José Wilson Santos
Jornalista
zewilsonsantos@hotmail.com
Em meados do século passado, o bom e velho Reginauro Silva já advogava que o homem deveria nascer com 100 anos e morrer no útero. Supimpa, a pérola é o supra-sumo da apologia à experiência como a melhor maneira de pobres mortais como nossotros aprendermos a dar algumas dentro.
Mas há controvérsias. Sempre há controvérsias. Fazer o quê, se às vezes o camarada não concorda nem consigo mesmo? Tião Boca-de-Caçapa, por exemplo, torceu o nariz pra tese do Regi, por considerar que assim posto, de repente o formidável milagre da vida passaria a prescindir da colaboração da gente. E não é que Tião tem razão? O formidável milagre da vida teria alguma graça sem aquelas horinhas salutares que antecedem a fecundação?
Eis porque na animada mesa de boteco, seguramente o melhor lugar do mundo pra filosofar e divagar, experiência e bom senso racharam a turma quase ao meio. Quase, porque fique o senhor sabendo, teve também quem acha que acertos e desacertos estão muitíssimos mais pra sorte que pra experiência e bom senso.
Por isso sobrou até pra Deus, que não teria organizado bem a fila que distribuiu sorte. Muitos acham que alguns espertinhos entraram várias vezes na bicha, enquanto outros ficaram a ver navios. O que explicaria porque tanta gente nasce virada pra lua.
Grosso modo, pro senhor se situar na roda de boteco que discutiu a questão a cabo e ao fim da cerveja e da dobradinha com pezinho de porco, calabresa e feijão branco, parte da turma considerou que muita experiência não serve de ôrra nenhuma porque quando finalmente adquirida em sua plenitude a gente já virou o cabo da boa esperança e está a um palmo dos sete palmos. Ou seja: de que adianta o senhor saber como fazer direitinho, se não agüenta mais fazer?
Tiãozinho Boca-de-Caçapa sintetizou bem a coisa: “Onde é que já se viu um trem deste, rapá? Prefiro mil vezes não saber fazer direitinho e mandar ver, que saber como fazer e não poder fazer!”
Faz sentido, né mesmo?
Também há aqueles que consideram o bom senso a melhor base do fazer bem e bom. Carlão, o principal defensor dessa vertente, para quem o verdadeiro aprendizado está na observação aguçada, dá preciosa dica: “primeiro cê tem que ficar de olho em quem sabe fazer. Pega as manhas e depois mata a pau”.
Simples assim. Exceto pra Boca-de-Caçapa:
- Ah é, é? Quer dizer que eu devo levar um amigo junto comigo ao motel?
- Pôxa, Boca! Cê é burro pra dedéu! Num caso dessa envergadura cê leva só o bom senso!
Pois é.
Mas a quase maioria acha que tudo é uma questão de sorte. Explicam: de tanto as coisas acontecerem pra quem tem sorte, o Gastão adquire bom senso e experiência e acaba por fazer tudo direitinho.
Também faz sentido. Se bem que Vô considera sorte uma extensão do bom senso por parte de quem tem competência pra fazer as coisas acontecerem.
Pronto: juntou-se competência à experiência, ao bom senso e à sorte.
A bola está com o senhor. O que o senhor acha? Bom senso, experiência, competência ou sorte? Qual é a sua?
Do que realmente mais precisamos pra nos darmos bem nessa vida de altos e baixos?