
Após travar verdadeira queda de braço com os professores da rede municipal de ensino, impondo a eles uma situação crítica nos últimos dois meses, sem o pagamento de dezembro e de rescisões, o prefeito Humberto Souto (PPS) anunciou ontem o pagamento ao qual a categoria tem direito.
Os valores – que somam R$ 12 milhões – serão quitados hoje, em uma única parcela, de acordo com o líder do Executivo, que convocou uma coletiva ontem para falar sobre a decisão.
Sem a presença da categoria durante o pronunciamento, Souto não perdeu a chance de ironizar. “Professor não é emprego, mas sacerdócio” e disse que os profissionais efetivos “se acomodaram”.
Souto também dividiu a responsabilidade de toda a situação com os 11 vereadores presentes. Criticou o governo do Estado e tachou o movimento do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Sistema Público Municipal de Montes Claros (Sind-Educamoc) como articulação “não de professores, mas de meia dúzia de políticos”.
AÇÃO
Para quitar os débitos com os servidores de ensino a prefeitura diz que vai utilizar recursos do Tesouro. Como O NORTE mostrou em edições anteriores, o município possuía dinheiro em caixa e, mesmo assim, se recusava a utilizá-lo para pagar a folha da educação.
Na última prestação de contas, realizada na Câmara de Vereadores em 27 de fevereiro, foi apresentado um saldo de quase R$ 100 milhões, segundo balanço dos últimos quatro meses de 2018.
Apesar da cifra, Souto continuava insistindo no discurso de que o responsável pelo atraso no pagamento dos professores era o governo do Estado, em função da falta de repasses de verbas do Fundeb de 2018, no então governo de Fernando Pimentel (PT).
Em função disso, Souto também anunciou ontem que irá entrar hoje com ação na Justiça para obrigar o governo mineiro a repassar os recursos para a prefeitura, “sob pena de prisão”.
DEMORA
Representante de mais de 4 mil servidores, o Sind-Educamoc lamentou que o chefe do Executivo tenha “demorado tanto tempo para cumprir sua obrigação”. Lembrou que a falta de compromisso do prefeito, “que culminou inclusive com o afastamento do então secretário de Educação, Benedito Said”, causou enorme problema aos professores, “que acumularam dívidas e muitos chegaram a recorrer a empréstimos e agiotas”.
A direção da entidade representativa afirmou que o pagamento anunciado ontem “não vai apagar da memória de milhares de famílias o choro derramado nesses dois meses, quando o prefeito Humberto Souto chegou a usar a Guarda Municipal e até mesmo o Grupo Tático Ambiental, a chamada tropa de choque, para impedir a ocupação de seu gabinete”.
MOBILIZAÇÃO
Mobilizados há mais de dois meses para terem os direitos garantidos, os professores fizeram protestos em frente à prefeitura, na Câmara de Vereadores e chegaram até a invadir o gabinete do prefeito.
O ponto mais crítico da batalha ocorreu na primeira quinzena de fevereiro, quando dirigentes do Sind-Educamoc passaram duas noites no gabinete do prefeito Humberto Souto.
Cumprindo ordens, os integrantes da Guarda Municipal cortaram a energia elétrica para impedir o carregamento de celulares e até mesmo o acesso aos banheiros, obrigando as mulheres a fazerem as necessidades fisiológicas nos vasos de planta do terceiro andar.
O Sindicato dos Trabalhadores frisa que o pagamento dos salários de dezembro de 2018 não significa o fim da mobilização da categoria.
A reportagem procurou a assessoria do governo do Estado, mas não conseguiu retorno até o fechamento desta edição.