Logotipo O Norte
Sábado,11 de Janeiro

Vamos comer maxixe

Jornal O Norte
Publicado em 01/11/2010 às 11:15.Atualizado em 15/11/2021 às 06:42.

Alberto Sena


Jornalista



Desde muito tempo adoto o axioma inventado por um clarividente: ‘tanto pode morrer de fome quem não tem comida como quem a tem e não sabe comer’. Assim como é importante investir na alimentação ‘para economizar o médico, a farmácia e o hospital’.



Frutas, legumes e verduras diversificados, todos os dias, além, claro, de castanhas – do pará, nozes, amendoas, linhaça, granola, aveia etc. – parecem ser o que há de mais saudável. Afinal, as vitaminas, proteínas, sais minerais e tudo mais que o organismo necessita estão nos alimentos. Não nas farmácias.



Para eleger, entre outros, um alimento que, suponho, seja pouco consumido no dia-a-dia, refiro-me ao maxixe. Quem come maxixe aí, levanta o dedo.



Quando criança, na casa de dona Elvira, em Montes Claros, comer maxixe era um horror. A começar da aparência da hortaliça, vendida no Mercado Municipal, naquele inigualável casarão, com um relógio do tipo ‘cebolão’ na torre parecido com as miniaturas que os nossos pais usavam na algibeira, palavra que sempre achei esquisita.



Fato é que maxixe era esquisito tanto quanto algibeira. A diferença era maxixe ter rabinho e arremedos de espinhos inconsistentes. Dentro do maxixe as sementinhas – aaarrrgueee! – eram purgante.



Purgante de antigamente, porque hoje em dia, purgante é totalmente diferente. Pode ser adquirido em comprimidos, estes, sim, na farmácia, e com gosto de frutas diversas.



Maxixe é alimento tradicional no Nordeste. Por aqui, por estas plagas, e pelo Brasil da parte de baixo, a hortaliça é pouco conhecida e, ‘por via de consequência’, pouquíssimamente consumida. O que é uma pena, porque maxixe é de grande importância na alimentação.



Originário da África, foi introduzido no Brasil pelos escravos. Maxixe é uma ‘Cucurbitacea’. Entendeu? Se não, vai entender. É da mesma família da abóbora, pepino, melão e melancia. É rico em sais minerais, principalmente zinco. Tem poucas calorias.



Segundo os mais respeitados nutricionistas de plantão, o maxixe contém também cálcio, fósforo, ferro, sódio, magnésio, vitamina C, complexo B e beta-caroteno (provitamina A).



O tal ajuda a evitar, segundo os entendidos, alguns problemas como de próstata; auxilia a diminuição dos depósitos de colesterol, elimina as manchas brancas das unhas e ajuda a cicatrização de ferimentos internos e externos, dizem.



No Nordeste brasileiro comem-se a ‘maxixada’. É quando o nosso personagem é cozido junto com carnes, abóbora, quiabo e temperos. Cru, o maxixe pode ser usado na forma de salada, em substituição ao pepino.



‘Maxixes’ surgiu a partir de 1880. Não a hortaliça, mas o ritmo de dança que leva o mesmo nome. Se o fruto fosse coisa ruim, será que alguém ousaria batizar uma dança com esse nome?



‘Maxixes’ – o ritmo, não o fruto – definido como ‘gênero autônomo’, acabou contaminado pelo preconceito ‘em relação ao baixo nível social em que surgira’, os forrobodós ou bailes populares também chamados de ‘maxixes’.



O escritor mineiro Humberto Werneck conta em ‘O Santo Sujo – a vida de Jayme Ovalle’ que no governo do presidente Afonso Pena (1906-1909) o ritmo ‘maxixes’ não podia ser executado pelas bandas militares porque o ministro da Guerra, Hermes da Fonseca, proibira.  



Hoje, pouco se ouve dizer sobre o ‘maxixes’ – o ritmo, não o fruto – que até o início do século passado continuaria sendo cultivado musicalmente, mas muitas das vezes travestido de nomes como ‘tango ou tanguinho’.



Infelizmente, não tenho argumentos para defender o ‘maxixes’, o ritmo musical. O alimento defendo-o com todos os dentes. É rico pra chuchu. Chuchu, que também é riquíssimo.



Maxixe é tão rico quanto o pepino, que, de ‘problema’ nada tem. E aposto: entre os que leem estas linhas não há quem saiba porque pepino virou denominação de ‘problema’, quando de fato é solução. Assim como o maxixe – o fruto, não o ritmo musical.



Se quando criança o sexagenário aqui soubesse da importância do maxixe, do chuchu e do pepino, estaria comendo uns e outros no almoço e no jantar desde cedo.



E sem fazer caras e bocas feias.

Compartilhar
E-MAIL:jornalismo@onorte.net
ENDEREÇO:Rua Justino CâmaraCentro - Montes Claros - MGCEP: 39400-010
O Norte© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por