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Sexta-Feira,20 de Setembro

Vila risonha

Jornal O Norte
30/11/2009 às 11:03.
Atualizado em 15/11/2021 às 07:18

Por e-mail, a acadêmica Maria da Glória Caxito Mameluque consultou-me sobre a possibilidade de prefaciar seu novo livro, agora sobre a história de São Romão, sua terra natal. Confirmada a viabilidade ela deixou os originais no Café Galo, no Quarteirão do Povo, com um agradecimento antecipado e uma explicação, que não seria necessária.

A ilustre presidente da Academia Feminina de Letras de Montes Claros em verdade honrou-me com o pedido. A satisfação em atendê-la também veio vinculada à minha dedicação àquela cidade ribeirinha. Assessorei a Câmara Municipal de São Romão, quando da elaboração da Lei Orgânica do Município e, por um ato de liberalidade dos ilustres vereadores constituintes, foi-me outorgado o título, que muito me enobrece, de Cidadão Honorário, pelo que me considero conterrâneo da insigne autora, e integrante da história contemporânea do Município.

Com acerto Maria da Glória Caxito Mameluque define o ponto alto da história antiga de São Romão como sendo a Conjuração do São Francisco, que ela denomina de “Revolução do Sertão”.

Em artigo anteriormente publicado dei ciência que os barranqueiros do Rio São Francisco, revoltados contra os pesados tributos, bem antes da Inconfidência Mineira, saíram da conspiração silenciosa para a ação militar. Com forte contingente de homens armados, Maria da Cruz, Domingos do Pardo e Oliveira, Pedro Cardoso, André Gonçalves de Figueira e outros chefes subiram o rio em barcas para o confronto armado com as forças da coroa portuguesa, em busca da liberdade. Relata Diogo de Vasconcelos que na Semana Santa de 1736, em abril, a família Cardoso reuniu-se em Morrinhos, onde foi idealizado o plano de invasão de Vila Rica, então capital da Capitania, para expulsar o governador Martinho de Mendonça.

Maria da Glória Caxito Mameluque, como co-autora e organizadora, registra, na fala introdutória, uma realidade, que a todos nós, preocupados com a preservação da história, constrange: a perda gradativa da tradição oral, uma fonte fidedigna. Pela tradição oral, por ser ela um testemunho do que foi visto e ouvido, preservam-se as pequenas histórias, as lendas, os usos e costumes, que são passados de geração a geração. Ela transmite ao historiador a identidade cultural de um povo.

É sempre bom lembrar que História é a ciência que estuda o homem, o ser humano, no tempo e no espaço, tendo como precursores especialmente Heródoto, Tucídides e Hecateu de Mileto, historiadores da Grécia Antiga.

O livro “Vila Risonha – História, tradições e lendas” é, em verdade, uma antologia histórica. Como organizadora Maria da Glória Caxito Mameluque traz à luz da publicidade trabalhos elaborados por ela, pelo frei Pedro Caxito e por José Natalício Palma.

Maria da Glória Caxito Mameluque, criando a Introdução, esclarece que escrever um livro sobre a história de São Romão era um sonho acalentado “há muitos e muitos anos”. Ela relembra passagens de sua vida e de suas visitas à terra natal com este objetivo, em busca de subsídios. Cita Antônio Emílio Pereira, Brasiliano Braz e Diogo de Vasconcelos.

José Natalício Palma, o poeta Natinho, por mais de vinte anos preservou trabalho seu elaborado com “Cantos, Encantos e Recantos de Vila Risonha”, que traz apresentação do imortal João Torres e opinião de Benedito Caxito. Uma história poeticamente bem cantada, com detalhes que não poderiam faltar a um relato histórico. Adorei. No Prefácio vou ter oportunidade de comentar esta importante parte do livro.

Em “São Romão”, parte integrante da obra lítero-científica, frei Pedro Caxito, relembrar sua vinculação a São Romão e comprova a existência de seis santos com o nome de São Romão. Ele adentra de forma objetiva nos fundamentos da história, citando Urbino Viana, Carlos Ottoni, Nelson Viana, Teodoro Sampaio, Alfredo dos Anjos, Geraldo Rocha, M.Cavalcante Proença, engenheiro Halfeld, Richard Burton, Wilson Lima Bastos, Francisco Tavares de Brito Sevilha, sem se esquecer da ficção de Guimarães Rosa, que embora não seja história, integra o Sertão. A contribuição do frei Pedro Caxito é uma descrição histórica e uma apresentação geográfica da região.

É construtivo ler “Vila Risonha – História, tradições e lendas”, como forma de aprendizagem, por nos levar ao encontro dos elementos da existência regional, que se encontram nas realizações dos nossos antepassados, especialmente porque os três autores constroem o passado histórico de São Romão vinculados à concepção idealista de Friedrich Hegel.

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