmara.