Dener Versiani Kröger *

Volta e meia me envolvo com assuntos abarcando os idosos. Ao final das contas, será mesmo esta a melhor idade? Os novos afirmam ser a sua. Já os idosos saem em defesa da terceira idade alegando experiência.

Destarte, tenho como verdadeiro que os idosos nos tempos de hoje vêm sendo passados para trás. Alguns ainda insistem em afirmar que a melhor idade é a terceira, só que para fazerem o estremundondo recorrem ao viagra.

Para atravessarem a rua, se não tiver uma ajuda, fica lá estatalado, olhando eternamente para aquele bonequinho verde do sinal. Têm reserva garantida de assentos em ônibus, por não suportarem ficar de pé. Não pegam fila por não agüentarem a demora. Não têm direito – mas como? – de fazerem greve. Quando vão para o asilo ninguém os visita. Por outro lado, o governo estica a idade, que é para irem logo morrendo assim que se aposentarem e não ficarem comendo o benefício a que tem direito. Essa é boa.

Por todas essas afirmativas, ainda não apareceu quem inventou essa tal coisa de a melhor idade ser a terceira. Com certeza deve ter sido um idiota e grande engambelador de anciões.

Aposentadoria no Brasil é assim:

Paga durante trinta e tantos anos e não se vive nem dez como aposentado. Em média.

O único benefício ou privilégio que a galera da terceira idade tem é o constante do Código de Processo Penal.  Com a idade de setenta e lá vai fumaça poderão não ficar presos. Isso é demais.

Aqui nem precisa ser idoso para ser discriminado. Nos dias de hoje o bastante é ter a idade de 40 anos para não arruma mais emprego em lugar nenhum.

Tem até o caso de um amigo meu que, de tanto andar de déu em déu à busca de emprego, eis que, finalmente foi dar logo de testa num quartel do exército e, disparou:

- E aí moço!!, Tá fichando alguém para trabalhar?

- Cidadão!!! Aqui só entra com 18 anos, na sua idade só mesmo general.

- O desempregado: Tem problema não, estou desempregado mesmo, topo qualquer parada.

Hoje, me encontro no purgatório da terceira idade - ou seja - fazendo vestibular para a mesma.  Coisa fantástica neste teste é que ele não reprova. Ou passa ou morre. É. Sendo assim melhor mesmo é ser aprovado. Mas nada me desapropria em afirmar hoje que a melhor idade é a dos 20 anos.

Na vanguarda dos 20 anos estabelecemos uma vitória sobre menoridade. Dá para sonhar à vontade. Até conseguimos ficar acordados na festa do Pentáurea, jogar bola e lutar vale-tudo. Vigor sexual é a bola da vez, este então nem se fala. Nessa fase não existem doenças, já deixamos pra trás caxumba, coqueluche, varíola, sarampo e a eterna coleção de lombrigas. Podemos beber até cair, não haverá cirrose e (ela vai te esperar lá na tal da terceira idade) a ressaca será miúda.  

As preocupações com o futuro e com dinheiro existem, mas são bem menores e mais imediatistas. Raramente alguém nesta idade irá fazer um seguro de vida.(na terceira idade já vi caso até de consórcio funeral) Tudo é aventura e sorriso.

Já aos sessenta e tantos anos, é só levar uma gata para a cama que logo leva as mãos às cadeiras, para não deslocar a bacia. Sabe? É aquele andado de cavalo velhaco. Da maneira que deitar sente dor, é o ciático.

Se ela deitar por cima - aí pronto - falta fôlego e a vaca vai pro brejo, aliás, o pinto. Vencida estas barreiras, tudo deu certo, eis que surge o detalhe: e se o Viagra não funcionar? Melhor idade uma ova.

A palavra velho é muito engastada de preconceitos. Anos atrás velhice significava morte e passado. Exigia-se respeito às pessoas com 40 anos de vida, a sociedade exigia que a pessoa se desse ao respeito, ou seja, ficava chata e autoritária, os objetivos se preenchia a encher o saco dos outros. Estava fechando o seu ciclo da fertilidade. O casal deveria recolher-se. Casal sim, porque os solteirões eram muito mal vistos.

Os orientais são venerados pela experiência. Mas até por lá isso está mudando com a globalização e a introdução dos conceitos americanizados.

Ao se falar nesta tal de melhor idade ressaltam que os idosos tem muita experiência e conhecimento adquiridos,resumindo, sabedoria. É verdade, mas convenhamos, não fosse assim, quando a pessoa completasse certa idade, só teria como alternativa dar um tiro na cabeça.

Ainda bem que nos dias de hoje a medicina e a tecnologia garantem muita qualidade de vida para os idosos, que podem viver muito, e bem, em boa parte dos casos. No Brasil, como em tantas outras coisas, a velhice também é um grande problema, porque a maioria da população recebe aposentadorias miseráveis, não conta com infra-estrutura social adequada, e não consegue nem comprar os remédios necessários.

Está com toda razão o que disse um dia meu professor de literatura - José Carlos Junqueira Maciel - lá na UFMG; dizia ele:

Vai assoprando velinhas, vai, e um dia verás no que vai dar.  

*Acadêmico de Direito e sócio honorário da Aclecia