Urbanização brasileira: considerações sobre a gênese das questões urbanas atuais

Jornal O Norte
14/12/2009 às 10:04.
Atualizado em 15/11/2021 às 07:20

Natalia Batista Vasconcelos *

No final do século XIX, o Brasil assistiu ao crescimento do fenômeno de urbanização de seu território, através das riquezas geradas pela agricultura e a mineração, iniciando então, a formação de uma rede de cidades. Porém, somente em meados do século XX, especificamente, a partir dos anos 40 é que se pode afirmar que houve um processo de urbanização propriamente dito, que aliado ao processo de industrialização e a instalação de rodovias, ferrovias e de novos portos, gerou a integração do território brasileiro ao mercado, estruturando assim, uma rede urbana nacional, que estruturada permitiu que o desenvolvimento das atividades econômicas de forma independente e esparsa por todo o território.

Todo esse processo iniciou-se após a Revolução de 1930 que levou Getúlio Vargas ao poder, e finalizou-se em meados da década de 70, e foi caracterizado pela concentração de investimentos do governo federal na infra-estrutura industrial (produção de energia e implantação de sistema de transporte) na região sudeste, que se tornou o grande centro industrial do país, e conseqüentemente, tornou-se também, o grande centro de atração populacional. A região sudeste passou então a receber migrantes de todas as regiões, que foram se concentrando nas periferias das grandes cidades, em locais totalmente desprovidos de infra-estrutura urbana, agudizando então o processo da questão urbana.

Aliado a industrialização do país, dois fatores contribuíram para atual questão urbana brasileira que foram: A mecanização do campo e a visão utópica dos migrantes rurais a respeito da qualidade de vida na zona urbana, que vieram para região sudeste sem experiência profissional e sem escolaridade, sendo obrigados então, a aceitar empregos mal remunerados, temporários ou informais para sobreviverem.

Habitavam, e atualmente, ainda são obrigados, a habitarem as periferias das grandes cidades, que são loteadas por favelas e moradias irregulares, ou então, loteamentos invadidos, desprovidos de serviços de infra-estrutura básica como saneamento básico, saúde, transporte, etc., surgindo então, “uma cidade clandestina produzida à margem da legislação urbana, se desenvolvendo em torno e no interior dos serviços públicos essenciais e seus moradores são cidadãos pela metade” 1

Para agravar a situação caótica desses centros urbanos, todo esse processo de urbanização coincidiu com o fim do período de expansão da econômica que o país estava vivenciando, fazendo com que essa situação viesse a se agravar, pois paralelo ao problema de habitação e falta de infra-estrutura urbana, foi acrescentado à problemática econômica que gerou desemprego e piora na qualidade de vida da população.

O que se via, e ainda hoje se vê, é um quadro urbano que reproduz de forma cruel as injustiças e desigualdades da sociedade, onde há uma imensa diferença entre as áreas centrais e as periféricas das regiões metropolitanas. Um quadro de contraposição entre uma minoria qualificada e uma maioria com condições urbanísticas precárias. Cidades que apresentam com características a divisão entre uma porção legalizada rica e com infra-estrutura e uma porção ilegal, pobre e precária, cujos habitantes não tem acesso às oportunidades de trabalho, cultura ou lazer, pois estas oportunidades de crescimento circulam nos meios daqueles que já vivem bem.

Entretanto, a problemática urbanística não é apenas fruto da desigualdade social ou do sistema capitalista que impõe ao mercado imobiliário impor barreiras para que a população menos favorecida tenha acesso a áreas cujo valor imobiliário é alto. O poder público é também, um agente responsável por essa situação, já que tem reforçado a tendência de expulsar os pobres da áreas bem localizadas, alojando-os em conjuntos habitacionais construídos em terrenos de menor valor e na periferia da cidade, normalmente, sem infra-estrutura básica.

Pode-se então concluir que a urbanização brasileira juntamente com o êxodo rural provocado pela mecanização do campo foram os grandes vilões responsáveis por transformar os grandes centros urbanos em centros caóticos, que ofereciam e ainda oferecem aos cidadãos urbanos uma vida marcada por habitações precárias, falta de acesso a infra-estrutura básica, emprego, transporte, saúde, cultura, oferecendo a estes, um espaço urbano dominado pelos agentes imobiliários que impõe investimentos direcionados para seus interesses e relegando os investimentos sociais, fazendo com que a população menos favorecida economicamente seja excluída da modernização.

2 MAGNOLI, Demétrio; ARAÚJO, Regina. A nova geografia: estudos de geografia do Brasil. São Paulo: Moderna, 1992.

* Natalia Batista Vasconcelos é graduada em Serviço Social pelo Centro Universitário do Triângulo. Especializanda em Gestão e Políticas Públicas pela Faculdade Católica de Uberlândia. Atualmente é Técnico Administrativo – Assistente Social, na Universidade Federal de Uberlândia/UFU, atuando na Divisão de Apoio ao Estudante, com as Políticas de Assistência Estudantil. Email: nataliabvasconcelos@yahoo.com.br

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