ZÉ AMORIM E A GORJETA SUSPEITA

Jornal O Norte
02/02/2008 às 09:10.
Atualizado em 15/11/2021 às 07:24

Itamaury Teles


Escritor

Convidado pelos irmãos Zé Ricardo e Nélson Santos para um passeio na fazenda Tapera,  Zé Amorim só colocou uma condição: só iria se o  Dr. Propércio Gomes também fosse, pois estava com receio de sentir-se mal e morrer sem assistência. Não houve qualquer obstáculo à ida do médico. Ao contrário, tanto Zé Ricardo quanto Nélson gostaram da exigência, pois Propércio, além de primo deles, conhecia todo o repertório de causos do Zé Amorim e aquilo transformaria a viagem em algo muito agradável.

Saíram por volta das 10 da manhã, em uma camioneta Veraneio, em direção ao município de Riacho dos Machados. Almoçaram um franguinho ao molho pardo, na Pensão de Maria do Pulo, e cochilaram um pouco numa rede sob um pé de manga. Lá pelas 3 da tarde, seguiram viagem, com Zé Amorim contando seus casos, sempre solicitados pelo Dr. Propércio, que sabia de todos, de cor e salteado.

Zé Ricardo, para cortar caminho para a fazenda de seu pai, entrou em uma enorme plantação de eucalipto. Rodou, rodou e, depois de duas horas dentro do reflorestamento homogêneo, viu que estava perdido, pois notou que andava em círculo.

O dia começava a escurecer, naquela mata fechada. Até Nélson, que é muito tranqüilo, começou a dar sinais de impaciência e preocupação, empurrando insistentemente os óculos com a ponta do dedo indicador.

Dr. Propércio e Zé Amorim começaram a perceber que as piadas e causos contados não estavam tendo boa aceitação. Algo estranho estava acontecendo.  O que é, o que não é e Zé Ricardo parou a Veraneio e começou a coçar a cabeça...

-  Que foi, Zé Ricardo? Algum problema? – indagou Zé Amorim.

-  Acho que estamos perdidos, Zé...

-  Ave Maria! Deus que me livre de nós perdidos nesse mundo véio de pé de eucalipto! Ainda bem que o Dr. Propércio está aqui pra me acudir, caso o coração comece a ratear e bater pino – assustou-se Zé Amorim.

-  Fique tranqüilo, Zé.  Zé Ricardo tá brincando com a gente – amenizou o Dr. Propércio.

Enquanto estavam ali naquela afobação, aparece, do meio do mato, uma mulher equilibrando um feixe de lenha na cabeça. Zé Ricardo não teve dúvida e indagou àquela senhora sobre a melhor saída para a fazenda Tapera.

-  Cês tá perto. É só rompê inté aquel ocalipo mais grosso e virá que ocês sai na rodage qui vai pra Tapera de Majó...

Zé Ricardo, aliviado, não teve dúvidas. Meteu a mão no bolso e retirou uma nota de 50 reais e a deu à mulher, em retribuição àquela informação tão importante.

Quando Zé Ricardo acelerou o carro na direção indicada, Zé Amorim o advertiu:

- Como é que você faz uma coisa dessas, com uma mulher que nos ajudou, Xará?

-   Que foi Zé Amorim, você achou pouco o dinheiro que eu dei a ela?

-   Ao contrário. Você deu demais!

-   E o quê que tem? Ela não nos deu uma boa informação?

E do alto de sua vasta experiência de vida, vendo sempre além do além, Zé Amorim pontificou:

-   Aí é que tá. Você acha que o marido dela vai acreditar que ela ganhou 50 reais DANDO APENAS informação pra gente? Raciocina, Xará!...

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