Paulo César Gonçalves de ALMEIDA (*)
YVONNE DE OLIVEIRA SILVEIRA é, sob todos os aspectos, mulher e mestra singular e extraordinária. Testemunha e, ao mesmo tempo, uma das mais insignes personalidades públicas deste grande e vasto mundo nos séculos 20 e 21.
Nascida nesta Terra de Figueira, em tenra idade já declamava versos, mesmo diante de platéia imensa. Ainda mocinha, foi para Francisco Sá, onde encontrou o amor de sua vida, Olintho da Silveira, par perfeito que se completa até hoje, como letra e música de cântico celestial.
Na década de 1960, quando a educação superior ainda engatinhava em Montes Claros e no Norte de Minas, participou ativamente, tornando-se prócer e passo imprescindível desta caminhada rumo ao que é hoje a Universidade Estadual de Montes Claros, a nossa Unimontes.
Entre os gregos sábios era comum ocupar as agoras, praças amplas, para reuniões e debates, onde o povo comparecia para ouvir e aprender, recebendo ensinamentos filosóficos, científicos e práticos para a vida.
Com certeza, se Yvonne Silveira - Professora Emérita da Unimontes e Presidente da Academia Montes-clarense de Letras – pertencesse àquela época, seria ouvida com a atenção que as profetisas merecem. Seria levada de praça em praça, numa liteira ou carruagem ornamentada com folhas de louro, para declamar poemas, concluir um livro, revelar as entrelinhas de um papiro mal conhecido dos simples mortais.
Numa época em que as mulheres não tinham a liberdade e participação garantida na vida socioeconômica, como hoje é possível, já declamava versos em público, estava na sala de aula, corrigia textos, escrevia história, fazia história.
Viu a energia elétrica chegar a Montes Claros e a Francisco Sá, para onde se mudou muito jovem, devido à falência do pai farmacêutico, um dos mais respeitados à sua época e, talvez, por isto, vítima de perseguição velada. Era época de bate-paus e de jagunços.
Foi testemunha da chegada do trem de ferro, com apito na curva, trazendo Mário Viana, que seria vítima de atentado nestes Montes Claros, o que iniciou a Revolução de 1930. Aqui, também se lembra da água encanada surgindo como novidade para abastecer algumas casas.
Foi testemunha de grandes avanços, como a chegada do telefone, da televisão. Passaram por ela mais de 15 prefeitos, alguns bispos. Viu e participou da criação do ensino clássico, técnico, primário, superior. É crítica aguda, ao mesmo tempo em que é terna conselheira. É escritora que bebe da fonte clássica e valoriza o texto popular. É professora.
Intelectual brilhante e educadora inigualável, essa grande montesclarense e mineira tem oferecido, ao longo dos últimos noventa anos, lições que devem servir de inspiração a todos: uma trajetória de vida marcada pela retidão mais absoluta, a denúncia corajosa das desigualdades e a coerência de toda uma vida de luta por um Brasil mais justo.
Assim, a escolha dela como patrona-geral das solenidades unificadas de colação de grau realizadas pela Unimontes em dezembro último, foi e é fruto, sem dúvida, do profundo reconhecimento por parte daqueles que tiveram a oportunidade e a satisfação de conviver com a nossa homenageada; do seu talento administrativo; da fecundidade de sua reflexão filosófica; e de sua imensa generosidade.
A professora Yvonne de Oliveira Silveira, ou simplesmente dona Yvonne como é carinhosamente chamada, sabe reunir, como poucos e poucas, o talento acadêmico e as virtudes da ética, da honestidade e – afirmamos também – da simplicidade. E sabe traduzir essas qualidades em uma dedicação singular ao esforço de entender melhor os problemas de nossa realidade e de buscar caminhos construtivos para resolvê-los.
Sempre fez isso com impecável rigor e precisão conceitual, sem nenhuma concessão ao status quo, sem nenhum conservadorismo. Mas também com a noção de que denunciar as mazelas é apenas o ponto de partida e que é imperativo usar o conhecimento para construir algo positivo.
Oxalá estejamos nós – a quem compete levar adiante esta história –, à altura da magnitude intelectual e da grandeza moral da nossa mestra Yvonne Silveira, para que possamos nos dedicar com carinho ao belo legado que ela nos tem transmitido. E quiçá, novos talentos surjam para percorrer a história vindoura da Unimontes e da educação em Montes Claros e nas regiões Norte, Noroeste e Vales do Jequitinhonha e Mucuri.
(*) Reitor da Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES